Como escolher sua palheta no sax? Ficaríamos abismados de saber quantos estudantes de saxofone, após longo período de estudo, ainda pensam que as palhetas de bambu possuem uma durabilidade quase que eterna no uso diário do instrumento.
Muitos só as substituem quando realmente começam a não produzir mais som, quando estão avariadas (faltando pedaço mesmo), ou quando quebram de vez por algum acidente qualquer. Porém, não é assim que devemos tratar as palhetas de um saxofone.
É aconselhável que o estudante comece por palhetas de bambu, porque as palhetas sintéticas possuem mais facilidade sonora, e quando o iniciante começa ele quer tanto a facilidade, que se agarra a qualquer coisa que a favoreça.
Fazendo dessa forma ele se vicia nas palhetas que possuem mais facilidade de produção do som, porém, agindo assim, perde a oportunidade de testar uma coisa que lhe traga um timbre mais rico no saxofone, ou pelo menos diferente.
Por isso indico palhetas de bambu para os iniciantes, para que comecem pela produção de som mais difícil e assim tenham a oportunidade de experimentar todas as possibilidades do sax. Essa oportunidade certamente será fundamental no futuro próximo.
Não que queira dificultar a vida do iniciante, pelo contrário, quero facilitar, pois o som das palhetas de bambu é no mínimo diferente, e precisa ser testado antes que nos viciemos em palhetas fáceis de produzir som, porém, com som até mesmo muitas vezes mais pobre.
O que ocorre é que o iniciante ainda não tem noção de timbre de saxofone, passando essa fase, no futuro o timbre será decisivo para ele. Dessa forma, não tendo essa noção, ele opta pela facilidade, e as palhetas sintéticas possuem muito mais facilidade mesmo.
Porém, embora mais fáceis, não são necessariamente o melhor timbre de sax. Pelo contrário, na opinião de muitos as palhetas sintéticas possuem timbre mais artificial e pobre, o que pode prejudicar o iniciante quando ele adquirir um nível mais alto no sax.
O Revezamento das Palhetas
Primeiro de tudo, nunca usamos uma palheta única no saxofone (falo de palhetas de bambu, em outro artigo falaremos somente de palhetas sintéticas), o ideal é que tenhamos pelo menos um revezamento de três palhetas ao mesmo tempo.
Devemos tocar cada dia com uma delas. Isso favorece a segurança do saxofonista, pois palhetas são objetos muito frágeis, um simples toque relapso da palheta no ombro pode quebrá-la de maneira a não poder mais ser utilizada.
Dessa forma, não podemos depender unicamente de uma só palheta, precisamos ter outras de reserva, para que, no caso de uma ou duas se quebrarem acidentalmente, não tenhamos de tirar uma palheta nova da embalagem, que não está amaciada, e que certamente prejudicará nossa performance.
O Comportamento das Palhetas
As palhetas de bambu possuem uma maneira de responder ao nosso uso. Primeiro começam duras, e até mesmo um tanto quanto surdas, depois vão amaciando, caminhando para um ponto ideal, depois alguns dias de uso passam a atingir um ponto ideal de produtividade.
Palhetas de bambu não são eternas, precisam ser trocadas com regularidade, após atingir esse ponto ideal, nele permanecem por um pouco de tempo, e depois começam a cair em rendimento, timbre, e facilidade.
Quando uma palheta começa a não mais responder nos extremos do sax, quando começa a apitar (guincho) com frequência e sem motivo aparente, quando começam a ficar com sonoridade pobre e difícil de ser executada, está, certamente na hora de trocá-la.
Outro dia encontrei um estudante de sax que acreditava piamente que palhetas se usam até o ponto em que não podem, de jeito nenhum mais ser usadas. Não compreendem seu déficit de produtividade, e pensam que o problema está neles próprios.
Quando na verdade, o que ocorre é que a uma palheta de bambu, pode durar no máximo até dois meses de uso, com um estudo próximo de uma hora por dia. E depois disso necessariamente devem ser trocadas. Estou sendo positivo, pois palhetas de bambu costumam durar até menos tempo do que isso.
Sim, se há um gasto que temos com o estudo do saxofone, esse gasto é com palhetas, o saxofone é uma atividade que exige do saxofonista um certo investimento. Se você não tem condições de investir, procure conservar sua palheta, mas se tem, certamente o correto é que as troque com frequência.
A Necessidade de Comparar
Ao desenvolver várias palhetas ao mesmo tempo, num revezamento (chego a desenvolver até cinco palhetas ao mesmo tempo às vezes), conseguimos meios de comparação. As palhetas, até mesmo de mesma marca, modelo e numeração, não são regulares, uniformes e iguais.
Pelo contrário, elas variam, e muito. Por serem produzidas por elementos naturais como o bambu, elas possuem pontos diferentes da madeira em que estão localizadas, de forma que vêm a variar e muito no seu desempenho, independente do corte que possuem.
Uma mesma palheta, de uma mesma marca, modelo e numeração, pode soar mais aberta, mais fechada, mais clara, mais escura, mais aveludada, mais fácil ou difícil, mais aerada, mas explícita etc. Por isso é preciso testar várias, para poder saber a quê vieram.
