Qual o melhor saxofonista do mundo? Nossa… uma pergunta ousada.
Não há como esconder, muitos perguntam isso no seu íntimo, outros já possuem o felizardo dentro de seus corações, muitos acreditam que esta pergunta faz muito sentido, há até mesmo concursos e prêmios para esse tipo de escolha, faria mesmo essa pergunta sentido? Ainda me questiono sobre essa possibilidade, embora a pergunta seja muito comum.
Algumas Possibilidades
Quem sabe um saxofonista das antigas? Como comparar um Coleman Hawkins a um Michael Brecker por exemplo? O recursos eram diferentes, a linguagem era diferente, o som do saxofone era diferente, o próprio setup usado era diferente, as músicas tocadas, os movimentos musicais disponíveis etc. Tudo era diferente, logo não há como comparar uma coisa com outra sem cometer um anacronismo desgraçado.
Então um saxofonista recente? Um Joshua Redman, por exemplo? Talvez, porém, percebemos que os saxofonistas recentes têm as mesmas barreiras para com os antigos que os antigos têm para com os recentes, e mais, os recentes estão há muito pouco tempo conosco, e não temos real noção da dimensão de seu legado.
As épocas brigam entre si, há quem defenda que o melhor está no passado, outros no futuro, e outros ainda no presente, porém, o que é comum a todos é que os argumentos para tamanha ousadia de escolha quase nunca se sustentam diante da realidade dos fatos.
Quem sabe um saxofonista brasileiro, por que não? A verdade é que desde sempre o Brasil foi mundialmente respeitado em termos musicais. Tivemos expoentes como Pixinguinha, Paulo Moura, Roberto Sion, Vinicius Dorin, Nailor Azevedo Proveta etc.
Entretanto, por que seria brasileiro? Porque sou brasileiro? Muitos se revoltam pela não menção de brasileiros. Por que eu teria a obrigação de citar um brasileiro apenas porque sou brasileiro? Essa simpática obrigação não revela nada mais nada menos do que um amor pelo próprio umbigo, pode ser um brasileiro tanto quanto um japonês, por exemplo, quem sabe um Sadao Watanabe.
Mas qual seria o critério para a escolha desse saxofonista tão especial? A técnica? A criatividade? O fraseado? O estilo? O sucesso? O que poderia fazer com que eu reconhecesse um saxofonista “melhor” do que o outro, no sentido de que possamos assim determinar o privilégio dessa escolha?
Escolher o melhor é algo que podemos dizer pertencer a uma competição, é impossível alçar-se à condição de melhor, sem colocar os demais na condição inevitável do pior, o melhor supõe o pior, de forma que ao escolher um saxofonista melhor do que o outro, temos como conclusão de que o outro é pior do que o um, de forma que é um juízo de valor injusto sobre algo que não é exato como matemática.
Há inúmeras Variáveis
A verdade é que há tantas variáveis envolvidas nessa escolha que nos escapam à percepção e à simples mentalização, simplesmente não sabemos por que escolher este àquele, de forma que toda escolha paira sobre uma idéia própria que não pode ser compartilhada com todos, de forma que passa a ser uma escolha pura e simplesmente para si, e não para todos os demais.
Seria possível emitir tal juízo para tudo e todos? Seria como escolher a melhor música, escolha que, de fato, não pode ser feita de forma universal, pelo contrário, é uma escolha de um para si mesmo, e não para os demais, de fato não há como escolher a melhor música, pois umas músicas falam mais a uns do que a outros, e vice-versa. Os motivos para que tal coisa aconteça são os mais variados.
A escolha artística depende de uma série de fatores: a história de quem ouve o artista, a identificação de quem está ouvindo com o artista em questão, a proximidade da linguagem utilizada pelo artista para com quem o entende, o gueto com o qual o artista está falando, há uma série de fatores que sempre vão nos escapar, produtos de coincidência ou não que incidem na escolha do artista, e da música quando vamos escolher.
