Som rasgado, som rouco, ou ainda o nome americano growl, no saxofone. Growl vem do inglês e quer dizer rosnar, ou seja, o saxofone simplesmente rosnando de raiva, é o efeito de que vamos tratar neste artigo.
A Capacidade de Expressão do Sax
É impressionante a quantidade de efeitos que o saxofone possui à sua disposição para poder se expressar, o saxofone é capaz de rir, de falar sílabas etc. e agora vemos que ele também é capaz de rosnar. Sim, rosnar, essa é a tradução direta do inglês da palavra growl, ou seja, o som rasgado, som rouco do saxofone.
Nem é preciso dizer que este efeito transmite uma certa ira do sax, um efeito que faz como que se o saxofone estivesse bravo, nervoso, irado, e falasse tudo o que estivesse falando com a voz alterada, rosnando, uma voz rouca e rasgada, que produz a idéia da raiva do instrumento.
Tudo isso no bom sentido, uma música sem um momento irado, uma música que não expressa um pouco de raiva no que faz não é uma música simplesmente espontânea. É preciso englobar todos os sentimentos humanos e é justamente isso que o saxofone faz com o growl.
Esse efeito é de fácil produção, por mais que pareça estranho dizer, pois possui muito efeito em quem ouve, naturalmente, se usado no momento certo, com comedimento, ele pode produzir um efeito violento em quem ouve, e trazer a impressão de que o músico sabe se expressar muito bem.
Onde Utilizar o Growl no Saxofone
Não é preciso falar que este efeito é utilizado mais em estilos musicais mais informais, como estilos populares como o rock, o blues, e todos esses estilos que exigem um pouco mais de força e violência na sua expressão. O growl também é utilizado em baladas pop quando o saxofonista quer expressar muita emoção.
O growl não teria utilidade, por exemplo, numa banda sinfônica tradicional, ou ainda numa orquestra mais voltada para uma música erudita. De sorte que é preciso saber exatamente em qual estilo estamos usando o growl e onde o estamos colocando.
Dita esta observação sobre os estilos, devemos saber que o growl é mais utilizado por solistas, geralmente em momentos que caminham para uma nota mais tensa, um momento de maior tensão na música. Uma nota aguda, uma nota dissonante, uma frase que caminha pra um acorde de tensão muito forte.
Por isso estilos como o blues, o rock entre outros casam tão bem com o growl, porque eles possuem acordes de muita tensão, mas o growl pode ser usado como um efeito, também, por outros estilos, inclusive o pop, quando queremos expressar mais e mais emoção naquilo que fazemos.
O Som Rouco Deve Ser Utilizado com Moderação
Como todo efeito de saxofone ele deve ser aplicado com comedimento, uma pitada de growl faz todo o efeito, porém, quando utilizamos de forma exagerada podemos entornar o caldo, e queimar o efeito, fazendo com que ele se torne cansativo e sem nenhuma novidade para quem ouve, de forma que passa a ser sem efeito algum.
Pior do que isso é quando começamos a fazer demais esse efeito, automatizamos isso e viciamos nele, o que certamente nos fará insuportáveis em termos de musicalidade. O growl é uma pitada de radicalidade, de ira, na sua música, se usado em demasia se transformará em algo de enfadonho e insuportável.
A Explicação do Som Rouco do Sax
A música é feita de som. O saxofone é um instrumento melódico, uma nota de cada vez, e cada nota dessas é um som emitido pelo sax, de forma que esse som é uma vibração. Sendo assim, todo som é produzido por uma vibração e o growl não é diferente.
A explicação para o growl é que, quando tocamos o sax, e produzimos a vibração tradicional na palheta do instrumento, passamos, subitamente a produzir uma vibração concorrente a essa, um som concorrente que caminha pelo mesmo espaço que o som original.
Essa vibração concorrente se mistura com a vibração da palheta e começa a brigar com ela, vindo assim a produzir, um efeito de alternância bem rápida, daí a rouquidão do saxofone, daí o sentimento de que o sax está com o som rasgado, o som rosnando, o que chamamos de growl.
O Som Rouco, Som Rasgado e Eu
Lembro-me do primeiro momento que fiz esse efeito no sax, a primeira forma que eu aprendi ele foi fazer com a garganta. Embora eu considere essa forma de se fazer o growl uma forma errada de se fazer, pois pode, se feito com persistência, vir a machucar quem faz, eu me alegrei muito quando consegui produzir o efeito.
Aqui uma ressalva muito forte, não utilize a garganta para fazer o growl, não vibre a garganta enquanto toca o saxofone, pois isso pode até mesmo te ferir internamente, em todo o seu sistema vocal, lembro-me de um baile que fiz há muito tempo atrás no qual, de propósito, por ser um baile anos 60 utilizei bastante o growl.
Ao terminar o serviço, estava exausto, e um fator se deu, dores muito fortes na garganta, como se estivesse com a mesma inflamada, talvez até estivesse, pois usei e abusei muito dela para produzir esse efeito, de forma que não aconselho que se faça o growl dessa forma, há duas outras maneiras mais eficazes e mais seguras de se fazer esse efeito.
