O papel fundamental de um aquecimento é o de preparar o músico para o estudo mais árduo do saxofone, sem que ele passe por choques indesejados que causem traumas que possam desestimular o estudo ou até mesmo fazer com que venhamos a sofrer algum problema físico.
Num de meus contatos com Nailor Proveta, uma das grandes referências do sax no Brasil, ao ouvi-lo falar sobre como começava seus estudos, ele me falou que começava sempre do mais fácil para o mais difícil, do mais simples para o mais complexo, do que exigia menos para o que exigia mais do músico.
Os exercícios de aquecimento devem em primeiro plano envolver sonoridade, a sonoridade está intimamente ligada a três aspectos do saxofone: embocadura, afinação e controle de coluna de ar. Estes devem ser os três principais aspectos de um aquecimento básico do saxofonista.
Outros aspectos de um aquecimento envolvem principalmente a movimentação dos dedos, e também o quesito articulação da língua, coisas que o músico vai desenvolver nos seus primeiros estudos propriamente ditos, como por exemplo estudos de harpejos e escalas em diferentes convergências e possibilidades.
Não há uma regra para o quanto devemos aquecer, e como devemos organizar esses exercícios. A quantidade de tempo de um aquecimento depende do quanto de tempo temos para estudar, ninguém deve passar todo o estudo aquecendo, todavia ninguém deve estudar sem aquecer.
Acredito que, partindo do princípio de que devemos começar pelo mais fácil e caminhar para o mais difícil, temos que a região média do sax é a mais propícia para começarmos a tocar, a nota sol é considerada pela grande maioria a nota mais fácil do sax. Comecemos então com exercícios que envolvem notas longas a partir da região média do saxofone, partindo assim lentamente para o agudo e posteriormente para o grave.
Fazendo apenas isto já estaremos desenvolvendo os três principais aspectos da sonoridade indicados acima, a saber, embocadura, afinação e controle de coluna de ar. A homogeneidade sonora em todos os sentidos deve ser buscada a todo custo. Podemos incluir nestes estudos o quesito da dinâmica em todos os seus aspectos, e também o vibrato, que exigirá o movimento dos músculos faciais.
Outra possibilidade é começar por intervalos, primeiro intervalos de menor choque, segundas, terças, até chegar a oitavas, mesclando todo o estudo que envolve intervalos com notas longas em meio a ele. Isso fará com que consigamos ultrapassar o choque inicial do trânsito entre as regiões do sax o que é uma dificuldade para muitos.
Para movimentar os dedos escalas e harpejos, ou a mistura de tudo isso, primeiro lentamente, e depois com mais velocidade, no sentido de começar apenas com o dedilhado aquecendo os dedos, e aos poucos incluir também um estudo especializado de articulação que permita ao músico utilizar-se de todos os recursos do saxofone pouco a pouco até os ter todos no gatilho para os desafios mais pesados do estudo musical.
Em geral o aquecimento musical deve seguir esses princípios, dentro dessa linha há uma série de exercícios que possam ser construídos e executados. O importante é que o estudo musical, após um aquecimento seja o mais prazeroso e efetivo possível, esse é o principal fundamento de um verdadeiro aquecimento.
Daniel Vissotto