A Origem
Qual a origem da apogiatura do saxofone? Ornamentos tiveram sua origem em instrumentos antigos de tecla, que, por falta de recursos de sonoridade, contornavam essa falta por meio de notas estranhas ao desenho original.
Até o século XVII os ornamentos não eram em geral grafados, e nem mesmo indicados na partitura, eram inteiramente improvisados, não há uma norma geral muito clara a respeito deles, principalmente na música antiga.
A ornamentação livre começou a desfigurar a melodia das músicas, daí houve a necessidade de se começar a grafar esses ornamentos, o começo foi por sinais gráficos, posteriormente alguns ornamentos passaram a possuir sua própria escrita detalhada, com notas exatas.
Não é assunto de teoria da música, mas de interpretação da música, pois há muitas divergências de como os grafar e os executar, é uma questão de bom gosto, conhecimento histórico e estético da música que nos rodeia.
A Temporalidade
Vêm para embelezar a melodia, e embora sejam notas rápidas, devem ser notas muito limpas, soando claramente com a dinâmica apropriada, nem muito piano e nem muito forte em relação às notas reais.
Em toda apogiatura há uma nota real e as notas da apogiatura que não são reais, precisamos saber que o tempo, numa apogiatura, sempre é roubado da nota real, e no caso das apogiaturas breves é a mínima parte do tempo de forma que a nota real ainda soa mais forte e muito mais duradoura.
O Papel do Equilíbrio no Saxofone
Não podemos usar e abusar de apogiaturas a ponto de desfigurar a melodia em questão, porém, não é interessante desprezar por completo todos os ornamentos, tornando a melodia muito simples, o simples é bonito, porém, o simples em demasia se torna medíocre, o que não queremos para nossa interpretação.
A apogiatura mais usada no saxofone é a apogiatura simples (uma nota) breve (rápida), ela precede a nota real da qual se separa pela distância de uma segunda maior ou menor. Pode ser superior (acima da nota real) e inferior (abaixo da nota real).
Outras apogiaturas muito utilizadas, são a apogiatura simples dupla (duas notas), e outra que é muito presente, embora um pouco menos, é a irregular (não forma com a nota real um intervalo de segunda, varia no intervalo, a interpretação é a mesma).
Há também a apogiatura sucessiva, que é formada pela sucessão de uma apogiatura superior e uma inferior, é representada por duas semicolcheias pequenas, ela toma uma ínfima parte da nota real ficando esta com o tempo restante.
Se por um lado o ornamento é algo para embelezar, em demasia ele acaba trazendo fealdade à música em questão; por outro lado, não devemos menosprezar os ornamentos a ponto de desprezá-los por completo, pois a beleza de um ornamento bem feito, com bom gosto, na medida certa, não tem igual.
Sendo uma questão interpretativa o ornamento não pode e nem deve ser exageradamente delimitado por regras, devemos conhecer sim o que se faz e saber executar como é pedido, porém, também devemos saber que, em se tratando de música popular, a interpretação prevalece à regra, de forma que vale mais a beleza do que uma lei pré-definida.
Como Aprender a Fazer Apogiatura
Não há como dizer em palavras onde devemos colocá-lo e onde não devemos colocá-lo, é uma questão de juízo de gosto, de forma que depende de cada um. O que eu aconselharia aos saxofonistas que querem começar a utilizar esse ornamento é exatamente o que falei, ou seja, escutar muito, imitar muito, e julgar, pelo próprio gosto, o caminho mais adequado a si mesmo.
Como sempre a música se aprende primeiro pela imitação, pela repetição, e posteriormente pela capacidade de introjetar, incorporar, processar e expressar na própria execução à sua maneira.
Quem disser aqui exatamente onde deva ser usada uma apogiatura e onde não deva, estará intervindo num ponto onde não devia, pois tudo depende do gosto de cada um, do conhecimento histórico, da tradição do uso deste elemento, e do fator interpretativo do mesmo, de forma que precisamos fazer essa pesquisa antes de nos pormos a opinar a respeito desse ornamento.
Um ornamento mal feito é algo de extremo mau tom numa música, porém, quando conseguimos produzir um ornamento bem feito, com bom gosto, isso traz uma envolvência e uma magia para nossa interpretação, fazendo uma música que é bela se tornar sublime.
Para um maior aprofundamento sobre o conceito de apogiatura aconselho aulas diretas com o professor, o que certamente trará um esclarecimento mais aprofundado do assunto, e uma análise mais criteriosa do uso deste ornamento.
Daniel Vissotto
(Baseado em excertos do livro Teoria da Música de Bohumil Med)