O Que é Improvisação?
A improvisação para o saxofonista, improvisar é criar uma melodia um pouco mais complexa do que o tema original da música sobre a harmonia dessa música.
Falando de forma um pouco menos técnica a harmonia é o fundo de uma música, o que é tocado para acompanhá-la, embora o acompanhamento de uma improvisação seja diferente do acompanhamento de um tema musical.
Tomam-se os acordes que acompanham um tema qualquer, e pode-se improvisar sobre eles, primeiro sem perder a essência do tema em questão e de um segundo modo, esquecendo-se completamente dela e criando outra melodia um pouco mais complexa.
Outra forma de improvisação é quando temos uma harmonia própria para um trecho de improvisação, que nada, ou pouco, tem a ver com a harmonia do tema principal, e que foi construída exclusivamente para o momento da improvisação.
Ainda outra maneira é criar instantaneamente e de forma livre a melodia da improvisação sem se basear numa harmonia pre-definida, fazê-lo ao mesmo tempo em que o instrumento harmônico que nos acompanha cria a harmonia em conjunto conosco.
Estas são as formas mais comuns de improvisação e a meu ver, a improvisação tem muito a ver com a composição, embora seja feita de forma instantânea, e também seja feita de maneira, pelo menos um pouco mais complexa do que o tema principal de uma música.
Como Começar a Pensar a Harmonia Para poder Improvisar?
A harmonia começa pelas tríades, podemos dizer que as tríades são a base de toda harmonia e uma das formas mais simples de harmonizar de fato uma melodia.
O que é uma tríade? É uma estrutura formada por três notas, essas três notas estão dispostas de acordo com uma sobreposição de duas terças, essas terças abarcam a raiz a terça e a quinta de uma escala.
Por exemplo, a escala de C maior possui as notas C, D, E, F, G, A, B e C. Os números aos quais nos referimos dizem respeito aos graus dessa escala, ou seja, raiz C, terça E e quinta G. A partir da nota C conta-se um, dois e três, temos a nota E, conta-se novamente um, dois e três e tem-se a nota G.
Essas notas encontradas, C, E e G, que são os graus de número 1, 3 e 5, ou ainda a raiz, a terça e a quinta da escala de C maior, são a tríade maior de C. E assim se extrai as tríades de todos os 12 tons maiores.
É possível formar tríades menores de escalas menores, e também tríades aumentadas da escala de tons inteiros, por exemplo, e também tríades diminutas da própria escala lócrio, ou ainda das escalas diminutas por exemplo.
Há diversas escalas que formam tríades, e estas que mencionei são apenas algumas delas, uma mesma tríade pode vir de mais de uma escala, e mais, pode ser formada independente das mesmas também, como disse, por sobreposição de terças.
Mas a Harmonia se Resume a Tríades?
Não, de forma alguma, há as tétrades, as extensões, as progressões harmônicas etc. Porém, se você sabe lidar bem com as tríades, você terá, sem dúvida alguma, os primórdios da harmonia para poder improvisar.
Praticamente toda estrutura harmônica passa pelas tríades, não digo toda porque há estruturas, por exemplo como os acordes quartais, que não possuem tríades, mas quase todas as estruturas as possuem.
Se você quer soar dentro, saiba construir motivos dentro das tríades, fazendo assim estará soando dentro da harmonia.
O que são Motivos?
O motivo é uma idéia musical completa, uma idéia que dialoga entre si e que se repete numa música, feita de uma intensão melódica e uma intensão rítmica. Os motivos que obedecem a temporalidade dos acordes musicais, ou seja, da harmonia, e são construídos com as notas da tríade em questão sempre soarão dentro.
O motivo pode ser curto, feito de três ou quatro notas, por exemplo, desde que expresse uma intensão melódica e rítmica bem definida, e que seja passível de ser usado para a construção de um diálogo de lógica interna na improvisação.
Por exemplo, construir um motivo com as notas C E e G, seja um motivo de três notas, ou de quatro, porém, que possua uma idéia musical completa e uma intensão melódica e rítmica bem definida, respeitando a temporalidade dos acordes e o ritmo do estilo em questão, isso é improvisar.
É muito possível construir motivos musicais muitíssimo interessantes com as notas apenas das tríades, tudo na improvisação passa por simplificar para depois poder tornar complexo, se não sabemos lidar com o simples, não temos condições de lidar com o complexo.
Se eu não sei improvisar apenas com uma nota da tríade, digamos, a raiz, eu não sei improvisar com as 12 notas da escala cromática, de forma que é preciso aprender primeiro a improvisar com uma nota, duas ou ainda três para depois pensar nas demais estruturas.
