Seis são os pilares para se deixar de ter som de iniciante no saxofone, a saber, a estabilidade do som, o controle da coluna de ar, a arte da dinâmica, a suavidade de articulação, o som relaxado e a regularidade de estudo. Falemos um pouco de cada um deles.
Muitos saxofonistas começam no sax e progridem em muitos aspectos, porém, jamais deixam de ter aquele som característico de iniciante de saxofone que todo mundo percebe, mas ninguém comenta.
Com poucas notas conseguimos identificar esse som, ele é pouco trabalhado, possui traços grosseiros, pouca expressividade, é reto em todos os sentidos, muito tenso, e pouco estável. Ninguém escolhe ter som de iniciante, isso simplesmente acontece.
Porém, nada mais lógico do que indicarmos aqui o caminho para vencer essa etapa, para muitos rápida, para outros tão lenta e pesarosa, e para muitos até mesmo intransponível.
Conheço saxofonistas que tocam bem o saxofone, tiram músicas de ouvido, lêem bem a partitura, sabem o que é correto se fazer ou não, porém, não obstante, ainda conservam essa característica de som de iniciante no saxofone.
É por conta dessa dificuldade que venho neste artigo falar sobre como deixar de ter som de iniciante no saxofone, embora não sejam únicos, estes passos que vou delimitar aqui são fundamentais para que o aprendiz de saxofone ultrapasse essa barreira.
Porque não basta tocar, temos de tocar bonito. Mais do que nunca eu digo, o saxofone é o instrumento mais fácil de se tocar, porém, o mais difícil de se tocar realmente bonito, pois exige do saxofonista além de conhecimento do caminho a seguir, também um esforço intenso na prática diária do instrumento.
Vamos então aos seis pilares que nos farão vencer e ultrapassar a fase do som de iniciante no saxofone, quero ressaltar que existem outros pontos, e são muitos, mas estes que cito neste artigo são sem dúvida alguma os mais importantes e fundamentais.
A Estabilidade do Som
A primeira dificuldade do iniciante quando se aproxima de um saxofone é sem dúvida alguma a instabilidade do som. O som tem instabilidade de afinação, instabilidade de timbre, instabilidade de intensidade, e também instabilidade rítmica.
Do ritmo falaremos em outro artigo, conservemos nossa atenção neste momento nas três instabilidades do som, a saber, de afinação, timbre e intensidade. Como estabilizar o som do saxofone nesse sentido, qual a causa dessa instabilidade?
As principais causas dessa instabilidade são sem dúvida alguma a falta de resistência nos músculos da embocadura, o desconhecimento completo das técnicas de voicing no saxofone, e o descontrole quase que total da coluna de ar.
O som do saxofone não começa na boquilha, engana-se radicalmente quem pensa dessa forma, o som do sax começa quando o saxofonista inspira o ar, processa o ar, prepara a coluna de ar dentro de si, e direciona essa coluna para o instrumento.
Tudo o que está envolvido nesse processo, já é som, já é música. É preciso num primeiro instante descobrir a estabilidade da coluna de ar através da prática da respiração abdominal (aquela que muitos chamam de diafragmática, porém, sendo o diafragma um músculo involuntário, e regido em grande parte pela expansão do abdômen, posso chama-la aqui de abdominal).
Só é possível assoprar uma nota longa com uma mesma intensidade do começo ao fim se a pessoa sabe produzir pressão aérea pela respiração abdominal, e se ela consegue controlar o ar de forma a liberá-lo com parcimônia e domínio.
Essa habilidade só é alcançada com muito estudo, num primeiro instante, por meio de notas longas, que tenham dentro de suas metas a estabilidade da coluna de ar. Sem isso não haverá som bonito de sax. Respirou bem tocou bem, quem não sabe respirar em saxofone não consegue tocar saxofone.
Quanto à afinação é importante não se preocupar tanto no início do saxofone com uma afinação específica, mas com a estabilidade em si, independente da nota ou da afinação que estivermos produzindo, no sentido de que, precisamos antes de nos preocupar em afinar com um afinador qualquer, produzir um som estável qualquer em uma afinação definida.
