A Música Enquanto Linguagem
Ficaríamos abismados de saber quantos músicos passam anos estudando saxofone e tocando um instrumento como esse sem sequer ouvir o instrumento que tocam, não sabem nem ao menos um nome relevante de um grande ícone do saxofone reconhecido internacionalmente.
Aprender música sempre será como aprender uma linguagem, por mais que assimilemos técnicas de leitura musical, percepção, interpretação, improvisação e todas as demais áreas do aprendizado musical, não teremos meios de aprender até que possamos nos imergir numa linguagem.
Aprender um instrumento musical sem ouvir esse instrumento, é o mesmo que aprender a falar inglês sem ouvir a língua em questão, ou seja, você vai aprender tudo menos se comunicar em inglês, tudo menos tocar um instrumento.
O conceito de imersão é preciso ser assimilado, há uma linguagem do instrumento, uma linguagem dos estilos, e uma linguagem das músicas que estão em nossa mira. O que temos diante de nós nada mais, nada menos é do que uma sala aberta para conversas.
A História da Música como Uma Sala de Conversas
O que quero dizer com isso? Ora, uma sala onde todos estão opinando sobre um tema, seja este tema, um instrumento como o sax, um estilo como o Jazz, ou uma música como por exemplo aleatório uma Autumn Leaves.
Antes de adentrar nesta sala precisamos saber mais ou menos quem está lá, o que estão falando, qual a opinião reinante, o que queremos causar com o que vamos falar, qual o objetivo daquilo que diremos etc.
Tudo isso é um conhecimento histórico, essa sala é composta por pessoas do passado, do presente e também do futuro, uma música pode ser visitada por muitos, um estilo pode ser falado na boca de inúmeros e um mesmo instrumento certamente possui uma leitura diferente dependendo de quem toca.
Imergir-se numa língua é aproveitar todas as possibilidades de contato que possamos ter para estar profundamente dentro do raciocínio que constrói aquela linguagem, aquele sotaque, aquela cultura.
Mergulhar numa linguagem, ouvir música em toda oportunidade que temos, é por esse conceito de imersão, de mergulho num estilo, numa música, num instrumento que conseguimos falar algo que realmente faça sentido nesse assunto.
Uma vez tendo feito esse trabalho de imersão, então entrar na sala, ouvir o que a sala tem a dizer, entender o que de fato ocorre ali, e porventura, se isso for algo desejável falar nossa opinião a respeito de um assunto.
É Preciso Enriquecer o Que Se Faz
Nos surpreenderíamos de fato ao perceber quanto perdemos quando não fazemos esse trabalho, perdemos em termos de compreensão, em termos de expressão, em termos de detalhes e riquezas que poderíamos aplicar à nossa execução musical.
Aos poucos, com o passar do tempo, e o ampliar do conhecimento auditivo da música, ou seja, ouvindo mais e mais um instrumento, os diversos estilos, as inúmeras versões, desde a mais reconhecida até a mais periférica, desenvolveremos um arcabouço de recursos de linguagem que nos permitirá falar com mais propriedade.
Mas não sem antes nos expor a essa busca, a essa conquista, a esse trabalho de pesquisa, de dedicação e tempo, para conhecer, para encontrar, para nos aproximar e nos imergir na linguagem na qual queremos nos expressar musicalmente.
Nossos Tempos Atuais
Antigamente não havia a facilidade que temos nos dias de hoje, hoje em dia num simples celular temos a facilidade de ouvir todos os CDs lançados por Miles Davis e todos os pais do Jazz, bem como qualquer artista que se preze, num serviço qualquer de streaming pagando muitíssimo pouco.
A dificuldade que temos agora não mais é adquirir o material, mas selecioná-lo, e saber por onde começar diante de tantas e tamanhas opções. O que mais ocorre no que vemos por aí é que nos perdemos no mar de possibilidades e nada produzimos no fim das contas.
Se formos olhar a vida dos grandes pais do Jazz, em sua época era rara a presença de gravações, aprendia-se música buscando o contato direto com os músicos. Para ouvir um determinado artista era preciso ir até ele, onde quer que estivesse a se apresentar. Imagina-se por meio disso a dificuldade.
Percebe-se o contraste que há entre o que temos hoje em dia, podemos com poucos cliques sacar de nosso bolso num simples aparelho de celular, o som de qualquer artista de qualquer parte do mundo, em qualquer obra lançada que quisermos.
O que quero dizer com isso é que tendo essa facilidade toda precisamos, urgentemente, nós que aprendemos um instrumento, uma música, um estilo, aproveitá-la e fazer uso dessa tecnologia que nos favorece da maneira correta.
