É uma busca fácil desde que você siga alguns pequenos passos e tenha alguns pré-requisitos. Os passos serão ditos logo à frente, e os pré-requisitos também.
Quanto aos pré-requisitos é preciso conhecer muito bem a cifragem. Muitos me dizem: cifragem não é nenhuma novidade pra mim, mas quando são deparados com várias cifras, em tempo real de uma música, acabam por se embananar de uma só vez, e não conseguem fazer nada.
A cifragem deve ser conhecida de maneira imediata, todas as notas, desde a raiz até a sétima, e também as extensões. Devem ser conhecidas de tal forma que você consiga expressá-las no saxofone sem pensar, de forma instantânea.
Tendo isso fica mais fácil, pois, no primeiro instante vamos pensar somente nas cifras, até um bom tempo de nosso desenvolvimento nessa arte, iremos improvisar somente com notas de acorde. E para tanto o conhecimento imediato da cifragem já é suficiente.
Criando motivos rítmicos e melódicos simples
Quando você se deparar com uma música procure criar motivos rítmicos e melódicos curtos, simples, e não algo baseado numa frase sofisticada e complexa. É muito mais fácil dialogar com motivos simples do que com frases complexas.
Sim, há um meio de improvisar com clichês, porém, esse não é o mais recomendado meio de começar, pois é muito difícil dar contexto a uma frase extremamente complexa no meio de um improviso cujo saxofonista se expressa de maneira simples por estar começando.
Começar com motivos rítmicos e apenas com a nota raiz é o caminho mais adequado, devagar, identificar nota raiz por nota raiz, e procurar dialogar consigo mesmo com motivos simples diante da música em questão.
Quando começar a dominar a questão, e dominar a questão significa que você estará fazendo já sentido com uma nota só (muitos me perguntarão se isso é possível, e eu responderei que sim, é possível criar improvisos tremendamente sofisticados com uma só nota), estiver dominando essa arte, então passe para duas.
Qual será a segunda nota do improviso? Sim a terça é a melhor saída. Comece a improvisar com a raiz e a terça do acorde, crie frases com essas duas notas em todos os acordes, encadeando os mesmos com essas duas notas em cada um deles. Se com uma nota é possível construir um improviso sofisticado, imagine com duas notas ou mais.
A terça do acorde é uma nota muito forte, ela tem a função de converter o acorde em maior ou menor. A terça maior faz do acorde um acorde maior, e a terça menor faz do acorde um acorde menor, de forma que o acréscimo da terça fará tremenda diferença na produção do improviso do saxofonista em questão.
Dominado o improviso com a terça e a quinta, improvisado das mais variadas maneiras, tornado este improviso em algo musical (e isso é perfeitamente possível) passaremos a incluir a quinta. A quinta é uma nota meio neutra, mas mesmo assim enriquecerá muito a sua improvisação.
Qual o raciocínio que temos aqui?
O raciocínio é justamente esse, o de ir incrementando aos poucos, com poucas notas e partindo para mais e mais notas no improviso, o que certamente fará com que, devagar, o improviso se torne mais e mais sofisticado com controle.
De nada adianta ir acrescentando já de cara todas as notas se não temos controle do que estamos fazendo, as notas em demasia só irão atrapalhar a construção das frases, pois será um mar de notas sem intenção, sem construção, sem forma jogadas no ouvinte que de certa maneira não terá interesse em as ouvir.
Quando reduzimos o número de notas, conseguimos assim improvisar e fazer sentido musical com poucas notas, ao entrarem todas as demais, a sofisticação do improviso se acrescenta de maneira indescritível.
A verdade é que não devemos utilizar todas as notas mesmo, o caminho é mais por meio daquilo que Miles Davis disse em sua frase icônica: “Não se preocupe em tocar muitas notas, prefira tocar uma só, bem bonita.” Ou seja, de nada vale tocar inúmeras notas sem intenção e sem caráter, é mais valioso utilizar-se de poucas notas, e assim conseguir produzir um improviso mais aceitável.
Não, não acho perda de tempo que estudemos frases no saxofone, os ebooks VIVAOSAX têm inúmeras frases a serem estudadas em todos os tons. É muito importante sabermos separar as coisas. O que acho um pouco infrutífero é que o inciante na improvisação fique querendo encher seu improviso de frases de outros saxofonistas quando na verdade, não sabe nem mesmo contextualizá-las.
O raciocínio desse instrumentista iniciante, se transforma num improviso Frankstein, repleto de enxertos estranhos que nada têm um com o outro, de forma que a construção frasal não dialoga, e não é sustentável, e assim o improviso que era para ser tremendamente interessante se torna enfadonho e sem sentido.
As demais notas
Depois de acrescentar a quinta, é importante acrescentar as demais notas, devagar, cada uma a seu tempo, até o perfeito domínio da musicalidade, de forma a conseguir se expressar por meio de frases aceitáveis por meio das tétrades, e também das extensões. Quando menos se esperar estaremos muito próximos de estudar as escalas.
Este é o próximo passo, o próximo pré-requisito. A saber, conhecer as escalas, mas este pré-requisito é o último, é o momento que o instrumentista está já fazendo sentido, dominando as poucas notas que possui e fazendo muito com pouco.
Este é um caminho plausível para começar a improvisar, é um caminho lento e árduo, porém, onde ele desemboca é no controle frasal e de expressão de um instrumentista. É preciso começar com músicas mais tonais (mais dentro do campo harmônico), e depois com acordes secudários e por fim com tudo isso e empréstimos modais.
Não adianta ir para músicas de harmonias muito complexas desde o início. As harmonias têm de ajudar, e facilitar no inicio. Tudo na música se aprende do simples para o complexo. Com calma, sem atropelos. Aos poucos, o aluno pode ir percebendo que algumas escalas são mais utilizadas e vai se atrelando a elas.
Ninguém sabe tudo na música, sempre sabemos o que conseguimos tocar, é que às vezes as pessoas mostram apenas o que dominam, e os demais pensam que eles sabem tudo, e isso não é verdadeiro. Estude de acordo com aquilo que você precisa, no seu momento.
Para se conseguir acompanhar a cifragem de maneira satisfatória, para saber estudar acordes no saxofone, o que é fundamental para esta habilidade, para ter o reflexo de conseguir expressar as cifras de maneira imediata, e para começar a improvisar no saxofone, eu desenvolvi o ebook V: Dicionário das Tétrades para Sax: Um edifício sólido, que conta com suporte e playbacks.
Vale a pena olhar essa obra.
Daniel Vissotto