O Porão do Sax: os Graves no Saxofone

O Porão do Sax

Se há uma região do sax que é temida pelos iniciantes e até mesmo por muitos saxofonistas já experimentados no sax, essa região é a região grave, isso em todos os saxofones, mas principalmente no alto e no tenor.

Seria como se essa região fosse um porão mal-assombrado do saxofone que muitos evitam até mesmo adentrar. Você ficaria abismado de saber a quantidade de iniciantes, ou até mesmo de saxofonistas que já tocam há muito que sequer sabem os chaveamentos dessa região.

Os graves do saxofone seriam como um porão mal assombrado
O Mal Assombrado

Veja bem, o sax já tem uma tessitura pequena, são apenas duas oitavas e mais algumas notas no agudo e no grave. De forma que, em comparação com um piano, por exemplo, o sax é extremamente limitado em tessitura por natureza, se cortamos ainda mais notas deste instrumento, aí ele se torna quase que impraticável.

A prática mais comum é, ou evitar as notas graves no saxofone, ou simplesmente escondê-las em meio à execução, simplesmente não tocam, ou ainda, o que é mais estranho, quando vão para essa região diminuem o volume do sax a ponto de que ninguém as ouça, ficam subentendidas, e muitas vezes não as estão tocando mesmo.

Há uma grandiosa expressividade nos graves, são capazes de produzir contrastes, são capazes de fazer efeitos sonoros, são capazes de encantar, são capazes de produzir algo de inovador à melodia, ao improviso, ao floreio etc., não podemos simplesmente desprezar essa região, antes devemos dominá-la.

Todas as Facetas das Notas Graves no Saxofone

Estive pensando durante muito tempo para produzir este artigo sobre os graves do saxofone, e quis encarar nele todas as facetas das notas graves, tudo o que é possível fazer para facilitar a projeção do som real nessa região, o resultado foi a lista a seguir, acompanhe passo a passo, e procure aplicar no seus estudos.

Se você não solucionar de vez as suas dificuldades com os graves, certamente encontrará uma melhora significativa e consistente nessa região grave do saxofone, a consciência do problema é o primeiro passo para a solução, e a busca incessante pelo caminho certo é o inevitável alcançar, em algum momento, do domínio dessa técnica.

Num primeiro instante, todo aquele que intenta adentrar nos porões do saxofone, a região grave, tem de estar disposto a frustrar-se, é do conjunto de frustrações que se retira o aprendizado para não mais precisar se frustrar, de forma que é por tentativa e erro, por desenvolvimento, por aprimoramento da técnica de se tocar o sax que conseguimos vencer essa dificuldade com notas graves do sax.

Trabalhe com um Saxofone em Ordem

Verifique o seu saxofone regularmente. Sim, é importante visitar um luthier regularmente, ou ser você mesmo o seu luthier e ter pleno domínio do seu setup, no sentido de poder deixá-lo sempre em ordem para a execução sonora no sax, principalmente dos graves, pois todo problema de vazamento do sax recai nos graves, sempre.

Um sax bem vedado, bem regulado, em dia, com sapatilhas novas e bem posicionadas, um sax que esteja definitivamente em ordem é o primeiro passo para entrar no porão do sax (as notas graves) e não se frustrar, aprenda uma coisa, e a verdade é essa, não é possível tocar graves no saxofone com um instrumento que não está em ordem, pura e simplesmente assim.

O primeiro passo para tirar notas graves no saxofone é ter um saxofone em ordem
Saxofone em Ordem

A Postura no Saxofone

Verifique após isso a sua postura enquanto toca num espelho, ou ainda, numa gravação em vídeo. Você deve estar ereto, seus ombros têm de estar relaxados ao tocar, sua garganta deve estar livre da tensão dos ombros, seu abdômen deve estar livre para controlar o ar, sua posição tem de ser ereta, a postura é o primeiro passo para se tocar graves com perfeição, conheço casos de alunos que, pelo simples corrigir postural já conseguiram melhorar em muito nessa técnica.