Você faria uma palestra sobre um assunto que não conhece? Você escreveria um artigo sobre um tema que não pesquisou? Você faria um livro sobre a história de uma pessoa da qual nunca teve informação? A resposta obviamente é não. Então por que aprenderíamos um instrumento musical sem pesquisar aquilo que rege sua linguagem?
Como Ouvir?
É preciso ouvir, e não simplesmente ouvir, mas ouvir com atenção, estudar o que ouvimos, não somente ouvir por ouvir. É preciso conhecer cada vez mais o papel dos instrumentos rítmicos, harmônicos, melódicos etc.
Entender a trama musical, as frases características, os ornamentos utilizados, o sotaque do acento de cada nota dentro de um período. A música não é uma arte arbitrária que vem da iluminação instantânea daquele que acordou e bateu a cabeça na quina de uma porta.
A música é uma linguagem histórica definida e desenvolvida através dos séculos, que chega até nós pronta para ser ouvida, entendida, assimilada, e a nosso modo, processada e produzida, sendo que somos os próximos agentes desse enredo.
Eu mesmo sempre faço uma pesquisa antes de tocar um tema, sempre aprendo algo com os demais, sempre tenho um ponto a mais para assimilar e digerir. A riqueza dos detalhes da expressão musical é infinita, e todos aprendemos com todos a todo momento.
Quando parto para um tema sem fazer esse trabalho, certamente me arrependo de tê-lo feito, não é uma questão pura de humildade, mas de inteligência e da possibilidade mesma de produzir algo de real pertinência musical.
Como disse, a história da arte é uma conversa, ninguém será ouvido nessa conversa se não souber se inserir com propriedade em meio a ela. Ninguém dará atenção para quem não fala com base naquilo que diz a respeito do que se propõe a dizer.
Daí a necessidade intrínseca de se informar, de pesquisar, de ouvir, sempre, ouvir, pois o que tocamos é produto direto do que ouvimos, se nada ouvimos nada conseguimos tocar, necessário se faz nos imergir na linguagem que nos propomos a comunicar.
A música é muito mais do que um conjunto de dicas fáceis e técnicas passadas por um professor qualquer, um professor jamais vencerá na tarefa de transmitir o conhecimento musical sem que o aluno colabore por meio dessa busca.
Para falar a linguagem musical, de uma forma que valha a pena ser ouvido por todos os que entendem do que estão falando, e não falar puramente para a parede, para não ser ignorado pela comunidade dos músicos, é preciso pesquisar, inteirar, imergir, assimilar, e sempre, ouvir, estudar o que ouve, externar o que ouve, digerir o que ouve, modificar o que ouve, completar o que ouve, e fazer a seu modo aquilo que ouviu.
Esse sempre será o caminho.
Para você que quer uma sugestão de por onde começar nessa busca de ouvir e se inteirar, aqui vai uma contribuição, ou seja, a música que eu escuto enquanto professor de música, não para que você a escute como uma norma a ser obedecida, mas como uma opção a mais para enriquecer o seu dia a dia.
É preciso pesquisar, quem toca, quem tem reconhecimento, quem foi consagrado pela história, quem toca com quem, e assim por diante, ir abrindo o leque de possibilidades, de acordo com o seu gosto musical porém, sempre o enriquecendo com novas nuanças de estilos, interpretações, artistas, temas, músicas, instrumentos etc.
Curta as playlists do canal VIVAOSAX e tenha elas sempre à sua mão, atualizações mensais, novidades por vir.
– VIVAOSAX (Uma playlist de músicas que eu sempre gostei muito de ouvir durante minha história passada e presente).
– JAZZ SAX (Uma playlist voltada para o estilo Jazz, com muita improvisação, e grandes monstros da história deste instrumento).
– SAXOPHONE BALLADS (Uma playlist voltada para um estilo de música mais calmo, mais meditativo, e até mesmo romântico).
– CANTORES que me inspiram (Porque o saxofone é um instrumento muito próximo da voz, e precisamos ter como espelho principal para função de cantar através do saxofone a voz).
– MÚSICA BRASILEIRA que eu gosto (Porque o Brasil é uma autoridade mundial em música).
– TRILHAS SONORAS que me encantam (No sistema modal estamos, ao tocar uma música, ao interpretar ou ao improvisar, sujeitos à idéia de contar uma história, nada mais interessante do que ouvir músicas que contam histórias).
– O MELHOR DE DANIEL VISSOTTO (Uma playlist exclusiva feita com o melhor de meus lançamentos).
É preciso ouvir, sempre ouvir, ouvir de tudo.
Daniel Vissotto