E mais, há um momento em que determinada música fala mais do que outras, e outro em que outra música fala mais do que esta determinada música escolhida anteriormente. Um artista pode falar mais do que todos hoje, e menos do que outros amanhã, de forma que depende também de nosso estado de espírito, de um estado de espírito coletivo, e de como vamos receber a obra desse tal.
Seria Possível Responder Essa Pergunta?
Mas então seria possível responder a tão comum pergunta sobre “qual o melhor saxofonista do mundo”? E se particularizarmos a pergunta? Ou seja, se perguntarmos, qual o melhor saxofonista do mundo para você neste atual momento sob tal aspecto, em tal circunstância? A resposta certamente fica mais próxima, embora ainda completamente distante.
Como comparar arte, um artista está falando de dor, outro está falando de alegria, outro está falando de relacionamentos, outro está falando de tristeza, e tudo isso é nada frente ao mundo ao qual a arte pode se referir, de forma que, comparar uma obra de arte com outra, de maneira a escolher a melhor dentre elas, é algo que sempre vai conduzir a um impasse.
Quem quiser se alçar a essa busca, que seja sincero consigo mesmo e diga que toda escolha será arbitrária e subjetiva, de forma que será uma escolha injusta, em vão e cuja utilidade para todos os demais será nenhuma.
As épocas dos saxofonistas são diferentes, os fatores que os englobavam em cada época eram completamente díspares, a origem dos saxofonistas conta, muitas coisas presentes num lugar não estão presentes em outro, o critério escolhido pode ser qualquer, e privilegiar isso àquilo será sempre uma injustiça, o juízo de gosto não poderia ser algo passivo de uma comparação, de uma generalização para todos, quando na verdade é algo que pertence a cada um. Por estas e outras, a escolha artística acaba por não fazer sentido.
Seria Ele Eu Mesmo? Você?
Alguns vão mais longe, o melhor saxofonista do mundo sou eu, o som de saxofone que eu mais gosto é o meu, afinal é o meu! Porém, se pensarmos um pouco a fragilidade desse argumento cai facilmente por terra. O cabelo é o meu, mas nem por isso é o cabelo mais longo, o cabelo mais belo, o cabelo mais brilhante, o cabelo mais usado, o fato de ser meu pouco importa para todos esses critérios.
Esse tipo de escolha: “o melhor som é o meu, o melhor saxofonista sou eu” nada mais nada menos do que revela a megalomania de quem fala.
Mas temos de dar uma resposta a uma pergunta que se repete como algo inevitável por todos os cantos por onde passamos onde o saxofone está presente, e a curiosidade humana se faz real. Todos querem saber qual é o melhor saxofonista de todos os tempos.
O único meio dessa pergunta fazer sentido é particularizando a mesma num grau de proximidade tamanho que a resposta somente fizesse sentido para quem respondeu. Dessa maneira não sou eu quem deve responder, mas você que lê esse artigo.
A Resposta Final
O melhor saxofonista do mundo é aquele que fala ao seu coração, cuja voz toca o seu interior de verdade, cuja mensagem faz sentido em todos os aspectos, e cuja música é como um bálsamo para seu dia a dia, expressando em seus meandros cada movimento, cada palavra, cada atitude.
E de fato ele existe, é certo que não para todos, mas para cada um de nós. É principalmente ele que nos chama para o mundo do sax, para viver o sax, pois nos espelhamos em seu som, em seu fraseado, em sua música, em sua criatividade etc. para seguir em frente.
E você o que acha, qual o melhor saxofonista do mundo? Deixa sua opinião aqui embaixo nos comentários.
Caso você queira entrar nesse mundo, e ser influenciado diretamente pelo seu melhor saxofonista do mundo, não perca tempo, comece por um curso de saxofone confiável, que te dirija de maneira divertida e eficaz pelo mundo do sax e siga a partir disso na direção do sonho.
Daniel Vissotto