A igreja é um local primordialmente de acolhimento, um local que, teoricamente, as pessoas devem estar de braços abertos para receber o estrangeiro, qualquer um que deseja adentrar e fazer parte desse meio.
Afinal de contas o Senhor nos disse para pregarmos o evangelho a toda criatura, note o detalhe que não foi dito todo homem e nem toda mulher, mas toda criatura, de forma que tudo o que foi criado, seja lá o que isso for, está incluso.
Porém, o fato de ser a igreja um local de primordial acolhimento não significa que ali a coisa deve ser de qualquer jeito, embora muitos pensem que a coisa se dá dessa forma.
Acolher as pessoas não é sinônimo, nem de longe, de fazer tudo de qualquer jeito, de forma que é necessário critério para o trabalho de uma igreja, e para tanto precisamos sim fazer tudo muito bem feito.
Não é minha pretensão dizer o que deva ou não ser feito na igreja, mas contribuir para que os músicos se conscientizem de que é necessário dar a primazia para aquele que acreditamos ser o Deus universal.
Ainda que você não acredite em Deus, este artigo lhe fará sentido, pois ele especificará funções que o saxofone tem dentro e fora da igreja, e assim teremos meios de aproveitá-lo em todos os sentidos.
Até mesmo para quem não crê no evangelho, é óbvio que, se alguém professa fé nessa crença, lhe é obrigado a partir disso a fazer tudo o que faz para Deus de maneira muito bem feita.
O que ocorre muitas das vezes é que as pessoas, querendo ajudar, acabam atrapalhando naquilo que fazem musicalmente na igreja. E é nesse sentido que escrevo este artigo, para quebrar a ignorância do papel do saxofone nesse contexto.
As três funções do saxofonista na igreja
Há três funções básicas para o saxofone dentro dessa situação. A função do solista, a função do acompanhador, e a função do músico de naipe. O que pretendo neste momento é dar uma luz geral sobre cada uma delas.
É importante que se diga que todas essas funções são importantes, todas elas reservam sua arte própria, de forma que não há uma hierarquia nessa classificação, e sim são funções equivalentes, nenhuma tem privilégio sobre outra.
Conheço solistas exímios que não são bons no naipe, e conheço também músicos maravilhosos de naipe que não conseguem solar, o mesmo ocorre com os acompanhadores em relação aos demais, de forma que ninguém está acima de ninguém nesse barco.
O que é o solista?
O solista, das três funções que mencionei é aquele que goza de maior liberdade. No sentido de que, ainda que tenha um certo compromisso com a melodia do tema que está tocando, ele, conservando sua essência, pode tocá-la à sua maneira.
Considero também como função do solista a improvisação livre, na qual o solista abandona a melodia principal e, dentro ou fora da harmonia do tema (dependendo do arranjo em questão) constrói outra melodia um pouco mais complexa.
O fato é que o solista sempre terá a liberdade de articular, acentuar, fazer a variação melódica, a variação rítmica, o vibrato, os efeitos, e os ornamentos que bem entender, da maneira que bem entender, ninguém lhe ditará o que deva ser feito.
Isso porque o papel do solista é imprimir uma digital na música, uma espécie e assinatura, a grande função do intérprete é a de tocar uma música como se fosse essa música uma composição instantânea de si para o público.
Essa espécie de composição que o intérprete interpreta é na verdade a música que todos já conhecem tocada à maneira do solista, não se toca uma música como quem lê um bilhete de outra pessoa, mas de forma natural e espontânea.
O grande ideal do solista é soar livre e natural como um pássaro, não à toa um dos maiores saxofonistas da história foi chamado de Bird, o passarinho, pois sua naturalidade ao solar o tema e também o improviso das músicas era tremenda.
O que é o acompanhador?
Se há alguma coisa que o acompanhador deve aprender a fazer é a não roubar a cena. O bom acompanhador é principalmente reconhecido pelo que não faz, do que por aquilo que faz, pelos momentos que não toca, do que pelos momentos em que está tocando.
