Me permitam compartilhar um texto de Aristóteles, o filósofo grego do século V antes de Cristo, sua linguagem é um tanto quanto distante, mas se olharmos com cuidado ele tem muito a nos dizer:
“O efeito que quem fala produz sobre um ouvinte depende de seus hábitos; pois requeremos a linguagem a que estamos acostumados e aquilo que é diferente disso não parece ao alcance mas um tanto ininteligível e estranho, porque não é costumeiro. Pois o costumeiro é mais inteligível (…). Algumas pessoas não ouvem quem fala, a menos que fale matematicamente, outros, a menos que dê exemplos; enquanto outros esperem que cite um poeta como testemunho. E alguns querem ter tudo precisamente determinado, enquanto outros se aborrecem com a precisão.” – Aristóteles [Metafísica II]
O que significa o pequeno texto de Aristóteles? Conseguimos entender melhor quando aquilo que é dito é dito da maneira como estamos acostumados a ouvir, pois reconhecemos mais facilmente as coisas das quais estamos acostumados, é mais compreensível (inteligível) pra nós a linguagem de nosso dia a dia, do que a linguagem especializada de um livro qualquer que não estamos acostumados a ouvir.
Logo, a compreensão de uma mensagem depende do costume de cada um. Isso se defende na frase seguinte, quando Aristóteles diz que as pessoas ouvem quem fala quando fala de determinada maneira específica destinada a cada ouvinte, uns matematicamente, outros, com exemplos, outros ainda, com um testemunho, e alguns de forma precisa, enquanto outros ainda se aborreceriam com a precisão.
A mensagem, seja ela qual for, depende de quem fala, e também de quem ouve. Diante disso, venho propor a seguinte questão: há uma só maneira de se ensinar? Uma só maneira correta de transmitir o conhecimento? Me admira que alguém pense dessa forma diante do fato de que todos somos diferentes, e todos temos um costume particular, de forma que, é impossível afirmar que há uma só maneira de ensinar, e uma só maneira de aprender.
Há muita gente boa na internet, há muitos grandes professores e músicos, muitos deles até mais reconhecidos do que eu mesmo, porém, me admira muitas vezes quando vejo alguns se proporem como o padrão de ensino musical universal ao qual todos os demais devem seguir a ponto de estarem cometendo um erro grave, e terem de ser corrigidos.
Ouço coisas como: “não ensine dessa forma, esta errado”. Ou ainda: “se o seu professor não te ensina do meu jeito, corrija o seu professor”, o que é o cúmulo. Ou seja, em outras palavras, o que se está dizendo aqui ele que ele é o padrão universal de ensino musical. Grau de preponderância que me assusta um pouco, no sentido de que ninguém deveria se alçar a tamanha condição.
Alunos e professores possuem linguagens diferentes. Um professor pode encontrar alunos diferentes, de regiões do mundo diferentes, com costumes diferentes, com vidas completamente diferentes, linguagens contrastantes. Como posso dizer que há um só jeito de se ensinar? Como posso dizer que há um só método de ensino, e como posso afirmar que o meu método está certo em detrimento de todos os demais?
Quando falamos de método de ensino estamos a falar de professores e alunos que possuem linguagens e costumes diferentes, e que precisam de uma adaptação diferente para cada situação. Ninguém, ninguém pode se alçar à condição de padrão universal de ensino.
Quando isso acontece, o que temos é uma megalomania, ou ainda, o que é pior, uma ditadura arbitrária.
Daniel Vissotto