A importância da postura pra um saxofonista conseguir tirar as notas graves
A Importância da Postura

A Importância de Conhecer o Chaveamento Correto do Sax

Um próximo ponto é o chaveamento, você tem de conhecer o chaveamento correto das notas graves, tem de dominar o posicionamento dos dedos nas duas mesas do dedo mindinho do sax, tem de saber exatamente o que fechar e o que abrir em cada nota grave, mais uma vez, não é possível produzir o som correto com o chaveamento errado, principalmente na região fundamental do sax.

O Espelho e o Saxofonista

Interessante é treinar o chaveamento das notas graves do sax ainda sem assoprar no instrumento, diante de um espelho, até dominar exatamente a forma das notas, e conseguir assim não fazer notas intermediárias, procurando chaves que não estão presentes, ou tendo um dedilhado impreciso que ocasione a falha das notas. Faça isso antes de começar a treinar os graves.

A importância do espelho para conferir postura e chaveamentos
O Espelho e o Saxofonista

O Setup Correto

Outra coisa importante é ter o correto setup de saxofone, a palheta aqui é a chave da questão. Uma palheta muito dura pode prejudicar tremendamente a projeção sonora dos graves, pois impedirá a facilidade da vibração durante essas notas, e a vibração é importantíssima para os graves, eles precisam vibrar, e uma palheta muito dura certamente atrapalhará.

Outra questão é não pender para o lado oposto, não usar uma palheta muito mole que, quando o ar for impulsionado nos graves, ela venha a travar o som, fechar-se e impedir a passagem do ar; a palheta tem de estar no peso certo, de forma que aconselho a testar várias palhetas, marcas, modelos e numerações para encontrar a que melhor se adapta a esse desafio.

Tendo um sax bem regulado, uma postura correta, conhecendo, sem enganos, o chaveamento preciso do sax nessa região, e possuindo uma palheta num peso ideal para sua boquilha, a coisa se torna muitíssimo mais fácil para a projeção das notas nessa região.

A Embocadura do Saxofonista

A questão da embocadura também é muito importante, para tocar nas regiões extremas do sax, em especial os graves, é necessário ter estabilidade de embocadura. Se os músculos da sua face não estão acostumados a produzir uma forma estável de embocadura, e ficam variando, instáveis, nessa região, fatalmente o som vai variar, a nota vai se perder e você vai parar num guincho ou num harmônico dessas notas.

Para tanto é preciso fazer notas longas todos os dias, só por meio de notas longas exigimos da embocadura um rápido desenvolvimento muscular que nos permita não apertar, nem morder, nem usar de força para fazer a embocadura, mas ter sim a estabilidade da forma dessa embocadura necessária para essa tarefa. Embocadura não é força, é forma, e forma precisa de força para acontecer com estabilidade.

Muitos saxofonistas querem conseguir produzir os graves de uma hora pra outra, e não atentam para esse detalhe, a embocadura não se desenvolve da noite para o dia, é um processo, de maneira que é impossível produzir notas graves se você não possui uma embocadura estável e formada para tanto, e a maneira de conseguir essa embocadura é por um processo de aprendizado que se dá no tempo, e não por uma fórmula imediata.

O correto ponto de pressão na embocadura (dos lábios e da mandíbula) também é algo essencial para ser encontrado. Nem tão tensos que não permitam a passagem de ar suficiente, pois os graves são uma região que precisa de ar, e nem tão relaxados suficiente de forma que tudo o que consigamos produzir no saxofone seja apenas ar. Precisamos encontrar um ponto específico, que é de fato, um pouco mais relaxado do que nas demais regiões do sax, porém, dentro desse ponto específico que nos permita tocar os graves do saxofone com maior efetividade.

