Qual o segredo para transportar fácil no saxofone, essa é uma pergunta que sempre me fazem por aí a fora, e neste artigo pretendo responder de uma vez por todas.
O Problema
É, o saxofone é um instrumento transpositor. Quando descobri esse fato eu confesso que fiquei em choque, pois isso muito me confundiu a cabeça.
A idéia de que teria de tocar em outros tons que não os dos demais instrumentos, me deixou um pouco desgostoso, custei a compreender, e depois a aceitar.
É lógico que com a realidade não se briga, a realidade a gente aceita, mas que foi algo estranho pra mim saber disso e também para muitos, de fato, foi.
Esse assunto, ou seja, o suposto segredo para transportar fácil no saxofone, é fundamental para o saxofonista, muitos não tomam consciência disso no início, senão depois de bater muito a cabeça por aí a fora.
Quantos não são os casos de alunos que tocam em tonalidades erradas com os seus playbacks, ou ainda, chocando com os mesmos.
Na real, para um aluno perceber o fato precisa conhecer em primeiro plano o que são tons e tonalidades, essa é a raiz do problema, vamos nos aprofundar nisso.
O que devemos fazer então diante dessa situação para conseguir transportar e tocar na mesma altura dos demais instrumentos?
A Solução
O ideal não é que nos baseemos em intervalos, em distâncias uniformes que utilizamos para cada nota que lemos ou tocamos. Essa maneira é, sem dúvida uma maneira pouco inteligente de lidar com a questão.
Primeiro de tudo devemos conhecer todas as escalas maiores, a base de tudo são as escalas maiores, não é à toa que coloco o meu primeiro ebook como sendo baseado nisso.
Sem conhecer os doze tons maiores fica muito difícil entender o que são tonalidades. É preciso conhecer as escalas, mas não apenas tocá-las mecanicamente.
É preciso ter um conhecimento a fundo das escalas, e conhecer as escalas a fundo é o mesmo que conhecer a função de cada nota da escala na harmonia.
Isso só é possível por meio do conhecimento dos graus, é preciso conhecer perfeitamente os graus de todas as escalas maiores.
Ao sermos questionados sobre o assunto precisamos conseguir responder imediatamente sem pensar quais são eles, independente do tom.
Seria interessante que conhecêssemos também os graus harmônicos (C, Dm, Em, F, G, Am, Bm5-). Isso independente de tocarmos um instrumento harmônico ou não.
Mas eu não vou exigir tanto neste momento, vamos por partes, conheçamos os graus melódicos da escala maior, só isso já ajudará e muito na transposição dos tons.
A Obrigação de todo Saxofonista
Transpor tons é uma obrigação de todo músico que se preza. Ninguém pode ser dependente do tom de C maior, o músico que depende de tons com poucos acidentes é um músico faltante.
Grosso modo podemos dizer que há inúmeras situações em que ter a capacidade de transpor tons é fundamental, uma questão até mesmo de sobrevivência.
Nunca conseguiremos acompanhar um cantor se não soubermos transpor tons, a coisa mais comum é o cantor pedir para mudarmos de tom.
Quem toca nas igrejas, por exemplo, se não sabe transpor tons, está vendido, pois nas igrejas tudo é praticamente cantado, e transpor tons para quem toca dessa forma é fundamental.
Aqueles que tocam instrumentos transpositores, como nós, saxofonistas, então, têm necessariamente de saber transpor tons, pois o nosso tom nunca é o mesmo dos demais instrumentos, se nem entre os saxofones é, imagine entre um sax e outros instrumentos.
Essas entre inúmeras outras situações são importantes para o saxofonista, e para tanto é necessário transpor tons, ter a capacidade de tocar as mesmas músicas em diversas tonalidades.
De certa forma depender de uma partitura, ou de um tom para tocar uma música, seja numa canja num bar, ou em qualquer lugar que formos tocar é como jogar numa loteria.
A probabilidade de nosso número não ser o escolhido é algo de tão imenso que é quase certo que assim se dará, de forma que é inútil se aventurar nesse tipo de situação sem essa habilidade.
