É importante tocar de verdade e não mostrar que toca
Até um certo momento em minha vida eu pensei que a música tinha de ter um momento em que mostramos que sabemos tocar para convencer quem ouve de que somos bons músicos. Eu era ingênuo, e acreditava que havia necessidade de mostrar que sabia tocar ao invés de tocar pura e simplesmente.
Então surgiam frases complexas tocadas de maneira rápida e limpa, até mesmo impressionantes, super agudos exacerbados tocados com pleno domínio, coisas complexas e difíceis de se tocar, que estavam ali não para tocar quem ouve, mas para mostrar que eu sei tocar.

Tocar e mostrar que sabe tocar
Há uma brutal diferença entre tocar quem ouve, e mostrar que sabe tocar. Embora as duas atividades façam a mesma coisa, ou seja, tocam, ambas são completamente opostas em termos de efeito.
A Questão da Internet
Hoje com o advento da internet, onde ninguém mais toca para si, ninguém mais toca para sua platéia, ninguém mais toca de verdade, mas todos fazem que tocam o que não tocam para impressionar o público virtual, a coisa ficou mais difícil ainda de distinguir. Poucos pensam em tocar de fato, muitos acabam apenas mostrando que sabem tocar.
A era dos vídeos curtos então chegou para ficar, as pessoas não mais prestam atenção a uma música completa, se prendem a pequenos trechos, não apreciam música por mais do que dez segundos, e isso é muito degradante.

A era da internet
Porém, favorece aqueles que gostam de mostrar que tocam, e não os que tocam quem ouve da maneira como a música tem de ser, singela, verdadeira, e cheia de significado.
A coisa mais comum é músicos até mesmo graduados, que têm grande habilidade, rachar sua apresentação em um trecho de 10 segundos no qual ele faz 1000 notas, talvez difíceis, talvez impossíveis, mas que tocam tudo, menos quem ouve.
A História
A história do Jazz está farta de casos de pessoas que não sabiam distinguir essa diferenciação, ou seja, tocar música e mostrar que toca. Uma coisa é tocar aquilo que vem do coração, aquilo que fala a língua que vai de fato ser ouvida. Outra coisa é mostrar que toca o que não vem de lugar nenhum e chega a nenhum lugar.
Sim, há aqueles que apreciam, que vêm na música um meio de competição, quantas notas se consegue fazer em tanto tempo, quais as frases que se consegue fazer em meio a uma apresentação, qual o domínio que se tem ou não nos super agudos do saxofone etc.
Mas tudo isso é irrisório, e chego a dizer mais ainda, é sem efeito. A música não é uma competição de habilidade, um exibir de capacidade, um jeito de mostrar o que se sabe fazer, não, tudo isso está na música por acidente, e não de forma intencional.
Ter nisso a intenção de nossos atos é algo que denigre o que estamos fazendo, mostra que somos inseguros e não transmite sentimento verdadeiro. Afinal de contas não é o que eu sei fazer que conta, mas o que eu faço de fato, independente do que sei ou deixo de saber.
O que é Tocar de Verdade?
Tocar de verdade, é ir além, é conseguir por meio de uma simplicidade não simplória alcançar o coração de quem ouve, sem sobras, sem falsidades, sem maquiagens mil que nos fazem parecer tudo menos alguém que está de fato transmitindo uma mensagem verdadeira.

O que o público quer
Mostrar que sabe tocar é atingir limites mil, ultrapassar, e fazer o que é quase impossível de maneira gratuita, sem motivo, sem significado, como se precisasse mostrar que sabe fazer o que poucos sabem, uma posição arrogante e insuportável a quem ouve.
Geralmente quem mostra que sabe, de fato sabe, mas não entende porque não consegue transmitir que toca, pois faz tudo, e às vezes até melhor do que quem toca pura e simplesmente, porém, faz de maneira gratuita, para mostrar que faz.
Já quem toca, nem entende por que é tão querido, pois com pouco esforço, consegue extrair algo de poucas notas, que ninguém alcança direito, ou seja, a verdade, o x da questão, a sinceridade, e também o sentimento que se quer transmitir de verdade.
O Problema do Exagero
Tudo passa pelo exagero, o exagero é o momento em que o músico começa a mostrar que sabe, e pára de tocar de fato. Isso é tão falso quanto alguém se dizer algo que não é para ser aceito, ainda que tenha muitíssimo mais habilidade do que os demais para tanto.
Música não é uma questão de saber quem toca mais, ou quem toca menos. Esse é o erro de muitos que aprendem a tocar somente para transmitir isso. Música não tem a ver com essa competição insana que toma conta da cabeça de muitos.
Música é uma questão simples de transmitir uma mensagem, uma mensagem na língua de quem ouve, para ser ouvida e entendida, um movimento verdadeiro, singelo e puro de alguém que quer falar algo que não pode ser dito por palavras.
O dia em que quem mostra que toca perceber isso, será o dia em que nasce de fato um músico e morre um exibicionista. O dia em que alguém deixa de querer se destacar dos demais como “o mais”, “o melhor” etc. e passa a ser um grande mensageiro da verdade interior.
O que o Público de Fato Quer?
O que o público quer não é ouvir pessoas que sabem tocar, mas ouvir música. O que as pessoas querem é ouvir um sentimento genuíno tocado com sinceridade, por alguém que sabe o que faz, mas não fica mostrando que sabe.
A música é orgânica e natural, e não forçada e artificial. As frases são necessárias, e não inoportunas. Os super agudos são sentimentos verdadeiros, e não produzidos para serem vistos. A velocidade da frase é feita para transmitir vida, e não para mostrar habilidade. E assim por diante.
Por isso eu criei o curso VIVAOSAX BÁSICO, um pontapé inicial para que o músico consiga aprender a tocar música, e não para que aprenda a mostrar que sabe tocar música. Um curso simples, direto, eficaz e divertido que faz com que o músico consiga, sim, se desenvolver desde o zero até um nível considerável.
Utilizando-se de todas as áreas da música em paralelo, ouvido, leitura, intuição, raciocínio etc. para dentro de pouco tempo, conseguir tocar músicas com sentimento e embelezamento. Vale a pena conferir esse curso.
Daniel Vissotto