Notas agudas no saxofone a que me refiro são as notas da terceira oitava que começam com o C com registro até o F# das três marias. Não falo aqui ainda da questão dos super agudos, mas da região mais aguda do saxofone.
Primeiro de tudo é importante entender que as notas agudas do saxofone são importantíssimas para a expressão musical. Não é possível se expressar plenamente no saxofone sem ter o domínio das notas agudas.
Quase toda a frase que tem tensão, e que termina num clímax, vai para uma nota aguda, uma música que só se mantém na região média do saxofone, sem caminhar para os extremos é uma música pouco expressiva, que não trabalha contrastes.
Notas agudas são importantes para produzir clímax mais destacados, é nelas que conseguimos trazer a atenção do ouvinte, para um momento de grande força e ira do saxofone. De forma que, inegavelmente, é fundamental ter o domínio dos agudos para poder se expressar neste instrumento.
Não que este seja o único uso das notas agudas, porém, sem dúvida nenhuma é um dos mais importantes, de forma que não há expressão satisfatória no saxofone sem o uso e o domínio das regiões extremas.
A Questão das Crenças Limitantes
Crenças limitante são aquelas que nos levam a desenvolver até mesmo hábitos que nos fazem, hoje, amanhã e sempre estar presos a gaiolas que nós mesmos construímos para nós. É importante quebrar crenças limitantes.
Muitas das vezes nem sabemos quais são elas, tomamos certas coisas da vida como naturais, e nem sequer chegamos a questioná-las para poder entender melhor, ou ainda para poder testá-las como algo de efetivo resultado.
Uma das crenças mais limitantes do saxofonista é em relação às notas agudas. A crença que corre a cabeça da maioria dos saxofonistas é aquela de tudo no saxofone é sustentado pela embocadura, pelo apertar e soltar a mandíbula.
No mundo do saxofone e da sonoridade deste instrumento há um universo aberto a todo aquele que entende que nem tudo o que está lá resume-se a apertar e soltar a mandíbula, de fato, essa crença se deve ao fator visão.
Explico. A embocadura, na sua definição mais estrita, é formada de lábios, dentes, e músculos da face. Entende-se que isso é visível ao saxofonista, porém, há toda uma região interna, invisível ao saxofonista que deve ser contemplada e usada na produção sonora do saxofone.
As notas agudas, e os extremos do sax de uma forma geral, jamais serão dominados sem que haja um conhecimento dessas técnicas. É preciso entender que a relação que temos com o saxofone vai além da embocadura, e mais, não se resume a apertar e soltar a mandíbula.
A Parte Invisível e Interna da Produção Sonora
A boca é formada de diversos músculos que se movem, a língua por exemplo é algo de suma importância para a produção sonora do saxofone, a posição da garganta é fundamental, o palato é algo que influencia muito, a cavidade oral como um todo é importantíssima.
A maneira como inspiramos o ar, a maneira como processamos o ar dentro do organismo, a maneira como impulsionamos o ar para o saxofone, tudo isso vai contar no timbre, na afinação, na produção sonora, na resposta, e no som do saxofone como um todo.
É preciso tomar consciência desses fatores, para que possamos começar a desenvolver essas técnicas, que nos permitirão tirar agudos cheios, bonitos, vibrantes, e plenos, coisa rara entre a maioria dos saxofonistas.
De maneira geral os saxofonistas possuem um som agudo espremido, estrangulado, pequeno, fosco e feio. É interessante notar que, no momento de maior destaque das frases do saxofone, no clímax o som ironicamente se transforma em algo de decepcionante.
É preciso inverter essa lógica, e vamos falar sobre isso neste momento. A razão número um desse problema é que a maioria dos saxofonistas identificam que quanto mais aguda a nota, mais apertada deve ser a mandíbula.
Essa crença decorre sim de um fator real. O saxofonista iniciante sente dificuldade mesmo com as notas agudas, e percebe que a sua produção é facilitada ao apertar, porém, essa facilidade é limitada, a nota até consegue sair, o que é melhor do que nada, porém, sai estrangulada.
Definitivamente não é esse o meio de resolver o problema das notas agudas, que não saem, ou se perdem até mesmo na oitava abaixo, ou ainda o que é pior, saem estranguladas e desafinadas, geralmente mais agudas do que devem.
Aquilo que te Limita na Hora de Produzir Notas Agudas
A solução para isso começa no momento em que percebemos que nem tudo é mandíbula no saxofone, como disse, há um universo atrás da embocadura que deve ser trabalhado, e vamos falar sobre ele para podermos solucionar esse problema.
