Os Super Agudos no Saxofone

O que são os Super Agudos

A região super aguda é a região que parte do sol da terceira oitava para cima, é uma região muitíssimo importante no saxofone, extremamente cobiçada por todos, pela beleza e o efeito que tais notas têm na execução do sax, essa região deve ser estudada com afinco e muita seriedade.

o terceiro andar do sax, sua terceira oitava
A Terceira Oitava

Não basta saber os chaveamentos, há todo um trabalho de percepção para poder ganhar as notas com maior afinação e precisão, um trabalho de fluência nos tais chaveamentos, um trabalho de conhecimento da peça específica do saxofone e suas idiossincrasias, da combinação de passagens que facilitam mais determinadas notas e posições, tudo isso deve ser estudado e explorado aos poucos pelo músico e seu instrumento, com afinco, sempre que possível.

O Papel dos Harmônicos para os Super Agudos

Por onde começar no estudo dos super agudos do sax? Há quem comece diretamente nos chaveamentos específicos dessas notas, porém, o mais recomendável mesmo é que se comece pelo estudo simples dos harmônicos, pois a flexibilidade da garganta, estudada com esse exercício inicial vai ser muitíssimo importante para a execução das notas super agudas no instrumento.

O que são sons harmônicos? Cada nota do saxofone não soa sozinha, mas sempre em conjunto com outras frequências imperceptíveis mais agudas, que formam estas uma série de notas chamada série harmônica. A série harmônica é mais facilmente encontrada nas notas graves do saxofone, como por exemplo o Bb grave, ou o B, ou ainda o C, e também o C#, há quem estude também a nota D grave.

a proporcao intervalar da serie harmonica para o saxofone
Série Harmônica

O primeiro passo é isolar os sons da série harmônica utilizando o mínimo de embocadura possível, e o máximo de técnicas de flexibilidade da garganta, ou seja, abrir e fechar a garganta, a cavidade oral, e trabalhar com a língua, principalmente, para tirar, desde o som fundamental da nota (o som mais grave), até os primeiros sons da série harmônica, que são perfeitamente possíveis de ser tirados apenas com o trabalho dos voicings (flexibilidade).

Depois de adquirir o domínio dessa técnica por meio dos sons harmônicos, precisamos ampliar a série harmônica aos poucos, quanto mais se estuda, mais se consegue nesse sentido, conforme a nota vai ficando mais aguda na série harmônica, mais e mais a coisa vai dependendo não apenas da flexibilidade da garganta, mas também de técnicas de embocadura que, bem ou mal, são exigidas nas notas mais agudas.

O trabalho de praticar a série harmônica não deve ser feito com a expectativa de um retorno imediato, mas sim deve ser feito como um investimento a longo prazo, estudando todos os dias um pouco que seja, para desenvolver a capacidade de automação da flexibilidade da garganta bem como as técnicas de embocadura necessárias para as notas mais agudas (sem é claro morder ou espremer a boquilha com os dentes ou os lábios).

O Próximo Passo

Dominada a série harmônica o próximo passo é começar a treinar as notas super agudas. Porém, precisamos ter a certeza de que o chaveamento escolhido para satisfazer essa exigência é o que melhor se adapta ao saxofone em questão e também ao músico que o está tocando, ou seja, é preciso muita experimentação, muito trabalho de reconhecimento, muito estudo para saber qual a melhor posição (chaveamento) e também quais as melhores técnicas de embocadura para a execução dessas notas.

No fundo, no fundo, as notas super agudas não são tocadas em si mesmas, sozinhas, mas em conjunto com outras notas, por meio de determinadas passagens e frases que facilitam a emissão dessas notas com maior perfeição e acerto. Por exemplo, é importante para se tirar notas super agudas procurar acostumar-se também com o chaveamento do fa frontal, tanto na construção da nota E da terceira oitava, quanto da nota F. A passagem por meio dessas notas facilita sobremaneira a execução das notas super agudas.

devemos definir a melhor porta para os super agudos
Portas para os Super Agudos

Esse conhecimento não se consegue da noite para o dia, é devagar que se aprende qual a melhor porta para qual nota, de forma que é preciso explorar muito o instrumento em todos os sentidos nessa região para poder compreender o funcionamento do saxofone que temos em mãos e também a reação do instrumentista específico a tudo isso, pois depende dessas duas coisas a definição dessas notas, passagens, chaveamentos e técnicas.

