POR QUE ESTUDAR NOTAS LONGAS?
Parece preciosismo que falemos de notas longas, pois na verdade, poucos iniciantes valorizam esse tipo de estudo, e se o valorizam não sabem como fazê-lo da maneira correta.
Primeiro de tudo, o estudo de sonoridade não deve ser feito como estudo principal do saxofone, tudo o que você estuda no saxofone contribui para sua sonoridade, de forma que o estudo de sonoridade propriamente dito deve ser utilizado como um aquecimento, uma preparação para o estudo a grosso modo que virá a seguir.
Ninguém deve passar a maior parte do seu estudo estudando notas longas, nem é recomendado que o faça, pois isso irá forçar de maneira exacerbada os músculos da face, e o resultado que era para ser algo positivo, passa a ser algo exaustivo e ainda pode vir até a machucar e causar danos ao estudante.
Interessante de se notar que muitas pessoas fazem notas longas por desencargo de consciência apenas, fazem por fazer, no sentido de não terem a mínima consciência do porquê de estarem fazendo o que fazem, e do que devem ter em mente quando estão fazendo tal coisa.
Há um equipamento com o qual estamos em contato, este equipamento é o saxofone e seus acessórios. O processo de um estudo é o processo de agregar esse equipamento ao corpo, ou ainda o corpo a esse equipamento, de forma a tudo isso formar uma só constituição.
A nota longa tem por finalidade básica três grandes funções para a sonoridade, e são as funções que certamente contribuirão para que seu som seja um som bonito de saxofone. São elas: embocadura, controle de coluna de ar, e afinação.
A nota longa é o momento em que estamos nos adaptando à união desse equipamento (saxofone, boquilha, palheta, abraçadeira, cordão etc.) ao nosso corpo. É o momento em que estamos nos unindo ao sax, conhecendo cada toque, cada sensação, cada posição do saxofone em detalhes, para poder assim produzir nosso estudo da melhor maneira possível.
Por que a embocadura se desenvolve na nota longa? Ora, se preservamos um som homogêneo e longo, seja com dinâmica ou sem ela, estamos forçando a embocadura a sem manter firme, essa firmeza de embocadura exige da musculatura da face, no sentido do desenvolvimento desses músculos para a manutenção dessa forma, desse embocar, desse acoplar a boca à boquilha.
É importante se notar que a embocadura se desenvolve dessa forma, inevitavelmente estamos fazendo um esforço com os músculos da face, algo que os fortalece, e é por isso que digo que os estudos de sonoridade não devem ser feitos de uma só vez, mas aos poucos, com pausas, para não haver esforço demasiado e consequentemente alguma lesão.
Por isso é tão importante o som homogêneo nas notas longas, constante, firme, e sem variações, pois quanto mais ele assim for melhor será para o fortalecimento dos músculos da face, pois mais exigirá da embocadura para que ela produza tal som.
Quanto à coluna de ar, é fundamental que conheçamos que estamos treinando o apoio do diafragma nesse tipo de exercício, que estamos sentindo os músculos do abdômen trabalharem, principalmente na segunda metade da nota longa, o que faz com que, para manter a pressão tornemos mais rígidos os músculos do abdômen.
A pressão aérea é tudo num exercício de notas longas, é ela que faz com que tenhamos um som encorpado. Quantidade de ar é importante, mas acaba, a pressão, quando bem trabalhada se mantém, e pode assim manter o som encorpado e firme do começo ao fim da nota, da frase, o que promove a afinação e o timbre.
A respiração é o que faz com que nosso organismo como um todo se una ao saxofone, não somente pelo tato, como as mãos e a boca, mas na produção de todo o som, que diferentemente do que o vulgo imagina não começa na boquilha, mas na própria inspiração aérea, no processamento desse som no nosso organismo, e na emissão desse ar para o instrumento.
A afinação do sax é o próximo ponto, primeiro do sax para consigo mesmo, no sentimento de um intervalo, de uma quinta ou quarta justa, ou ainda de uma oitava perfeita. Afinando as regiões do sax entre si, particularmente com a região central do sax que tende a ser mais afinada.
Posteriormente, e não antes disso, depois da formação de uma embocadura estável, a afinação do sax com um instrumento de nota pronta como o piano ou um teclado, fundamentalmente pelo ouvido, trazendo assim, após a formação de uma embocadura estável (que não costuma estar presentes em iniciantes muito inexperientes), uma afinação específica para o momento do saxofone no tudel com a boquilha.
Por último a afinação do sax a cada movimento, a cada passo do saxofone, no sentido de, sempre que estiver tocando, estar afinando o instrumento. O saxofone não é plenamente afinado, como muitos instrumentos acústicos não o são, mas o saxofone especialmente precisa de um trabalho de ouvido, e afinação constante enquanto executado.
Não aconselho o estudo de afinação diante de um afinador visual, pois esse tipo de estudo exercita o sentido da visão, e não o ouvido, sendo a afinação um fator de ouvido e não de visão em senso pleno. A nota longa, se possível, deve ser executada com uma nota pedal em conjunto, se possível outro saxofone, se não, outros instrumentos, uma banda, ou uma gravação qualquer que permita a comparação da afinação pelo ouvido e não pela visão por meio de um afinador visual.
A afinação é um exercício de percepção, onde há tensão há desafinação, onde há uma só nota, a ponto de não sabermos exatamente onde estão os dois sons, então há perfeita afinação.
Assim, unindo o saxofone a nós, por meio da embocadura, da respiração e da afinação do instrumento aos nossos sentidos auditivos, estaremos, aos poucos, por meio de exercícios de notas longas, aptos a tocar melhor, com um som mais belo em todos os sentidos.
Nada é mais inútil do que notas longas sem a consciência devida do porquê de estarmos fazendo o que estamos fazendo. É isso que devemos ter em mente quando executamos um estudo de notas longas, ou seja, todos esses três passos: embocadura, coluna de ar (respiração), e afinação. Isso deve estar muito bem definido em nossa mente, e devemos saber exatamente onde localizar esses passos em nosso estudo.
Fazendo assim estaremos aptos a nos unir com o saxofone, e a confluência desses fatores contribuirá para o nosso objetivo final, a saber, um belíssimo som de saxofone.
Daniel Vissotto