A Família dos Saxofones
A maioria das pessoas em geral não sabe que o saxofone é uma família de instrumentos, que há vários tipos de saxofone. Muitos nem reconhecem o saxofone soprano, reto, como um saxofone, acabam por o confundir com um clarinete dourado.
Outros, apesar de saber que há vários saxofones não compreendem quais as diferenças e semelhanças entre eles, e nem mesmo o porquê disso. Acabam por julgar o saxofone como um instrumento único, e quando se deparam com a variedade de instrumentos que podem ser chamados de saxofone acabam por se admirar.
É para responder essas perguntas e solucionar essas dúvidas que venho com este post no Blog Viva o Sax, visado com isso esclarecer de uma vez por todas a questão dos vários tipos de saxofone, e como se dá a diferenciação e as semelhanças entre eles.
Quantos e Quais São os Saxofones?
A família dos sax é enorme, há elementos nessa família que até mesmo eu desconheço, pois muitos instrumentos foram criados em meio à história do saxofone que descendem do sax, e que podem ser chamados de saxofone.
Por exemplo, há o sax contrabaixo, o sax baixo, o sax barítono, o sax tenor, o sax alto (contralto), o sax soprano, e também o sax sopranino. Todos eles têm suas funções, e além desses há outros sax, como por exemplo o sax Melody (que é afinado em C).
De sorte que, na história do saxofone, há tantos saxofones da família Eb e Bb, quantos há na família F e C, sendo o sax Melody um deles, muito próximo ao tenor, ou ainda ao alto, mais especificamente no meio de ambos.
Os sax afinados em C e em F são raríssimos, e tinham a pretensão de serem usados em orquestras, quando os sax afinados em Eb e Bb tinham a intensão de serem usados em bandas marciais.
De sorte que, o saxofone é muito mais do que um instrumento puro e simples, mas uma família até mesmo complexa de instrumentos, e talvez até possamos dizer, mais do que uma família, ou seja, há entre os saxofones instrumentos que são puro requinte de colecionador, tamanha a raridade dos mesmos.
Há vários tipos de saxofone para compor as diferentes vozes de uma música, no sentido de que, como há o violino, a viola e o violoncelo etc., há também o saxofone soprano, o sax alto, o sax tenor e assim por diante.
Diante disso, vamos estabelecer quais são os saxofones mais conhecidos, e também falar um pouco sobre as diferenças e as semelhanças entre eles, pois muita coisa nos cabe dizer sobre o assunto que o público leigo e menos experimentado simplesmente desconhece.
Os Principais Tipos de Saxofone
Os sax mais conhecidos são os sax que desempenham a função de solista, podemos colocar nesta gama de instrumentos os saxofones afinados em Eb e Bb, reconhecidos como os saxofones que soam melhor por muitos. Dentre estes estão principalmente o sax soprano (Bb), o sax alto (Eb) e o sax tenor (Bb). Falemos um pouco sobre cada um deles.
O saxofone é um instrumento, como todos os demais, que se estabeleceu por força de seus ícones históricos. O primeiro saxofonista a fazer sucesso de verdade, foi um tenorista chamado Coleman Hawkins. Quando Hawkins fala que inventou o saxofone, ele não está usando uma hipérbole.
Já o sax alto, teve seu principal ícone na história com o inconfundível Charlie Parker. Este que foi um dos fundadores do movimento Bebop, e que inovou em todos os sentidos a música americana em direção de um estilo mais rápido e mais complexo de interpretar e improvisar.
Estes são de longe os saxofones mais populares entre o vulgo, e mais, dentre eles, o mais conhecido, sem dúvida alguma é o sax alto, embora o tenor dispute essa popularidade de muito perto.
O sax soprano foi marginalizado por muito tempo em meio aos saxofones, e ainda o é até os dias de hoje, porém, uma das primeiras grandes gravações a colocar o soprano em evidência foi My Favorite Things de John Coltrane, um tenorista único que também tocava soprano. Outro saxofonista muito importante com o sax soprano foi Steve Lacy, inventivo e inovador.