Um Trabalho de Percepção é Importante
É importante conhecer as tríades não somente na teoria, mas também na prática do instrumento e não somente na teoria e na prática, mas no ouvido. É preciso desenvolver o ouvido para conhecer internamente e perceptivelmente as tríades.
Quem já canta as escalas maiores e menores, terá relativa facilidade com as tríades, ocorre que as tríades englobam um trabalho de percepção além das escalas, a saber a percepção harmônica.
É preciso saber como as notas soam, seja sucessivamente, seja simultaneamente, de forma que você possa conseguir assim criar frases com as notas da tríade, seja com a voz, seja com o instrumento, mas com o controle daquilo que está fazendo.
Sem esse trabalho de percepção, todo trabalho com escalas e tríades é nulo. De forma que é preciso perceber, introjetar e também reproduzir as alturas das notas, de forma a conseguir assim, se expressar por meio delas de maneira inteligente.
E não somente as alturas das notas, mas também os tempos das mesmas. Esse trabalho se dá por um treino, um reconhecimento diário das mesmas, por meio de gravações que fazemos, aos poucos, para nós mesmos, no intuito de nos apresentar os sons e suas funções.
A Temporalidade é Mais Importante do que a Altura das Notas
Se você perde uma nota, você perdeu uma só nota. Porém, se você perde o tempo das notas, você perdeu toda a música, logo a temporalidade é mais importante do que a altura das notas musicais.
No improviso, no Jazz em geral, a intensão do improvisador é muito importante, é preciso ter uma intensão muito clara e definida no que se faz. Chego a dizer que a intensão é mais importante até do que a realização.
É preciso ter capacidade de criar intenções melódicas e rítmicas muito fortes e definidas, não pode haver hesitação, pois é por meio dessas intenções que formam os motivos que conseguimos dialogar e fazer nexo na nossa improvisação.
Michael Brecker diz que é melhor a nota errada no tempo certo, do que a nota certa no tempo errado. E eu concordo com ele, nunca se sacrifica tempo numa música, sempre que temos de sacrificar algo, se temos, é notas que são sacrificadas, mas não tempos.
Sabendo o que é improvisação, como começa o raciocínio harmônico, o que são tríades e qual o seu papel na improvisação do saxofonista, também o que são motivos, da importância da percepção da altura e da temporalidade das notas, principalmente da temporalidade. Temos de entender melhor o que fazer com as tríades.
O que Fazer com as Tríades?
Sempre partindo do mais simples para o mais complexo parta de uma só nota, seja a raiz, seja a terça ou a quinta, e crie motivos com essa nota.
Varie para as demais notas da tríade até acostumar com todas elas, criando motivos o mais interessantes possíveis, com essa nota sozinha, neste caso, motivos rítmicos que respeitam a temporalidade dos acordes.
Feito isso acrescente uma nota ao seus motivos, como por exemplo a nota raiz e a terça, crie motivos um pouco mais complexos com essas notas, respeitando a temporalidade dos acordes e dominando aos poucos o que está acontecendo em termos harmônicos nessa música.
Depois faça motivos mais complexos com a tríade, a tríade e uma repetição, a tríade e sua oitava, e assim por diante, até tornar esse improviso apenas com tríades algo de sofisticado. E é possível, sim, construir coisas muito sofisticadas improvisando apenas com notas de tríade.
Feito assim, comece a trabalhar com tétrades, inclua posteriormente as extensões (se isso fizer parte do acorde), e por fim as escalas. As escalas não são o princípio da improvisação, embora sejam o princípio da harmonia em si mesma, são a última coisa que usamos quando vamos improvisar ou pelo menos aprender a fazê-lo.
Aos poucos nossos motivos vão se tornando cada vez mais complexos, e conseguimos uma riqueza de frases cada vez maior. Isso vai transformando nosso fraseado, conforme vamos aprendendo a construí-lo.
No decorrer desse desenvolvimento vamos dependendo cada vez mais do ouvir a harmonia e cada vez menos de ler uma partitura. E assim vamos compreendendo e conhecendo as mais comuns cadências harmônicas da música.
A coisa vai se facilitando cada vez mais, e quando menos notamos, já estamos improvisando num alto nível.
Para quem quer conhecer os primórdios da improvisação, e quer se desenvolver em todas as possibilidades das tríades, eu desenvolvi um material muito didático e bem desenvolvido.
A Magia das Tríades, um e-book com 15 playbacks que te ensinará o domínio de todas as tríades, o segredo para soar dentro da música com um improviso de alto nível.
Conheça este e-book e siga em frente nesse estudo, pois ele certamente te renderá muitos frutos na música como um todo.
Daniel Vissotto