Tendo uma noção de várias palhetas ao mesmo tempo, saberemos quais servem para apresentação (as melhores, de timbre mais bonito, e melhor projeção sonora), quais servem para exercícios mais obscuros (as mais duras e mais surdas), quais servem para o momento atual ou para o futuro, etc.
Podemos atribuir funções às palhetas, e assim teremos, além da segurança de sempre ter uma palheta amaciada para tocar, conseguir assim conhecer as palhetas a fundo. Não há meio de conhecer palhetas senão pela comparação.
Até mesmo para identificar o momento de trocá-las, é necessário compará-las, pois isso traz, de certa forma o conhecimento preciso para sabermos se a palheta está rendendo como deveria ou não.
Muitas das vezes, esse processo de desenvolvimento do uso da palheta é gradativo e invisível, pois não percebemos tão claramente coisas que se dão de maneira gradativa e lenta. Para tanto é preciso comparar a palheta, e o revezamento das mesmas nos traz essa comparação.
Como Escolher a Palheta Correta
Qual marca escolher é uma das perguntas mais comuns dos iniciantes. Muitos chegam a afirmar, tenho tal sax, e tal boquilha, e perguntam qual a palheta ideal para si mesmos. A verdade é que essa resposta não pode ser afirmada.
É importante que o iniciante comece por uma palheta mais mole, por exemplo uma palheta um e meio, porém, acho importante que teste pelo menos três numerações diferentes para que possa assim saber qual a numeração que mais lhe apetece.
Há sim uma certa convenção a respeito de palhetas que são verdadeiramente produzidas com esmero e qualidade, nos parágrafos finais citarei algumas marcas, porém, a escolha da palheta ideal não cabe a ninguém no universo senão ao próprio saxofonista em questão.
O iniciante, ou o saxofone em geral, devem testar as palhetas, de forma a adquirir uma opinião a respeito das mesmas por comparação. Só assim terá condições de pesar os diferentes fatores que estão envolvidos na escolha e optar por uma determinada palheta.
O que Devemos Levar em Conta na Escolha
Facilidade de produção sonora, projeção do som, os mais diferentes timbres, capacidade de tocar os extremos do sax, região da tessitura favorecida pelo corte e pela palheta em questão, tendência à produção do som como desejamos, conforto do saxofonista em questão, sentimento de segurança ao tocar, estabilidade de produção sonora, comportamento de vida útil da palheta, tudo isso está envolvido na escolha de uma palheta.
O iniciante deve testar pelo menos por um mês para adquirir propriedade de opinião, duas palhetas diferentes, de numeração equivalente, para ter uma capacidade de opinar a respeito da comparação entre elas, se possível mais de uma palheta de mesma numeração, modelo e marca de cada uma delas.
Não há necessidade de testar tudo, mesmo porquê isso é impossível, eu mesmo nunca testei todas as palhetas, e não pendo para as novidades que aparecem no mercado pelo simples fato de serem novidades. Não devemos ser levados pela onda, e sim pela construção de um timbre coerente no sax.
Por isso devemos fazer os testes com comedimento e com propriedade, para por meio da experiência mesma conseguir ter uma opinião apropriada daquilo que estamos experimentando. Ninguém tem uma opinião apropriada sobre uma palheta tocando cinco minutos com ela e só.
Há saxofonistas que pulam de galho em galho, como que procurando na palheta o som que desejam. A verdade é que a palheta, e o setup propiciam sim uma facilidade para a produção desse som, porém, quem o produz é o saxofonista e não o setup que ele possui.
Não Devemos Pular de Galho em Galho
Dessa maneira, o que temos é que não devemos ficar pulando de galho em galho, mas sim ter uma pesquisa coerente de som, procurar desenvolver com propriedade nosso timbre, extrair o máximo de uma palheta, e só se houver alguma coisa faltante, partir para a busca de outra possibilidade.
Para deixar registrado, faz mais de dez anos que uso a mesma palheta com a mesma boquilha no saxofone, tendo consciência de que o timbre se alcança pelo saxofonista, e não pelo setup, e mais, de que é necessário produzir um timbre coerente de sax, conservo-me na busca por extrair o máximo do material que possuo.
Não há necessidade de mudar, a não ser que haja alguma falta, alguma dificuldade, alguma barreira. Então é momento de procurar algo novo, porém, sempre com coerência e propriedade. O critério é fundamental, não devemos sair por aí à deriva, buscando em cada canto uma opção nova. Correremos o risco de gastar muito dinheiro sem obter resultado nenhum.
Vandoren, Rico, La Voz, Gonzales, Rigotti, Alexander são algumas marcas de palhetas reconhecidas pela comunidade dos saxofonistas por aí a fora, embora possuam, nessas mesmas marcas inúmeros modelos, numerações, e possibilidades. Há mais, porém, por hora cito estas.
Abaixo uma tabela das palhetas, marcas, modelos e numerações que você pode encontrar no mercado.
Para quem quer uma maior orientação a respeito do setup, aconselho que marque uma aula com o professor. Ou ainda, vá para o CURSO VIVAOSAX BÁSICO que certamente te instruirá desde o zero, como adquirir e tocar seu instrumento de maneira satisfatória.
Daniel Vissotto