Um belo som de saxofone é um conjunto de fatores que estão agindo ao mesmo tempo na produção musical de um instrumentista.
É lógico que o som é importantíssimo, na verdade, fundamental, sem o primeiro andar de um prédio, não temos nenhum dos demais andares, porém, sem os demais andares nós não temos prédio.
É importantíssimo que saibamos que o som sozinho não faz nada, no máximo funcionará como uma buzina para assustar os outros. O som precisa ser direcionado pelo fraseado do saxofone.
O conjunto da obra som e fraseado é o que faz a beleza do que se entende por performance musical no saxofone. Só fraseado sem som, não existe. Só som sem fraseado é inútil.
O que é Som e o que é Fraseado de Sax
O que seria o som do sax? O som é a produção da matéria prima por meio da qual tudo é moldado, produzido e trabalhado no saxofone.
Muitos não possuem um som agradável, porém, possuem um fraseado considerável. Esta situação faz com que as pessoas toquem tudo o que tocam, às vezes até um repertório vasto, de qualquer jeito.
Muitos possuem som agradável, porém, não conhecem nada de construção interpretativa no saxofone, apesar de tocar, não sabem se expressar através de nenhuma música, ou pelo menos muito poucas delas e o fazem de forma rudimentar.
É preciso desenvolver ambas as áreas da música no saxofone, a saber, o som e o fraseado, por som entendo a sonoridade pura do sax, por fraseado entendo aqui todas as técnicas de modulação desse som.
Nessas técnicas de modulação do som estão inclusas a articulação, a acentuação, a dinâmica, os ornamentos, o dedilhado, ou ainda, para encurtar, o que quer que você fizer para se expressar através do som desse instrumento.
O Som do Saxofone
Falando exclusivamente do som, o sax é movido a som, de nada adianta você saber todas as escalas, todos os arpejos, todas as frases, todas as músicas, se o seu som não agrada.
O primeiro passo para quem está iniciando no sax é o som, de forma que é necessário produzir som para depois trabalhar o fraseado, assim como é necessário construir o fundamento do prédio para posteriormente trabalhar os demais andares.
Há sim alguns fatores que contribuem para a produção de um belo som de sax, o primeiro deles seria, sem dúvida alguma a maneira como controlamos e direcionamos a coluna de ar para dentro do instrumento.
A regularidade diária de estudo, a respiração, os voicings, a embocadura, e por fim o setup em si mesmo, tudo isso vai influenciar em certa medida o som do sax.
A Importante Automação das Técnicas do Saxofone
Um parêntesis sobre a automação no saxofone. É importante saber que todos esses detalhes que aprenderemos sobre a respiração, a embocadura, os voicings e tudo o mais que porventura for falado neste artigo precisam se automatizar aos poucos.
Pensamos para não pensar, ou seja, primeiro pensamos, fazemos, repetimos, desenvolvemos memória muscular, automatizamos, e assim não precisamos pensar mais.
Muitos podem entender as técnicas que passo como por demais minuciosas, e árduas de serem praticadas, talvez, num primeiro instante, o sejam de fato. Porém, com o tempo, à medida em que mais prestamos atenção nas mesmas, vamos automatizando essas técnicas.
Ao automatizar uma técnica, conseguimos trazer outras técnicas à consciência, e assim vamos acumulando automatizações, de sorte que, de fato, um músico gabaritado não pensa em nada disso que está sendo dito.
Certa vez, ao digredir sobre as técnicas de voicing para um aluno, ele começou a fazer-me uma crítica dizendo que o que eu pedia que ele fizesse era um malabarismo muito grande impossível de ser assimilado.
De fato, no início é impossível mesmo, mas à medida que vamos repetindo, automatizando pequenos elementos, e expandindo a técnica em meio a isso, as coisas ficam cada vez mais fáceis, de forma que chega um ponto que não precisamos mais pensar em nada, simplesmente fazemos.
