A região grave do saxofone pode ser uma questão gravíssima para alguns saxofonistas. No sentido de ser um fator importante a ser enfrentado e dominado.
A palavra grave vem do latim gravis, e se refere ao peso, àquilo que está submetido à gravidade, daí a palavra grávida, ou seja, aquela que carrega um peso.
Esta palavra também possui o significado de algo sério, algo importante, algo que merece nossa atenção plena.
É engraçado como de uma expressão temos o nascimento de várias outras, como por exemplo movimento gravitacional, gravidade, gravidez etc.
O peso da palavra grave é muito forte, embora tenhamos mencionado uma mulher grávida nos primeiros parágrafos não viemos neste artigo falar de gravidez neste sentido.
Falaremos das notas graves do saxofone, cuja raiz vem do latim gravis e do grego barys, daí a palavra saxofone barítono, como uma voz grave, expressão esta que também quer dizer pesado, no sentido dos limites mais baixos da frequência captada pelo ouvido humano.
Primeiro Passo: o Setup e a Região Grave do Sax
Há algumas técnicas das quais queria mencionar neste texto, porém, gostaria de começar por uma observação que é, sem dúvida alguma, unanimidade entre todos os que lecionam o instrumento saxofone.
O setup é fundamental para a produção da região grave do saxofone, no sentido de que há a necessidade de equilíbrio de setup e boas condições do mesmo.
Equilíbrio no sentido de você ter uma boquilha e uma palheta, por exemplo, perfeitamente alinhadas.
A palheta ideal para se tocar na região grave do saxofone não pode ser muito pesada, caso contrário você terá de ter muita capacidade pulmonar para tanto, o que não é uma característica de todos.
Não sendo muito pesada, não pode também ser muito leve, sob o risco de travar e apitar por conta de uma maior quantidade de ar.
Tem de ser uma palheta mediana, mais para o pesado de acordo com a abertura da boquilha, se a boquilha for mais fechada. Já se a boquilha for mais aberta, um pouco mais para o leve.
Boquilhas com rampa, geralmente, são mais difíceis de se tirar os graves, por favorecerem as frequências agudas do saxofone, ou seja, o ar com maior velocidade.
É preciso combinar bem o setup, tanto para o timbre, quanto para a produção sonora em si mesma, no sentido de se alcançar um timbre satisfatório, com uma produção sonora tranquila, e também natural.
Com relação às condições do equipamento, devemos saber que uma boquilha quebradiça, uma palheta mole e passada de envelhecimento, ou ainda um saxofone com vazamentos, não conseguirá produzir os graves.
Parece redundância para alguns falar esse tipo de coisa, porém, ficaríamos abismados de saber quantas pessoas reclamam que não conseguem tirar graves porém, não mantém ao mesmo tempo, o setup em dia.
E manter o setup em dia, como já foi dito, é combiná-lo com inteligência, e mantê-lo dentro das suas plenas funções em todos os sentidos.
Segundo Passo: a Respiração na Região Grave
Dito isso, temos que ter em mente que noventa por cento dos problemas na região grave do saxofone dizem respeito à questão da respiração e da coluna de ar.
Se você não sabe respirar em saxofone da maneira correta, e se não consegue projetar a coluna de ar neste instrumento satisfatoriamente, não é possível da mesma forma, produzir os graves.
O primeiro fator da respiração é a capacidade pulmonar, é preciso desenvolver capacidade pulmonar, tanto pela projeção do som, quanto pelo próprio processo de produção sonora no saxofone em si mesmo.
Entre inúmeras vezes que já mencionei o assunto, o saxofone é movido a ar, sem gasolina um carro não anda, sem ar um saxofone não possui som.
É preciso desenvolver capacidade pulmonar, com exercícios que exijam do saxofonista alto volume de som por longa duração. Sejam notas longas, escalas, harpejos, exercícios ou frases.
Nem é preciso dizer que hábitos saudáveis são recomendáveis, como por exemplo, caminhada, natação, corrida etc. e todo exercício aeróbico que possa ser feito com acompanhamento médico.
Também não é preciso dizer que é necessário abandonar hábitos anti-saudáveis como o tabagismo e coisas desse tipo, pois isso certamente prejudicará aquilo que chamamos de capacidade pulmonar.
Mas capacidade pulmonar não é tudo, e principalmente nos graves, não é esse o segredo. Há pessoas que pensam que para produzir os graves, é necessária uma quantidade inumana de ar, a coisa não é bem assim.
Como já vimos em artigos passados neste mesmo blog, a quantidade de ar não é determinante para a região grave do saxofone, pelo contrário, o que determina o sucesso na produção dessas notas, é a pressão aérea.