O que quero dizer com isso? O acompanhador é aquele músico que sabe contribuir, que sabe criar o clima exato para que o cantor se se sinta mais e mais à vontade quando canta, não invadindo o seu espaço e ao mesmo tempo o apoiando em tudo.
Entre outras coisas o acompanhador deve compreender o papel do saxofone no arranjo da música em questão, deve ter o domínio do que vai ser feito e o que não vai ser feito em meio a ele, não pode em hipótese alguma descaracterizá-lo.
Grosso modo, o acompanhar deve preencher espaços vazios de uma música, porém, mesmo que esteja em espaços vazios, não deve ter a pretenção de estar em toda brecha que lhe aparece, deve ter comedimento e bom gosto.
O mais comum de um acompanhador é que ele acabe saturando o saxofone em meio à música em questão, o que não pode ocorrer em hipótese alguma, o saxofone sempre, sempre e sempre deve deixar um gosto de quero mais.
É quando o saxofone desperta o desejo da audiência para suas aparições, que ele cumpriu de fato a sua função com maestria. Porém, se ele a cansa, acaba por criar ojeriza para com sua presença, assim ele estorva mais do que ajuda.
O acompanhador em hipótese nenhuma deve fazer melodia sobre melodia, em nenhuma instância deve competir por atenção com o cantor, deve respeitá-lo como a algo sagrado na música, e estar sempre o apoiando e nunca o deslocando pra fora.
Nem é preciso dizer que o acompanhador deve conhecer a fundo a harmonia da música em questão, o arranjo da mesma, e também a sua melodia.
Sobrar com frases que contenham notas longas de apoio harmônico é algo a ser feito em muitos momentos, sempre contribuindo para que o cantor, ou aqueles que estiverem cantando possam brilhar mais e mais.
E o músico de naipe?
O músico de naipe é uma peça, uma parte de um todo, e não o todo de uma parte. É importante que ele tenha consciência disso, ele soa bem em conjunto, ele soa bem dentro do arranjo e não sozinho, sozinho ele não tem função a não ser que o arranjo assim lhe conduza a fazer.
O músico de naipe tem de saber ler muito bem, somar, e não subtrair, é preciso fazer parte de algo maior que é o naipe, o que brilha é o naipe e não os músicos do mesmo, o que brilha é o arranjador e seu arranjo.
O músico de naipe deve saber acentuar no momento certo, articular no momento certo, ligar na hora certa, e assim por diante, tudo premeditado, tudo acertado, tudo convencionado, para que ele soe igual ou pelo menos de maneira congruente.
O naipe não é um conjunto de músicos aleatórios, mas uma única coisa, um único organismo musical que soa como um único instrumento de muitos músicos. Se o músico de naipe não tem essa consciência ele mais atrapalha do que ajuda.
Ele não pode sumir e nem se destacar, ele tem e ser um com todos os demais, tendo essa consciência ele soma, ele acrescenta, ele contribui para que todos possam ter a sua luz.
Não se comporte como um solista em meio a um naipe, não há nada de mais horroroso do que um músico de naipe que busca destaque como um solista, na verdade, sempre, nenhum músico deve dar asas à confusão entre estas funções.
Acima de tudo a música na igreja deve ser bem feita, e uma das principais escalas que utilizamos na igreja, e na música gospel em geral, é a escala pentatônica, pois as músicas gospel são muito tonais, e comportam muito a sonoridade dessas escalas.
Para que você possa soar fácil tanto como solista, quanto como músico acompanhador e também até mesmo como um músico de naipe, o que vai contribuir é o estudo do e-book IV PENTATÔNICAS PARA SAX – O caminho que soa fácil.
Clique abaixo e conheça esse trabalho, certamente um divisor de águas para o seu fraseado musical.
Daniel Vissotto