Lembro-me que estudava no Conservatório de Tatuí, a Terra da Música, como eles dizem e ao chegar ao conservatório, vindo de Piracicaba (interior de São Paulo), eu me deparava um grande muro que havia entre o pátio e a rua que passava por detrás.
Na verdade, ao passar por detrás do muro escutava todos os meus colegas tocando no pátio do conservatório, estudando arduamente seus instrumentos para poder tocar em seus grupos e fazer suas aulas.
O que era impressionante era que, pelo timbre de cada um, conseguíamos identificar, sem nada vermos diante de nossos olhos por detrás do muro, quem estava no conservatório e quem não estava, bastava reconhecer o som dos saxofones.
Isso é o timbre, algo particular, algo pessoal, algo que depende de vários fatores, também do setup, mas não somente dele.
Sim, é importante ouvir muitos saxofonistas, é importante saber o funcionamento do equipamento que usam, é importante saber a onda para a qual queremos seguir e poder navegar em algo semelhante a ela em termos de setup mas não somente disso.
O timbre da mesma forma depende da concepção sonora que cada um possui do saxofone em si, ou seja, do som que identifica e busca com seus estudos lapidando no dia a dia, o som que busca a cada sopro, a cada aprendizado.
O timbre também depende da anatomia de cada um, ou seja, alguns tem mais quantidade de ar, outros têm menos, alguns tem a cavidade oral maior, outros têm menos, alguns têm mais ou menos lábios, a língua e os dentes em formato diferente e assim por diante.
O timbre também depende da configuração conjuntural, entendo por isso o conjunto de coisas que envolve o momento específico em que estamos tocando, coisas como clima, temperatura, disposição, estado de espírito, momento histórico de cada um etc.
Devemos esquecer a idéia de que gastando muito dinheiro e buscando o setup de determinado saxofonista famoso de determinada época, estaremos assim produzindo o mesmo timbre que ele. O setup influi sim, mas é apenas uma das muitas influências no timbre do saxofonista.
O ideal é que encontremos nosso próprio timbre, sabendo sim o equipamento correto a se buscar, porém, não desperdiçando mais tempo do que o necessário com isso. Pois o que constrói o timbre está intimamente ligado a outros fatores muito mais decisivos.
Para finalizar, acredito pessoalmente não devemos buscar soar exatamente como determinado saxofonista, mas ter nossa própria voz nossa própria personalidade.
Daniel Vissotto