Embora menos conhecido, o soprano, mais recentemente, fez muito sucesso por meio das mãos de um instrumentista muito popular chamado Kenny G, que tocava predominantemente soprano e que surpreendentemente é conhecido entre leigos e especializados em toda a parte, um fenômeno que não pode ser ignorado.
Temos que os sax que, mais predominantemente desempenham a função de solista são o tenor, o alto e o soprano, falemos um pouco de cada um deles, para que possamos estabelecer as diferenças e semelhanças entre estes três fascinantes instrumentos.
A Tessitura e a Afinação dos Saxofones
A primeira coisa que devemos saber é que a afinação dos saxofones é diferente, diferente entre si, e diferente de um piano, um violão por exemplo. Quando você toca um violino a nota C do violino é um C real, quando você toca um saxofone alto, por exemplo, a nota C do sax alto vai soar uma nota diferente da nota C real, de um piano, por exemplo, vai soar Eb.
Isso é o que chamamos de instrumento transpositor, ou seja, apesar de ter notas cujo nome é o mesmo dos demais instrumentos, o som das notas tocadas é diferente, dessa forma temos que o tenor é afinado em Bb, o alto é afinado em Eb e o soprano é afinado na mesma nota do tenor, só que uma oitava acima, ou seja, Bb.
Um erro muito comum de iniciantes é tocar um sax alto, por exemplo, como se fosse um piano, de forma que lendo a partitura original de um piano, querem soar na mesma tonalidade, o que não vai acontecer, e o que teremos de verdade, é um acompanhamento num tom, e o saxofone em outro, se o saxofone tocar em C, o piano vai ter de tocar em Eb, e se o piano tocar em C, o saxofone vai ter de tocar em A.
A proporção do transporte desses instrumentos é um assunto para outro post, aqui trataremos das diferenças e semelhanças entre os principais saxofones. Porém, é preciso se conscientizar disso para tocar, principalmente para tocar com um playback, ou um acompanhamento qualquer, pois sem essa consciência com certeza tudo vai dar errado.
Sobre a Digitação, a Leitura e a Região Predominante
A primeira semelhança que temos entre todos os saxofones, independente de qual seja a afinação ou voz, é que eles todos possuem o mesmíssimo chaveamento e todos tocam e lêem da mesma maneira na clave de sol, esse instrumento foi construído para que o instrumentista tivesse a facilidade de transitar entre os diferentes saxofones com facilidade, por isso possui o mesmo chaveamento não importando qual saxofone esteja tocando.
Todo saxofone é digitado, lido e executado da mesma forma, de maneira que transitar entre estes instrumentos é algo que gera um pequeno impacto, e uma fácil adaptação. O período de adaptação entre um e outro é muito pequeno, e fácil de ser atravessado.
Embora a embocadura seja muito semelhante, ela reserva diferenças, por exemplo, a boquilha de um sax soprano é muitíssimo menor do que a boquilha de um sax tenor, de sorte que para tocar soprano é preciso adaptar a embocadura, e não é uma coisa muito automática, é preciso um certo estudo para tanto, mesmo que o procedimento de produção sonora seja o mesmo.
Quanto maior o saxofone, mais grave ele será, assim o é para todo instrumento de sopro, quanto maior o percurso do som dentro do instrumento, maior a proporção de notas graves que ele pode produzir, por isso quando fechamos o tubo do saxofone produzimos os graves, e quando abrimos, os agudos.
O sax tenor está situado uma oitava abaixo do sax soprano, o sax alto já está no meio termo disso, e também está situado uma oitava acima do sax barítono. De sorte que a região que se toca nos três instrumentos principais (tenor, alto e soprano) é diferente, por conta da afinação e da tessitura do saxofone.
Por exemplo o tenor é mais grave, tem uma afinação mais grave, por isso toca numa região mais aguda para compensar, porém, isso depende um pouco de cada instrumentista, pois o estilo de cada instrumentista vai contar na escolha da região predominante do saxofone a ser tocada, falo neste momento principalmente baseado em mim mesmo, e também numa média geral.