É preciso treinar o ouvido para sentir as oscilações de afinação das notas, é preciso estabilizar a coluna de ar e a embocadura para produzir uma nota afinada em determinado ponto do começo ao fim. Outra vez, afirmo, em defesa deste exercício, a importância fundamental das notas longas nesse processo de conscientização.
Por último, é preciso fortalecer e estabilizar os músculos da face, numa determinada memória muscular que permita ao saxofonista produzir a forma da embocadura com estabilidade. Lembrando sempre que embocadura não é força, mas forma, e para manter essa forma estável durante longo período de tempo é preciso se fortalecer.
Nesse momento do aprendizado, dentro do quesito da estabilidade, a nota longa é algo de fundamental para o saxofonista iniciante no sentido de que por meio dela ele vencerá o primeiro passo para atingir um som mais profissional.
A meu ver quem nega a importância das notas longas, seja para atingir a estabilidade do som, seja para mantê-la, não raciocina de maneira aceitável em relação ao ensino de saxofone. E estes são apenas alguns benefícios desse exercício.
O Controle da Coluna de Ar
Ao mesmo tempo que é necessário ter o controle da coluna de ar para estabilizar a intensidade do som, num segundo plano, é preciso ter o controle da coluna de ar para alcançar o domínio da desestabilização da intensidade, no sentido de conseguir fazer um som, desde o mais suave até o mais intenso, sem dificuldades em toda extensão do saxofone.
Um saxofonista tem de ter condições de tocar dentro de um elevador no qual está outra pessoa, sem ofender os ouvidos desta com seu som, ou seja, suficientemente suave e agradável para chegar aos ouvidos dessa pessoa de forma aceitável.
Numa situação como essa, a grandiosa maioria dos iniciantes explodiria o ouvido dessa pessoa com seu saxofone, essa sensibilidade de tocar desde o piano até o forte engloba a estabilidade da embocadura, e também o controle absoluto da coluna de ar.
A coluna de ar agora não está mais a serviço de um som reto e estável, mas mutante em intensidade, apesar de ter o mesmo timbre, e a mesma afinação. Isso é produzido exclusivamente pela coluna de ar, por meio da pressão do abdômen, e também da quantidade de ar que será variável para mais no mais intenso, e menos no mais piano.
Depois de controlar de maneira regular a coluna de ar para mais e para menos, ou seja, aprender a trabalhar com a quantidade de ar em meio ao som do saxofone, é preciso aprender o passo mais importante para abandonar a prisão de um som de iniciante para a conquista de um som mais profissional. A saber, a dinâmica.
A Dinâmica é o Principal para Deixar de Ter Som de Iniciante no Saxofone
O que é dinâmica, a palavra por si mesmo já nos dá uma dica. Dinâmica, entre outras definições, pode ser entendida como o conjunto de forças que visam o desenvolvimento do progresso de algo. No nosso caso esse algo é a intensidade do som.
O que o iniciante tem de compreender é que música é linguagem, fraseado, palavra, fala. Ou seja, quando falamos temos diferenciação das sílabas, ninguém fala de forma reta e constante, num primeiro instante precisamos homogeneizar a produção sonora, neste momento começamos a produzir alterações de intensidade no progresso dessa produção.
Faça um teste, grave você mesmo falando naturalmente uma frase, você perceberá que faz grande diferenciação de intensidade entre as sílabas das palavras, o momento da frase, o encerramento da mesma, o início, e todo o mais. Assim como na fala, o saxofone.
Ou seja, precisamos saber dar importância diferente para as notas que produzimos numa frase musical, não um efeito sanfona (crescente decrescente puro e simples) artificial, mas uma expressão natural do ser humano enquanto humano, do sentimento do instrumentista através da dinâmica do som.
Nem tudo forte, nem tudo piano, nem tudo em meio termo, nem tudo crescente para decrescente, mas a construção de uma dinâmica real, natural, humana, sentimental do saxofonista enquanto intérprete. Saber fazer a dinâmica é, definitivamente, se afastar do som de iniciante.