Mas como fazer, afinal de contas as notas são todas diferentes, as tonalidades possuem mecânicas diferentes, o raciocínio parece ser tão contrastante que parece até mesmo mágica.
Não, não é mágica. O segredo para aprender a transpor uma música em qualquer tonalidade, não é mágica e nem mesmo o conhecimento de intervalos, mas o conhecimento dos graus da escala maior, menor também, mas principalmente a maior.
Das escalas maiores, com pequenas alterações, encontramos praticamente todas as demais escalas, dos graus das escalas maiores encontramos um raciocínio comum entre todas as tonalidades.
Se começarmos a tocar uma música pensando nos graus e não nas notas em si mesmas (não que não pensemos nas notas, mas que tenhamos consciência de que elas, naquela tonalidade, significa tais e tais graus) teremos condições de pensar todos os tons do mesmo jeito.
O que Devemos Fazer Para Conseguir
É como se abstraíssemos das escalas um raciocínio comum, igual, literalmente o mesmo raciocínio, que nos permite pensar todas as tonalidades do mesmo jeito.
De repente, não há mais o contraste entre C, D, E, F, G, A, B e C (C maior) para com G, A, B, C, D, E, F# e G (G maior), cujas notas são todas diferentes e contrastantes.
O que há de fato, nos dois casos é o 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 1. E isso se aplica tanto ao C maior, quanto ao G maior, quanto a qualquer tonalidade.
O momento que acostumamos a pensar assim, por graus e não simplesmente por notas, é o momento que conseguiremos identificar o que está de fato ocorrendo numa música, numa partitura.
Para tanto, é interessante que consigamos desenvolver a capacidade de identificar e reconhecer os graus da escala maior em todos os doze tons com a imediatez quase que exata, sem pensar, sem hesitar.
Fazendo assim, conseguiremos, aos poucos, desenvolver a visão harmônica dos tons baseada nos graus, e assim teremos o mesmo raciocínio para todos as tonalidades, o que nos permitirá transportar uma música para todos os doze tons com facilidade.
O que Não Fazer
Não é ler, ou pensar “intervalarmente”, essa maneira de transportar só confunde a cabeça e bitola o músico para uma só maneira de transportar.
Muitos acostumam a ler um tom acima para transportar a parte do piano para o sax tenor, mas se limitam a essa capacidade, quando se deparam com uma situação na qual têm de transportar meio tom de diferença se perdem completamente.
O intervalo é importante apenas para tomar consciência de para onde temos de ir, e não para ser pensado a cada nota, a cada transporte.
Uma vez centrado na tonalidade à qual o intervalo nos conduziu, devemos esquecer o intervalo e pensar apenas nos graus, fluir através dos graus com o mesmo raciocínio da tonalidade anterior, e assim teremos a capacidade de transportar para qualquer tom.
Tocar instrumentos transpositores sem saber transportar, é o mesmo que fazer uma viagem por diversos países estrangeiros sem saber minimamente uma língua comum.
Você certamente irá se perder, irá falar para si mesmo, e não terá comunicação com os demais. O músico de saxofone tem obrigação de transportar, e para tanto precisa se acostumar com os graus.
Foi pensando nisso que desenvolvi o ebook2 ESCALAS MAIORES E MENORES PARA SAX, A base para soar bem. Neste ebook temos como um dos exercícios a capacidade de pensar as escalas por graus e não simplesmente por notas.
Essa capacidade é fundamental para o saxofonista, e chego a dizer que o é para qualquer músico. Enxergar as escalas, as frases, as estruturas, as músicas etc. harmonicamente é o mesmo que enxergar os graus em função da harmonia vigente.
Se temos essa condição, certamente estaremos mil passos à frente de quem se prende a uma partitura ou ainda a uma tonalidade qualquer, ainda que toque decorado ou de ouvido.
Fazendo assim seremos instrumentistas de verdade, que não darão trabalho para quem nos chama para tocar.
E é isso que todos querem ao seu lado, um músico que não dá trabalho, mas que realiza o trabalho que lhe transmitem com maestria.
Conheça esse trabalho primoroso que é o ebook2 ESCALAS MAIORES E MENORES PARA SAX, certamente ele será um divisor de águas na sua vida musical.
Daniel Vissotto