Já o sax alto, será tocado predominantemente numa região média, pois se situa numa tessitura e afinação que trafega por notas médias do tenor e do soprano. De novo quero ressaltar que isso não é um regra, mas uma estatística. O sax soprano por sua vez, sendo muito agudo, predomina sobre a região grave, isso para compensar pelo mesmo motivo.
Dessa maneira a forma de se tocar tenor é diferente da forma de se tocar alto, as escalas utilizadas serão diferentes, os tons serão outros, de maneira que o instrumentista será desafiado de outra maneira a tocar, o que faz com que haja um impacto entre estes instrumentos para quem está acostumado apenas a um deles.
Sobre o Timbre dos Saxofones
Outra coisa que é decisiva na diferenciação dos saxofones é o timbre. O que é timbre? Timbre é o que faz com que uma nota, tocada na mesma altura e frequência no violino e no saxofone, seja percebida como um violino e não o saxofone, e como um saxofone e não um violino, ou seja, pela diferenciação do timbre, da qualidade do som em questão.
Dessa forma temos que os saxofones são diferentes em timbre, não podemos dizer que o alto é um soprano um pouco mais grave, e nem que o tenor é um soprano uma oitava abaixo, estaríamos cometendo uma incrível injustiça para com a verdade de comparar os diferentes saxofones dessa forma.
Uma mesma nota, tocada na mesma altura, por um sax soprano e um sax tenor, não soará da mesma forma, terá um timbre diferente, ainda será saxofone, porém, será um sax soprano, e da mesma maneira, de forma inconfundível, um sax tenor. Quem confunde essas coisas não conhece o som dos saxofones a fundo.
Cada Saxofone e seus Estilos
Outra coisa importante é o emprego em termos de estilo que se dá a cada saxofone. É claro que isso depende de cada instrumentista, mas particularmente eu, como muitos saxofonistas, gosto de dar um tom específico para cada saxofone em relação ao estilo que estou atuando.
Podemos dizer então que o estilo utilizado para cada saxofone é, em média, diferente. Pois o timbre se adapta melhor a cada mensagem e inclinação do instrumentista que se expressa por meio de um estilo definido qualquer.
Por exemplo, quando toco uma coisa mais tradicional, prefiro estar no sax tenor, quando toco uma música mais agitada, e mais pop, trafego para o sax alto, e quando faço uma balada, ou coisa mais amena, estou mais no sax soprano. Embora isso não seja regra, muitos saxofonistas têm a mesma pretensão, e utilizam os saxofones com determinado padrão de estilo.
A verdade é que são o mesmo instrumento, porém guardam diferenças e particularidades, e por isso, podemos dizer também que são instrumentos diferentes. Coloco como fundamental a compreensão de que um saxofonista que toca sax alto, tem condições de ensinar sax tenor, ou soprano, e vice-versa, dependendo de qual for a especialização do saxofonista.
Ocorre que, dependendo da forma como o saxofonista se construiu, dependendo de sua configuração anatômica, entre outros fatores, às vezes ele se resolve melhor com um tipo de saxofone do que com os demais, de forma que, naturalmente, predomina tocando com este instrumento.
No Curso Viva o Sax Básico, temos uma aula especial sobre o assunto, visto ser fundamental para quem está começando que tenha consciência de todas essas informações, sob o risco de cometer grandes enganos musicais em termos de afinação, escolhas, e etc.
Como professor de saxofone tenho alunos de vários tipos de saxofone diferentes, principalmente o tenor, o alto e o soprano, de forma que não procede a idéia de que o instrumentista de sax alto, não possa dar aulas para sax tenor, ou qualquer outro saxofone.
Agora que sabemos da grandiosidade da família dos saxofones, estamos mais aptos a extrair desse instrumento fantástico, um som rico e apropriado.
Daniel Vissotto