Depois de utilizar por muito tempo a garganta para fazer o growl, ou seja, agir como se estivesse numa tosse perene, pigarreando constantemente, para produzir o efeito, percebi que havia outros jeitos menos invasivos de produzir o mesmo som, até um som mais interessante, e mais fácil de se controlar.
O Growl Vocal Produzido pela Voz
O primeiro deles é fazer o growl com a vibração da voz e não da garganta. Ou seja, produzir a vibração concorrente da vibração do som do sax (a vibração que seria da palheta na boquilha) cantarolando uma nota musical em conjunto com ela.
O sistema é parecido, porém, não desgasta a garganta, e depois que acostumamos a produzir dessa forma começa a ficar muito fácil, tão fácil que até mesmo corre-se o risco de se viciar no growl. Ao tocar o saxofone, seja qual for a nota, cantarolamos em conjunto com ele uma nota musical com a voz, isso produz duas ondas sonoras concorrentes.
Essas duas ondas sonoras concorrentes entram em choque e produzem o efeito do growl, o som rasgado, o som rouco, o som rosnado do saxofone, o growl propriamente dito, desta vez, feito de maneira correta, sem risco de se machucar.
Para começar a treinar isso é possível fazê-lo diretamente no saxofone, ou ainda com um passo anterior pelo próprio tudel do sax, antes de tocar no saxofone propriamente dito. O que devemos fazer para produzir nosso primeiro growl?
Primeiro devemos saber que não importa muito a nota que cantamos na voz, notas mais agudas na voz produzirão frequências mais rápidas do growl, notas mais graves produzirão frequências mais lentas, porém, tudo é growl, depende mesmo do grau de velocidade que você quer a alternância entre as ondas sonoras.
Não é preciso cantar muito alto, uma nota cantada discretamente com o sax dentro da boca, assoprando no instrumento já produzirá o efeito do growl, não é o volume da nota que faz o efeito, mas a presença de uma vibração concorrente.
Hoje, atualmente, essa é a forma pela qual me utilizo para produzir o growl, embora tenha acostumado a fazê-lo com a garganta, depois percebi que valia a pena treinar um novo jeito, pois assim não me machucaria mais, e aconselho que todos que produzem o growl com a garganta façam o mesmo.
Como Começar a Treinar o Som Rouco
Comecem cantando a tal nota com a voz, não importa muito qual nota seja. Depois emboquem o instrumento e continuem cantando a nota, depois disso, procurem ao mesmo tempo assoprar no saxofone com o som da voz. Isso produzirá automaticamente o som rouco, rasgado, o rosnado do saxofone, a ira do sax.
Com o tempo se adquire grande domínio disso, e conseguimos introduzir o growl em momentos específicos da música, que trazem grande efeito para quem ouve. No começo há sim um pequeno momento de estranheza, primeiramente porque não é um movimento natural, cantar e assoprar, mas aos poucos ele vai se naturalizando.
Após conseguir com uma nota só, vá para uma frase, tente fazer nas regiões extremas do sax, o growl se dá tanto no agudo quanto no grave, o growl é um recurso muito eclético que pode ser utilizado para uma grande variedade de momentos musicais.
O Efeito Abelhinha e o Growl
Outro jeito de se fazer o growl no saxofone, este eu utilizo muito pouco, mas é também possível de ser feito, é produzindo a vibração concorrente não pela voz, mas pela vibração dos lábios, como se estivesse tocando um instrumento de bucal.
Quase como se estivesse fazendo o que os instrumentistas de trompete chamam de abelhinha, ou ainda, o americano free buzz. Porém, como a boquilha estará no saxofone, o faremos pelos cantos da boca, produzindo assim a vibração concorrente da palheta que produzirá um growl refinado e sutil.
Essa forma de se fazer o growl é válida, não machuca, e também é muito utilizada por muitos, porém, ela é mais fácil de se viciar, principalmente iniciantes que não possuem firmeza e controle da própria embocadura.
Sobre o Som Rouco do Sax e os Iniciantes
Falando grosso modo não é muito aconselhável que iniciantes se ponham a fazer esses efeitos mil de saxofone antes que adquiram a famosa homogeneidade do som, a não ser que seja uma coisa por farra, apenas para testar, porém, estudá-los a fundo, não deve ser tarefa de iniciante.
O iniciante deve se preocupar mais com a homogeneidade sonora, como se estivesse limpando um quadro, tornando-o branco e vazio para poder, assim, com o tempo, pintar os efeitos mil em cima dessa tela em branco homogênea que ele construiu.
Não se pode pintar uma Monaliza em cima de uma Igreja Gótica, é preciso apagar da tela a Igreja Gótica, depois passamos aos poucos, na tela em branco, na homogeneidade, a construir a Monaliza do jeito que tem de ser.
O Segredo do Growl
Para concluir digo que é preciso saber que o que faz o valor do ouro é sua raridade. O que faz o valor do growl é o fato de ele aparecer pouco, se você joga growl o tempo todo numa música, além de estranho e difícil de ser ouvido, não fará mais efeito nenhum.
Estes são efeitos interpretativos, para você que quer aprender mais de interpretação, efeitos de saxofone, ou desenvolver sua capacidade de se expressar plenamente por este instrumento, eu aconselho aulas diretas com o professor, que pode te orientar quando começar a estudar esses efeitos a sério, e como aplicá-los com maior propriedade.
Daniel Vissotto