A questão da memória muscular é definitiva neste momento, devemos saber que um hábito desenvolve uma memória, e uma memória desencadeia reações involuntárias difíceis de serem identificadas, e ainda mais difíceis de serem modificadas.
Há métodos famosos como o Elementary Rubank que até mesmo insinuam que o caminho para produzir notas agudas é apertar o lábio inferior. O que venho defender aqui é que não, não é esse o caminho, pelo contrário, o que devemos fazer é relaxar o lábio e a mandíbula.
Ocorre que ao relaxar o lábio e a mandíbula, naturalmente as notas, ou perdem drasticamente sua afinação ficando muitíssimo mais graves, ou ainda, acabam por perder-se de seu centro vindo a soar uma oitava abaixo.
Não nego, de fato é isso que vai ocorrer, e é o que ocorreria se tudo se resumisse a embocadura e apertar ou soltar a boquilha com a mandíbula, porém, o saxofone está longe de se resumir a isso, e vamos agora conhecer os demais fatores que estão relacionados à produção sonora dos agudos do saxofone.
Como disse o primeiro fator é relaxar a embocadura, ou ainda, pelo menos, não apertá-la, no sentido de manter ao mínimo a embocadura que vem da região média do sax. O porque dessa atitude é para que a palheta possa vibrar, para ter som cheio e bonito de agudo, a palheta tem de vibrar, o que não acontece se apertamos a mandíbula.
Uma vez permitida a vibração da palheta precisamos compensar a dificuldade que surge com outras técnicas internas e invisíveis. A dificuldade a que me refiro é a queda da afinação, ou ainda a perda da nota para a oitava debaixo, ou ainda o guincho da mesma.
O Ponto de Sustentação das Notas Agudas do Sax
Para que possamos compensar essa questão precisamos sustentar a nota, a partir do momento em que relaxamos a embocadura não mais na mandíbula, não mais no lábio inferior, mas na coluna de ar. Esse é o grande segredo.
Notas agudas, segundo Eric Marienthal, mestre dos agudos do sax, são muito mais sustentadas pelo ar do que pela embocadura, e é justamente isso que queremos, pois ao sustentar a nota com o ar liberamos a palheta para que vibre produzindo assim um som cheio e pleno.
Porém, como poderemos sustentar as notas agudas pelo ar, soltando a embocadura? Primeiro de tudo impondo uma quantidade de ar maior. Neste aspecto as notas agudas se igualam às notas graves, consomem uma quantidade de ar maior do que a região média.
Em segundo plano produzindo uma pressão aérea com os músculos abdominais também maior, no sentido de poder sustentar a constância desse ar com primor e de forma inabalável. Somente esses passos já trarão um agudo cheio e pleno para o seu saxofone.
O Papel da Língua na Produção dos Agudos
No entanto a coisa não se resume por isso. O agudo do saxofone é produto de ar frio, ar cujo filete condutor é pequeno, logo, frio. Daí, boquilhas que favorecem frequências agudas possuírem as famosas rampas pronunciadas, ou seja, para diminuir o filete de ar, com a mesma quantidade do mesmo, o que produz ar rápido e frio.
Precisamos para corrigir a afinação e também a sustentação das notas agudas, produzir um filete de ar menor em tamanho, projetar a coluna de ar no saxofone com ar frio, para tanto precisamos usar a língua, e a língua na posição, digamos, estreita, do IH.
É isso, e não a mandíbula do saxofonista que vai permitir que a afinação da nota aguda seja corrigida. Por último, paradoxalmente, a garganta deve abrir, e não fechar. Abrir a garganta é como cantar uma nota grave sem vibrar cordas vocais.
Relembrando: relaxar a embocadura, aumentar a quantidade de ar, produzir maior pressão aérea, usar os músculos do abdômen e intercostais para a condução da coluna de ar, abrir a garganta para uma maior passagem de ar, e erguer a língua para produzir o ar frio.
Na verdade a coisa é muito mais complexa do que isso, porém, essa complexidade não pode ser revelada em palavras, é preciso ver, ouvir, fazer, tentar, errar, acertar, testar, e descobrir tudo isso e muito mais em si mesmo.
Este humilde post tem como objetivo trazer uma ignição à conquista das notas agudas, para que possamos realmente dominá-las é preciso muito estudo, e muita experiência. Um acompanhamento mais apurado de um profissional especializado vai certamente acelerar o processo.
Notas agudas no saxofone são fruto de um trabalho apurado de dedicação e pesquisa, aos poucos, com o desenvolvimento dessas técnicas, o saxofonista começa a dominar a região aguda, o que faz com que ele consiga produzir notas agudas cheias, plenas e vibrantes para com isso encontrar a maravilha do som mágico do sax.
Daniel Vissotto