Para tanto precisamos testar níveis de tensão da palheta pela parte inferior da boca, começando pelo total relaxado até o apertado, e encontrando aos poucos o ponto ideal, que é um pouco, e quando digo pouco é muito pouco mesmo, mais relaxado do que nas demais regiões, mas não tão relaxado que não consiga produzir som. A abertura da palheta nas notas graves tem de ser suficiente para que o ar passe e produza estas notas.

Os Voicings no Saxofone

Tudo isso está relacionado à embocadura, mas a produção do som do sax começa antes dela, nos chamados voicings, ou ainda, os vocalizes do sax. A garganta, a posição da língua e do palato mole, a cavidade bucal, a abertura da faringe etc. tudo isso irá contribuir, se posicionado da maneira correta, para a produção dessas notas, de forma que precisamos falar um pouco sobre isso também.

Para que as notas graves sejam alimentadas por quantidade suficiente de ar, precisamos abrir a passagem da coluna aérea de maneira que isso possa ocorrer. Não é possível tirar graves se você tensiona sua garganta atrás da embocadura, é preciso relaxar a garganta e abrir a cavidade bucal, uma garganta estreita transmite ar em grande velocidade, os graves precisam de um ar mais lento.

O ideal é que consigamos, ao tocar as notas mais graves, produzir a forma da vogal AH misturada com a vogal OH atrás da embocadura, isso irá abrir a garganta, abaixar a língua, abrir o palato mole, aumentar a cavidade bucal, e liberar a faringe para a passagem do ar. Já falei isso para inúmeros alunos e muitos deles conseguem vencer esse problema apenas por essa dica: IH para os agudos, EH para os médios e AH (OH) para os graves.

É importante também notar que há uma qualidade diferente do ar na região aguda e na região grave do sax, o chamado ar frio e ar quente. O que é isso, o ar frio é produzido quando assopramos da mesma forma que vamos apagar uma vela de um bolo, com um filete pequeno de ar, o ar quente é produzido quando assopramos da mesma forma como quando vamos embaçar um espelho, com uma grande abertura de ar. Devemos atentar para o fato de que nos graves utilizamos o ar quente e não o ar frio, isso é importantíssimo.

A Respiração Correta

Agora vem a parte que considero mais importante, a saber, a parte da respiração. Traga o ar para dentro da região do tronco da seguinte maneira, primeiro embaixo, depois no meio, e por último na parte de cima. Encha bem o pulmão de ar, e controle a saída desse ar pelos músculos do abdômen, principalmente, e os músculos intercostais. 90% dos problemas com as notas graves são em função de uma respiração inadequada no sax.

É preciso usar os músculos do abdômen para pôr o ar para fora, respirar pela boca, e pressionar o ar no saxofone com uma pressão constante. A palavra chave aqui é constância, sem constância não há notas graves, as notas graves são fruto de uma coluna de ar firme e constante, controlada e gradativamente empostada para que as notas sejam estáveis e bem colocadas. O uso do diafragma é essencial.

A questão dos graves é menos relacionada à quantidade de ar (mais forte ou mais fraco), mas sim à pressão do ar (mais constante ou menos constante), é preciso ter uma pressão definida, um ataque rígido e preciso, e uma coluna de ar estável que permita aos graves poderem se apoiar e serem produzidos com plenitude e beleza.

O Uso

Por último, vem o uso, ou seja, ninguém consegue dominar algo que não usa, precisamos começar a colocar os graves em toda a nossa execução, não mais evitar essa região, não mais esconder essas notas, mas tocá-las em tudo o que fazemos, pronunciá-las de maneira explícita. Fazendo assim, mantendo-nos nessa busca, certamente conseguiremos vencer em todos os sentidos para com a busca de explorar e dominar os graves, fincando definitivamente uma bandeira amiga naquilo que dantes chamamos de porão do sax.

Para quem quer um acompanhamento mais detalhado de como lidar com os graves, com exercícios específicos para essa região recomendo aulas diretas com o professor, o que fará com que você tenha maior direcionamento nesse sentido, e assim possa ser acompanhado de forma mais clara nessa conquista.

Daniel Vissotto

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