Exercícios de flexibilidade da garganta, ou ainda, dos voicings, são exercícios que trabalham tudo aquilo que está relacionado ao que está atrás da embocadura.
O que é a embocadura? A embocadura é o que tem relação com os dentes, os lábios e os músculos da face, mais especificamente aquilo que forma o embocar da boquilha do saxofone.
Já os voicings, ou ainda, a flexibilidade, está relacionada à garganta, à faringe, à glote, à língua, ao palato mole, à cavidade bucal como um todo, e a tudo o que está atrás da embocadura que influencia diretamente no som do saxofone.
Onde o Som do Saxofone Começa
Diferentemente do que muitas pessoas pensam, o som do saxofone não começa na boquilha se projetando no instrumento em si mesmo. Há inúmeros fatores que promovem o som do saxofone e que são anteriores a tudo isso.
O som do sax começa antes, desde a inspiração até o processamento do ar, bem como a maneira como a coluna de ar é construída e direcionada, passando pelo estado de espírito do saxofonista, e também a própria mentalização da nota a ser tocada.
A flexibilidade é apenas mais uma parte desses fatores que produzem o som. O princípio que rege a formação e o controle dos voicings é o do canto, no sentido de que, quando tocamos uma nota, devemos fazer com nossa cavidade bucal o formato de alguém que está de fato cantando a nota sem cantar.
Pensando dessa forma teremos condições de produzir uma cavidade bucal que acompanhe o formato cônico do saxofone, e que, por conta disso, consiga transmitir um som mais afinado, mais bonito e mais bem formado.
A produção da flexibilidade da garganta se dá por meio de uma coordenação entre a mente que imagina o som como deve ser, o corpo que o executa tanto no saxofone quanto nos voicings, e na audição que se utiliza de sua percepção para saber como coordenar tudo isso.
A maneira como costumamos coordenar os voicings seria tocar o saxofone como se estivéssemos cantando as notas que estamos tocando, porém, sem a vibração das cordas vocais, mas acompanhar com a garganta o canto das notas.
As Sílabas dos Voicings
Para quem tem dificuldade de acompanhar notas com o ouvido, podemos resumir esse trabalho da flexibilidade da garganta como se fosse o seguinte: produzir a sílaba AH (ou ainda um OH) para as regiões mais graves, a sílaba EH para as regiões mais médias, e a sílaba IH para as regiões mais agudas.
Só o simples produzir destas sílabas trabalhará a abertura da cavidade bucal e a língua, no sentido de produzir os voicings mais adequados a cada região do saxofone. É preciso atentar para o fato de que não tocamos todas as regiões do sax da mesma forma, algo tem de mudar.
Sim, há uma leve mudança na pressão dos lábios, e também da mandíbula, porém, ela deve ser a mínima possível, não devemos fazer de nossa embocadura um samba do crioulo doido para poder tirar as notas, daí a participação da flexibilidade, pois é de lá que virá a adaptação.
É a flexibilidade da garganta que se adapta de maneira mais acentuada às diferentes regiões do saxofone, é ela que muda de fato, é ela que devemos utilizar a nosso favor para produzir sons graves, médios e agudos, é nela que está o segredo da afinação e da produção mais fácil do som no sax.
Exercícios para Desenvolver os Voicings
Há, entre inúmeros exercícios passíveis de serem feitos para desenvolver a flexibilidade da garganta, alguns exercícios que vou mostrar aqui neste texto. São exercícios principalmente para conseguir tirar a tensão excessiva da boquilha, e trazer para os voicings a responsabilidade das alterações que produzirão o som nas diferentes regiões do sax.
Boquilha e Tudel
O primeiro deles é o exercício com a boquilha. Consiste em montar a boquilha com palheta, abraçadeira e boquilha, e produzir somente com esta parte do instrumento notas longas e estáveis, quando falamos de notas longas falamos de notas sem oscilação, retas, fixas, estáveis, este seria o primeiro exercício.