A Questão dos Chaveamentos

Conhecer os chaveamentos dessas notas é importante, procurar simplificar ao máximo, porém, quando não for possível, ter mais de uma posição disponível, pois para determinadas passagens musicais determinada posição será mais favorável, e às vezes outra posição será, por sua vez, mais favorável a outra passagem, de forma que é importante conhecer as posições, embora seja desejável que se simplifique ao máximo os tais chaveamentos, preferindo sempre os mais fáceis, embora efetivos, para que possamos assim ter uma produção mais certeira nessa região.

Depois de conhecidos os chaveamentos é hora de estudar essas notas por meio do exercício de notas longas, primeiro ligando graus conjuntos, depois com intervalos cada vez maiores, e depois tirando as notas em si mesmas, tentando até mesmo articulá-las como se fossem parte comum da tessitura normal do sax. O que precisamos desenvolver é um meio de tirar as tais notas, de desenvolver a forma da embocadura para cada uma delas, e também a fluência no chaveamento para as mesmas.

O Papel do Uso dos Super Agudos

É preciso começar a usar as notas super agudas em tudo o que fazemos no saxofone, começando por escalas, harpejos, ou qualquer coisa, até mesmo músicas mais simples, por meio das quais consigamos tocar, em todos os tons, essas notas, incluindo-as pouco a pouco na tessitura fundamental do sax, como se fizessem parte normal dela, quem não usa não desenvolve, quanto mais usamos essas notas no nosso dia a dia, mais fluentes e certeiras elas serão no momento em que formos exigidos de tocá-las.

Não poucos saxofonistas, percebendo a propensão de determinadas notas para determinadas passagens e chaveamentos, praticam frases prontas para poder ter um grande acervo de fluência das mesmas para o momento da improvisação, ou até mesmo do incremento da interpretação, ter um arcabouço grande de passagens que propiciem o uso das notas agudas é algo que certamente ajudará no momento da execução musical. Isso vai de conhecer, criar e muito treinar.

A Importância da Percepção

Mais do que nunca a percepção é algo que pesa nesse tipo de estudo. Primeiro no estudo das notas harmônicas, ou seja, sem saber qual nota queremos atingir não conseguiremos emitir o som desejado. É muitíssimo mais fácil conseguir emitir o som desejado dos super agudos sem conhecer o chaveamento correto (que vem para facilitar e não para, de forma decisiva, produzir o som e si mesmo), do que emitir o som correto sem conhecer mentalmente esse som na nossa cabeça ainda que tenhamos debaixo dos dedos o chaveamento correto.

Devemos imaginar a nota antes na cabeça para produzir os super agudos no saxofone
A Percepção e os Super Agudos

Definitivamente não é possível tirar os sons harmônicos e muito menos as notas super agudas sem ter um prévio conhecimento do da percepção das mesmas em nossa cabeça. Os super agudos, a exemplo dos harmônicos, dependem muito menos dos chaveamentos e muito mais da visualização mental do som que desejamos, antes de o produzir no saxofone. É preciso conseguir sinalizar com a voz as notas super agudas pelo menos, antes de produzi-las, para que possamos ter a capacidade de identificá-las e executá-las de maneira afinada e precisa.

O trabalho é de voicings, embocadura e ouvido, não apenas um trabalho técnico, mas há uma participação violenta da percepção na execução de tais notas, o ouvido tem de trabalhar, é preciso ter a consciência exata da nota super aguda antes de executá-la, tendo essa percepção, a coisas nessa região se tornam tremendamente mais fáceis.