Sem querer ser repetitivo, mas já sendo, não é possível produzir as notas da região grave do saxofone, sem que você saiba o que é, e como produzir pressão aérea.
A quantidade do ar é o que faz a intensidade do som, a pressão é o que faz a constância do mesmo. Um som pode ser com pouca ou muita quantidade de ar, porém, nos graves, se ele não possuir constância, será um som descontrolado, passageiro e falho.
É preciso utilizar a respiração abdominal, aquela que involuntariamente utiliza-se do diafragma para dosar a saída controlada do ar do pulmão. É essa respiração que traz a constância para a coluna de ar, sem ela tudo o que temos é uma enxurrada de ar sem sentido.
A região grave do saxofone se produz muito mais por meio de pressão do que por quantidade, aliás, a quantidade pode estar presente ou não nos graves, o que importa de fato é a pressão, a constância, a manutenção firme e controlada da coluna de ar.
Esse é o grande segredo da região grave do saxofone, ou seja, ter a capacidade de produzir uma coluna de ar constante, firme, perene, e sem oscilações.
Tendo essa capacidade de produzir a pressão aérea na região grave do sax, seja ela com muita ou pouca quantidade de ar, estamos a meio caminho andado do que poderia ser a produção sonora dessas notas.
Terceiro Passo: A Embocadura e o Grave do Sax
Outro aspecto muito importante da região grave toca no que chamamos de embocadura. A embocadura do saxofonista tem de ser estável, forte, formada para que possamos ter um posicionamento satisfatório sem interrupções indesejadas.
Tanto no momento em que passamos de uma região superior para a região grave, quanto no momento em que estamos já na região grave do saxofone, precisamos de estabilidade.
O que ocorre com muitos é que, acostumados com as dificuldades dessa região, desenvolvem diversos vícios de embocadura para a mesma, modificando drasticamente a forma de sua embocadura quando caminham nessa direção.
Alguns fazem muita bochecha, outros fazem variações de abertura e pressão da mandíbula, outros ainda produzem modificações nos músculos da face, na posição do dente superior ou inferior, e ainda nos lábios.
O que posso dizer num primeiro instante é que há sim uma pequena variação de embocadura, porém, é tão mínima que pode até mesmo ser desconsiderada, modificações abruptas e drásticas são amplamente desfavoráveis.
A embocadura deve permanecer em sua forma, não se deve criar uma embocadura diferente para cada região do saxofone, a não ser que se queira produzir determinado efeito, mas não é o caso do que estamos falando.
A estabilidade da embocadura se desenvolve pelo fortalecimento dos músculos da face, tocando o que quer que seja, mas principalmente por notas longas, que sem dúvida alguma é um exercício próprio para tanto.
Havendo a estabilidade da embocadura, libertando-se dos vícios de mudança abrupta da embocadura para a região grave do sax, estaremos a um passo apenas dos graves.
Quarto Passo: Os Voicings e as Notas Graves
O último passo, sem dúvida alguma, são os voicings. É preciso trabalhar os voicings para facilitar a projeção da região grave do saxofone.
Uma cavidade oral mais aberta, e aqui não falo de embocadura (lábios, dentes e músculos da face), mas daquilo que está atrás da embocadura, a saber, os voicings, facilitará sobremaneira a produção dos graves.
Notas graves se produzem com ar quente, e ar quente é aquele que se produz por meio de uma passagem aérea larga e vasta. Para que possamos produzir tal qualidade de ar, é preciso abaixar língua e conseguir por meio disso abrir a garganta e a cavidade oral.
Não que seja um passo obrigatório produzir esse tipo de voicing no grave do saxofone, pelo contrário, ele é um primeiro passo para quem estão com dúvidas, dificuldades, vem para facilitar.
Com o tempo, e o desenvolvimento do conhecimento interno do saxofonista a partir de si mesmo, ele poderá variar o voicing, seja para produzir um timbre diferente, ou ainda até mesmo uma afinação específica.
A região grave do saxofone deixa de ser um problema grave, quando temos a orientação correta. Caso você deseje um acompanhamento mais detalhado sobre esse assunto, eu aconselho aulas particulares online com o professor.
Outra possibilidade é o curso Viva o Sax Básico, este que tem dois pontos predominantes de preocupação para com seu ensino. A saber, a sonoridade, e o ritmo, embora trate das diferentes áreas musicais do iniciante de saxofone.
Sem dúvida alguma será uma ignição maravilhosa para se começar, com divertimento, incentivo, motivação e efetividade.
Daniel Vissotto