Como segundo exercício com a boquilha podemos utilizar da mesma para produzir escalas, harpejos e também pequenas músicas, nos sentido de, apenas pela produção da flexibilidade da garganta, alterar a afinação da nota produzida, o que fará com que desenvolvamos a capacidade de afinar pelos voicings.
Cinco minutos diários deste tipo de exercício já são suficientes para grandes alterações na sonoridade do saxofone, principalmente no que toca ao uso dos voicings e não da pressão demasiada na embocadura para a produção do som nas diferentes regiões do sax, evitando o impedimento da vibração da palheta, e contribuindo para um som mais cheio e com mais harmônicos.
O mesmo que fizemos com a boquilha pode ser feito com o tudel, de preferência com uma referência sonora externa, por meio da qual consigamos nos basear para afinar o som que estamos produzindo. Primeiro notas longas e estáveis, e depois a produção de escalas, harpejos e pequenas músicas apenas com o tudel e a boquilha, e o uso da flexibilidade da garganta.
Notas Longas
Notas longas são o exercício mais clássico do saxofone, se há uma unanimidade entre os professores de saxofone é este exercício, que, além de fácil de ser realizado, produz muitos efeitos positivos na execução do som do saxofonista.
Em todas as regiões do sax, produzir notas longas estáveis, limpando o som do instrumento e conhecendo a fundo cada nota, cada região, cada embocadura, cada voicing de cada produção sonora, de forma a adquirir uma memorização e um costume de sonoridade.
Produzir notas longas em diferentes dinâmicas é outro passo importante, desde um meio forte, até um crescente, decrescente, e também um crescente decrescente o que fará com que adquiramos domínio sobre a dinâmica do saxofone, conseguindo atacar as notas com maior delicadeza e facilidade, sempre atentando para as diferentes regiões do sax e os voicings a elas pertencentes.
Exercícios com Harmônicos
Um outro exercício importante que poderia ser aplicado é o exercício de produção dos harmônicos no saxofone. Falando a grosso modo, os harmônicos são sons inaudíveis, que enriquecem o som fundamental de uma nota, isso em todos os instrumentos. Nenhuma nota se dá sozinha e pura, todas as notas são enriquecidas com os harmônicos.
Separar e produzir os harmônicos a partir das notas fundamentais do saxofone, principalmente as mais graves, que são mais fáceis de se trabalhar este tipo de exercício, pelo trabalho constante da flexibilidade da garganta é algo de maravilhoso para descobrir e treinar os voicings no saxofone.
Isso sem dúvida alguma ajudará a produção sonora do som no saxofone em todas as suas regiões, desde a grave, a média, a aguda e a superaguda. Pois treinando os voicings característicos de cada uma dessas regiões conseguiremos produzir o som com maior afinação, facilidade, e beleza.
Conclusão
Há inúmeros outros exercícios que poderíamos citar aqui para o trabalho da flexibilidade da garganta, porém, estes são os mais comuns e de maior efetividade. É importante saber que o som não começa na boquilha, que há algo mais além disso na produção sonora do saxofone.
Desde a respiração diafragmática, passando pelo processamento mental e espiritual do som, chegando à formação e projeção da coluna de ar, bem como a entonação dos voicings, alcançando o que toca à embocadura do sax, e por último, depois de todo esse processo, à produção do som no instrumento em si mesmo.
Tudo isso é produção de som, tudo isso é o saxofone em nós. No curso Viva o Sax Básico temos os primórdios dos voicings para iniciantes, um conhecimento fundamental para todos, para você que quer conhecer mais sobre os voicings, sua influência sobre a afinação e o timbre do saxofone, recomendo uma aula avulsa com o Professor sobre o assunto, caso esteja com dificuldades de afinação, não esteja satisfeito com seu timbre, ou qualquer coisa nesse sentido, com certeza suas dúvidas serão contempladas.
Daniel Vissotto