O caminho sempre será tomar consciência para depois não mais preocupar-se com nada disso. Mas não que tenhamos jogado fora, pelo contrário, ainda estaremos usando, só que isso será automatizado de uma determinada forma que não precisaremos mais pensar.
Onde Começa o Som do Sax
O som do sax não começa na boquilha, é um erro crasso pensar que o som do sax começa na vibração da boquilha com a palheta, e na projeção dessa onda sonora pelo instrumento, o som do sax começa muito antes disso.
Chego a dizer sem possibilidade de erro que o principal para a construção do som do sax não está na boquilha, na palheta, no saxofone em si mesmo, ou em qualquer outra parte do setup, mas no próprio saxofonista.
O som do sax, poderia ser definido, embora seja um pouco arbitrária essa definição, como começando no momento em que o saxofonista inspira o ar.
Falo que esta definição de ponto inicial do som é arbitrária porque o som do sax é muito mais do que um fator físico que se desenvolve por um mecanismo físico no corpo e no saxofone, o som do sax é um fator espiritual.
Se você acorda bem num dia, se está animado com a vida, se está cheio de alegria por conta de um acontecimento qualquer, o seu som de sax será de um determinado jeito, é algo também espiritual.
O som do sax também sofre influência do ambiente em que estamos, do relacionamento que temos com as pessoas com as quais estamos tocando, do prazer ou desprazer de tocar para quem estamos tocando etc.
O clima, a humidade do ar, a temperatura, a sensação térmica do vento, tudo isso e muito mais influenciará no som do sax. Até mesmo porquê o som do sax é construído e não pronto como o som de um teclado sintetizador.
Mas vamos partir de um ponto arbitrário qualquer, a saber, o momento em que inspiramos o ar. Mesmo porquê se formos pesquisar a fundo onde começa o som do sax, certamente cairemos no desconhecido e na indefinição.
Isso para termos uma noção clara de que a idéia de que o som do sax começa na palheta e na boquilha é muito ingênua, o som do sax é muito mais do que isso, o som do sax é uma conjunção de fatores a perder de vista.
A Respiração do Saxofonista
Tomando de forma um tanto quanto arbitrária a idéia de que o som do sax começa no momento em que o saxofonista respira, temos que o ar entra pela boca no corpo e começa a ser processado.
É importante saber para onde levar esse ar, e o local certo para onde levamos o ar é a parte mais inferior do pulmão, visando com isso a capacidade de ter maior quantidade de ar, e também de ter maior controle desse ar, o que nos possibilitará alcançar um melhor som.
O ideal é que controlemos o ar pelo músculos do abdômen, ou seja, ao levar o ar para a parte debaixo do pulmão, expandimos o abdômen, e assim trazemos o diafragma que é um músculo involuntário para baixo empurrando os órgãos da barriga.
Aqui um esclarecimento necessário, o ar não vai para o diafragma, o diafragma é um músculo, outra coisa que é necessária ser dita é que não sentimos o diafragma, por isso muitos não conseguem localizá-lo.
O que sentimos de fato é o abdômen, por isso gosto muito mais de chamar a respiração correta do sax como respiração abdominal muito mais do que respiração diafragmática.
Apoiando a saída do ar no controle do abdômen, sendo assim, no diafragma, temos o controle desse maior estoque de ar que fazemos, e podemos produzir assim uma maior constância de coluna de ar, um maior impacto de som, o domínio das velocidades do ar, e também a dosagem exata da quantidade de ar que desejamos.
Não entraremos em muitos detalhes sobre cada item que mencionarei, porém, termos as diretrizes gerais de cada um deles, para que o artigo não seja por demasiado longo.
O que são Voicings
Os voicings são as formas por meio das quais projetamos a coluna de ar no instrumento. Chego a dizer que muito mais importante do que a embocadura para trazer beleza e naturalidade para o som são os voicings.
