Saxofone faz acordes?
Primeiro de tudo precisamos vasculhar o significado da expressão acorde musical. Segundo o dicionário Aurélio, musicalmente, acorde é a produção simultânea de sons.
Se a coisa é assim musicalmente temos que o saxofone não é um instrumento polifônico, mas sim monofônico. Ou seja, há um só som de cada vez produzido pelo saxofone, de forma que ele não teria condições de produzir acordes.
Um instrumento polifônico como o piano, ou seja, um instrumento harmônico, pode produzir acordes, ou ainda, notas simultâneas, mas um instrumento monofônico, ou melódico, como o sax não tem esse poder.
Estrito senso, o saxofone pode imitar acordes em alguns momentos, como por exemplo quando está desenvolvendo sobreposição de harmônicos, quando várias frequências soam praticamente ao mesmo tempo.
A multifonia também pode soar algo semelhante a um acorde, quando o saxofonista, com uma combinação específica de embocadura e chaveamento faz com que o instrumento produza uma nota praticamente junta de outra.
São técnicas difíceis de se dominar e não podem ser chamadas de acordes tradicionais, e sim de notas quase que simultâneas, pois de fato soam tão rapidamente entre elas, que provocam um sentimento de acorde, mas não um acorde tradicional.
São efeitos harmônicos, por meio de técnicas avançadas, mas não acordes de fato, o que o saxofone definitivamente não tem o poder de conseguir fazer, não da maneira de um piano e de um violão.
Não saxofone não faz acordes
Pois bem, se o saxofone não faz acordes, qual a participação destes na vida de um saxofonista? Por que ele precisaria se preocupar com os acordes, e por que ele precisaria estudá-los?
São perguntas que estão entaladas na garganta de muitas pessoas, o saxofonista iniciante entende muito bem que tem de estudar a melodia, mas não compreende porque tem de estudar ritmo e harmonia.
O ritmo é fácil de justificar, ou seja, o saxofonista ao tocar uma melodia, a toca com ritmo, de forma que o ritmo está presente em tudo, e precisa ser visado em tudo o que fazemos. O ritmo está presente na harmonia e na melodia tanto quanto no ritmo sozinho.
Uma melodia sem ritmo é uma melodia impossível de ser compreendida, uma harmonia sem ritmo não é uma levada, e não pode suscitar uma música, ou um acompanhamento de fato que possa ser utilizado por uma melodia.
Mas e os acordes, ou seja, as notas conjuntas, pelo menos três como na definição musical, a harmonia, por que o saxofonista tem de estudar isso se não tem como reproduzir isso no saxofone?
Saxofone arpeja acordes
Bem, o saxofonista tem como reproduzir acordes no saxofone, mas de maneira diferente da simultânea, ou seja, de maneira arpejada (palavra cuja origem vem de harpa mesmo). Notas dos acordes uma após a outra de maneira sucessiva.
Dizendo frasalmente o saxofonista pode produzir frases com acordes arpejados, que não são acordes propriamente ditos (sons simultâneos), mas que expressam os acordes de maneira sucessiva e em meio a uma frase musical melódica.
Daí o fato de ter necessidade de ter os acordes em mente, para produzir arpejando os mesmos, frases que os expressem, quando eles estiverem em voga nos instrumentos que acompanham o saxofone.
Todo acompanhamento de um instrumento melódico como o saxofone se dá principalmente por meio de um instrumento harmônico como o piano, ou o violão, ou algo do tipo. E estes estarão se expressando por meio de acordes.
A palavra harmonia significa tornar justo, de acorde, conectado, e o saxofone tem de ser justo, acordado e conectado aos instrumentos que o acompanham, e para tanto precisa ter em mente o porquê de eles estarem tocando o que tocam e o que estão de fato tocando.
Se o piano faz acordes atrás de um saxofone para acompanhá-lo, é preciso que o saxofonista conheça tais acordes para saber se harmonizar com esse piano, tanto frasalmente quanto harmonicamente, todas as notas que ele escolher estarão em função dessa harmonia.
De forma que o saxofonista tem como fazer acordes, desde que entendamos acordes no sentido de arpejos, e tem de estudar acordes, desde que entendamos os acordes como necessários ao saxofonista na medida em que ele toca com instrumentos harmônicos.
Acordes como a essência do saxofonista
Sendo assim se conclui que os acordes são a essência do que o saxofonista faz em termos frasais, pois é a partir deles que a música tonal se expressa, tanto nas escalas (horizontalmente) quanto nos arpejos (verticalmente).
Daí temos que o acorde é fundamental para o conhecimento do saxofonista, que sem ele, navega num mar de dúvidas e que só conhece a superfície do que estão de fato acontecendo e não as profundezas desse mar riquíssimo que é a música.
Mesmo sem fazer acordes propriamente falando, o saxofonista tem de ter conhecimento de acordes para arpejá-los e tocar de acordo com eles, enquanto eles são fruto do que os demais instrumentos fazem ao redor do saxofonista.
Foi pensando nessa dúvida dos saxofonistas que eu produzi um volume que visa trazer ao saxofonista a visão harmônica do que são acordes para o saxofonista, de como ele deve estudá-los, e de como deve aplicá-los na música como um todo.
A pergunta que se faz é: se o acorde é simultâneo, como posso estudá-lo num instrumento monofônico e melódico como o saxofone onde tudo é sucessivo? É para resolver essa questão que criei o DICIONÁRIO DAS TÉTRADES, onde falo de acordes de tétrades e extensões.
Nesse volume proponho um meio de dominar as tétrades de forma a conseguir se expressar horizontalmente em meio à verticalidade dos acordes. O que sem dúvida será uma vantagem indizível para o saxofonista em todos os sentidos.
Vale a pena estudar esta obra que julgo indispensável para todo saxofonista que quer evoluir no mundo do saxofone.
Daniel Vissotto