A principal característica dos iniciantes é que eles tocam reto, tocam como realejos, movidos quase que por uma manivela em mesmo tom do começo ao fim. A dinâmica quebrará esse feitiço malévolo e trará consigo a magia do saxofone, a magia do sentimento, da humanidade do som, da expressão plena do que vai dentro.
Suavidade de Articulação
Outro ponto interessante de ser notado, é que todo mundo sabe articular forte no saxofone. Alguns iniciantes não sabem articular, mas quando aprendem, aprende a fazê-lo de maneira bruta e forte. O domínio de uma articulação suave é sinal claro de que o som do iniciante está ficando para trás.
Articulação se aprende por prática, por pesquisa, diariamente, desenvolvendo e aprimorando técnicas de embocadura e toque de língua, aprendendo aos poucos a controlar a saída do ar no momento do toque, tanto no momento inaugural da nota, quanto no momento de separá-las umas das outras.
Articular levemente no saxofone é uma virtude de quem quer deixar de ter som de iniciante no saxofone, se desenvolve praticando, aprendendo aos poucos o grau de presença da língua na palheta, o grau de emissão aérea nesse momento do toque, a posição da língua na boca para entrar e sair, o momento de articular e o momento de ligar.
Aqui um ponto importante, músicas mais sublimes e introspectivas geralmente possuem mais ligadura do que articulação, músicas cujo clima é mais voltado para um som mais abrupto, mais seccionado, exige do instrumentista mais articulação. Porém, de uma forma geral é preciso ter tanto de um lado quanto de outro numa música.
Articular todas as notas de uma música é um modo infantil de produzir som. Ligar todas as notas, é um recurso cansativo. É preciso construir uma articulação suave e coerente com a interpretação de quem está tocando, para tanto é preciso dialogar consigo mesmo também na articulação.
Ter suavidade de articulação é fundamental para abandonar o som de iniciante no saxofone, sem isso estaremos eternamente presos a ele.
Som Relaxado
Quanto ao som relaxado é preciso saber que o saxofonista não deve ter num esforço sobre-humano a produção de seu som, no saxofone se produz som sem esforço de forma natural, o saxofone mesmo produz o som, a boquilha, apesar de uma leve pressão do lábio inferior fica solta e relaxada na boca.
O som do saxofone é essencialmente relaxado, quanto mais relaxado sem exageros é o som do sax, mantendo sua característica essencial, mais belo será o som.
O som do saxofone se faz, não precisa ser feito, acontece naturalmente através do saxofonista, quanto mais intervenção o saxofonista intenta colocar no som, menos natural e belo será esse som, o som do saxofone não é fruto de um esforço sobre-humano, mas de relaxamento e de um sentimento à vontade.
Regularidade de Estudo
Sempre, sempre e sempre, a prática distribuída é o segredo para se deixar de ter som de iniciante no saxofone. De nada adianta estudar oito horas seguidas num só dia, e ficar um mês sem pegar no instrumento, pelo contrário, isso só atrapalhará o desenvolvimento do saxofonista, causará lesões e o fará desanimar.
É preciso começar aos poucos, aumentar aos poucos, até um nível satisfatório de produtividade, com consciência e não exageros, porém, fazer isso todos os dias, ou pelo menos uma boa parte deles, para que a prática aconteça aos poucos, um pouco por dia.
Fazendo assim a memória muscular da embocadura, da digitação e em todos os sentidos do aprendizado, bem como da teoria e da prática musical mais abrangente, será muitíssimo mais efetiva, e o iniciante terá muito menos pesar e muito mais rapidez para abandonar a prisão do som de iniciante.
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Um curso que foi pensado por mais de três anos, e que certamente é o mais completo e mais aprofundado para o iniciante de saxofone. Nele há um módulo só voltado para o embelezamento do som, com estas dicas e muitas outras que certamente farão a diferença.
Daniel Vissotto