Essas formas são formadas pela cavidade bucal (língua, palato mole, palato duro) e também pelo que vem imediatamente antes disso, a saber, a garganta, a glote e faringe e tudo o que está englobado sessa região.
Os voicings servem para que tenhamos uma maior facilidade de produção sonora nos extremos do saxofone (pois eles variam de acordo com cada região do instrumento), servem também para que moldemos o timbre do sax de acordo com nosso gosto pessoal, para que afinemos o som, e também para que produzamos ornamentos e efeitos.
Um músico de saxofone que não conhece técnicas de voicing, ou as conheceu involuntária e inconscientemente, de forma a praticá-las ainda assim, ou certamente terá um timbre pobre de saxofone e muita dificuldade para afinar o som, além de dificuldades com os extremos.
Entre os exercícios de voicings, estão o uso de boquilha sozinha, tudel, harmônicos, trabalho de afinação com notas mais agudas do sax, e muitos outros que permitem o molde e o controle dos voicings. Os voicings são chamados por alguns de flexibilidade, e também de maleabilidade.
A Embocadura do Saxofone
Embora não seja o principal fator da produção do timbre do sax, é sem dúvida alguma um fator decisivo, visto que, por uma embocadura imprópria podemos arrasar o som de saxofone que possuímos.
Embocadura seria tudo aquilo que engloba os dentes, o lábio, a mandíbula, e também os músculos da face, essa parte mais externa da boca. É a maneira como acoplamos o material do instrumento ao saxofonista.
Precisamos saber como posicionar a embocadura, de maneira adequada, e não um simples posicionar, mas um formar da embocadura, pois embocadura não é uma questão de posição, mas de formação.
Embocadura não é força, é forma, e para manter a forma sem força, é preciso de um desenvolvimento dos músculos que a englobam. O objetivo da embocadura é em primeiro plano a estabilidade do som, com homogeneidade.
Porém, também é a desestabilização do som, na produção de efeitos diversos, e sonoridades das mais complexas no saxofone, é impossível, por exemplo, produzir um subtonado no saxofone sem desestabilizar a embocadura.
De forma que, assim como para começar a pintar um quadro produzimos uma tela em branco (estável e homogênea) depois que o fazemos começamos a trabalhar as diferentes nuanças de som, por meio de riscos, cores e manchas, que satisfazem assim o quesito artístico da coisa.
A Importância da Regularidade de Estudo
Tanto a respiração, quanto os voicings quanto a própria embocadura, englobam um grau muito grande de automação, e toda automação é produzida pela repetição, automação nada mais é do que memória muscular.
A memória muscular nossa é curta, se pararmos uma semana de estudar o saxofone perderemos muito do que já tínhamos conquistado no instrumento antes disso. De forma que precisamos manter a regularidade para poder desenvolver e aprimorar a nossa memória muscular.
O segredo de um belo som de sax é a prática distribuída, ou seja, uma dose diária de estudos, para o desenvolvimento da memória muscular, o que fará com que consigamos assim desenvolver um som bonito.
Sem regularidade, estudando tudo em um dia e nada nos demais, jamais desenvolveremos a memória muscular, estaremos apenas no nível da consciência, que não é o nível da execução, e não teremos nada automatizado no saxofone.
Dessa maneira a prática distribuída é muito mais importante do que a prática concentrada, e é, juntamente com a consciência de todos os fatores anteriores, um dos principais produtores de um belo som de sax.
Caso queira se aprofundar em exercícios de sonoridade, aconselho aulas diretas com a mentoria do professor, certamente estará no caminho certo para a conquista de um belo som de saxofone.
Também ressalto que no projeto do curso VIVAOSAX Básico há um módulo só sobre embelezamento do som, com todas essas dicas e muito mais sobre como produzir um belo som de sax, até mesmo porquê esse é o objetivo de todo saxofonista.
Daniel Vissotto