Quanto aos Chaveamentos, Como Escolher

Quanto aos chaveamentos específicos dessas notas, a internet é cheia deles, todos estão, de certa forma corretos, porém, é preciso conhecer e testar todos eles para ver qual a melhor solução para você e seu instrumento, no sentido de se adaptar melhor com mais economia, simplicidade e facilidade, sendo efetivo, estes devem ser os princípios a serem seguidos no momento da escolha dos mesmos.

Lembre-se, o trabalho a ser desenvolvido nos superagudos é algo de cansativo, demorado e custoso, de forma que você nunca, jamais, deve se deixar perder por ele caso não tenha dominado em perfeição a sonoridade, a afinação e a execução das notas da tessitura normal do saxofone. Seria o mesmo que comprar e preparar um enxoval para um filho, sendo que nem casados somos ainda, ou seja, algo de inútil.

O Favorecimento do Setup

Por último quero afirmar que os super agudos precisam de um favorecimento prévio do setup, com certeza uma boquilha mais aberta facilitará a execução dessas notas, boquilhas muito fechadas certamente as transformarão numa atividade muito difícil, e até mesmo impossível. Outra coisa que favorece é a palheta, a palheta deve ser dura, não pode ser uma palheta vencida, ou ainda muito mole, uma palheta mais dura certamente ajudará na projeção dessas notas através do sax. Um bom luthier conhece também meios de regular o saxofone para facilitar a produção dessas notas, e um instrumento que seja propício a isso, com uma certa sorte, também facilitará, por sua construção a emissão dessa região.

O setup favorece a produção das notas super agudas no sax
O Setup É Importante

Os Voicings

É preciso levantar a língua, produzir a forma da garganta da sílaba IH, produzir ar frio, e também com uma considerável maior presão (por meio do diafragma), sem pelo menos essas técnicas simples não será possível a produção dos super agudos, o controle absoluto dos voicings é fundamental para essa região, por isso o estudo prévio dos harmônicos, pois é por meio desses que se adquire esse controle e esse conhecimento (ou seja, a automação suficiente para fazer esses voicings corretamente através do saxofone sem sequer ter consciência deles, ou seja, automaticamente).

Quanto mais se estuda, mais se adquire o controle dessa região, porém, há quem afirme, e eu sou um deles, que você jamais terá a mesma fluência nos super agudos que tem na região normal do sax, a mesma porcentagem de acerto do som das notas que tem dentro da tessitura do sax, de forma que é necessário minimizar ao máximo as limitações, porém, precisamos saber que o domínio absoluto jamais será possível, sempre haverá uma margem, ainda que mínima de descontrole.

O Comedimento

Os super agudos são uma região maravilhosa do sax, o efeito que essas notas causam numa execução é estarrecedor, o saxofonista se transforma num verdadeiro super-herói quando sabe executar essas notas com perfeição e bom gosto, porém, deve se saber que esse recurso, quando abusado sem comedimento, torna-se um mero meio de se exibir, o que causa um desgosto em quem ouve, de forma que o melhor, sempre, é utilizar as notas super agudas, porém, utilizar com moderação.

Quem não se emociona com o grito do saxofone nos super agudos? Quem não se emociona com a voz que expressa toda a nossa animalidade oculta, é preciso saber tocar os super agudos, é preciso estudar com afinco essa região, fazendo dessa forma, como dita acima, certamente, dentro de pouco tempo, conseguiremos dominar esse recurso tão importante, fundamental, e de tanto efeito para a magia do saxofone.

Para os que querem adentrar neste mundo de expressão, aconselho o curso Viva o Sax Básico, um curso franco e direto que levará o aluno a um caminho certo em direção a um conhecimento divertido e efetivo do saxofone, nele os primeiros passos e o desenvolvimento dos mesmos são abordados de maneira a conduzir o aluno a esse mundo de alegria e expressão.

Daniel Vissotto

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