O primeiro passo para obter controle do ar no sopro do saxofone é localizar fisicamente onde se dá a respiração correta deste instrumento.
Muitos simplesmente não produzem uma coluna de ar estável simplesmente porque não sabem onde está a tão aclamada respiração diafragmática que todo mundo fala, mas que ninguém consegue entender.
O que é o diafragma? Falando a grosso modo, sem muita precisão científica, o diafragma é um músculo quase que involuntário que se localiza abaixo do pulmão e que é em sua grande parte, controlado pelos músculos do abdômen e também pelos músculos intercostais.
Estes músculos, quando contraídos (no sentido de formação da barriga enrijecida e do afastamento da costela) acionam o diafragma e o fazem empurrar os órgãos da barriga internos para baixo, abrindo espaço para o aproveitamento maior do pulmão que está acima dele.
Quando respiramos comumente, inspiramos o ar para a parte de cima do tórax, o que faz com que nosso peito venha a se inflar, e assim utilizemos a parte mais pequena do pulmão, que é sua parte superior, de forma que dessa forma temos menos controle e quantidade de ar.
A respiração no saxofone se dá no momento em que lançamos o ar para a parte debaixo do pulmão, que é, a grosso modo, mais larga, e que consegue assim acumular uma maior quantidade de ar.
Isso nos faz dominar a coluna aérea por meio dos músculos do abdômen e intercostais, responsáveis pelo direcionamento do ar para essa região. Seria como se lançássemos o ar para a parte da barriga, o que de fato não acontece, mas temos essa falsa impressão.
Ao inflar a barriga, estamos expandindo os músculos do abdômen e intercostais, acionando o diafragma para baixo, abrindo espaço no pulmão, que está acima de tudo isso para uma quantidade maior de ar, e empurrando os órgãos internos, o que faz com que formemos uma aparente e momentânea barriga.
Respirar pela parte debaixo do pulmão, por meio dos músculos do abdômen e intercostais é fundamental para que consigamos manter o controle do ar, no sentido de ter uma sonoridade encorpada no saxofone, uma coluna de ar estável que nos permita um timbre mais belo.
Essa respiração não é a mais comum e natural que temos no corpo, de forma que precisa ser desenvolvida, primeiro por um tomar de consciência de onde ela está, e depois por exercícios que nos permitam desenvolver essa musculatura toda a ponto de obtermos o controle do ar.
Para tomar consciência do “onde” está essa respiração proponho, como muitos, o exercício de deitar-se numa cama confortável e colocar dois livros sobre o tronco, um na barriga, e outro no tórax. Quando se produz a respiração diafragmática apenas o livro da barriga se erguerá.
Fazendo várias vezes podemos localizar a respiração diafragmática que iremos utilizar no saxofone para obtermos o controle da coluna de ar. Agora que sabemos onde ela está, basta reproduzi-la no sax, desenvolver os músculos envolvidos, e obter uma melhor sonoridade.
Lançando o ar para a parte debaixo do pulmão na inspiração, expandindo os músculos intercostais e do abdômen, formando a famosa barriga e também expandindo a costela, encontramos o meio correto de inspirar.
Dominando o ar por meio da contração dos músculos abdominais e intercostais, conseguimos assim, o controle da pressão aérea que fará com que a coluna de ar seja estável e constante, o que produzirá um som controlado e encorpado no saxofone.
Esse controle se desenvolve aos poucos, primeiro com exercícios sem o saxofone, inspirando uma grande quantidade de ar e, produzindo a sílaba sh… expirando o ar com o máximo de controle, no sentido de não soltar todo o ar de uma só vez, mas devagar.
Podemos fazer esse exercício com o metrônomo, primeiro com uma menor quantidade de tempos, e depois aumentando a quantidade das batidas, pouco a pouco, de modo a desenvolver o fôlego e o controle do ar, o que nos preparará para os exercícios com o próprio saxofone.
Depois de algum tempo nesta atividade, podemos pegar o saxofone e treinar notas longas, da mesma maneira, utilizando a respiração diafragmática indicada, e controlando o ar de maneira a a aumentar o tempo de expiração aos poucos, medindo-o com o metrônomo.
Mais pra frente, exercícios de escalas e harpejos também podem ser utilizados para a respiração, frases muito longas também nos desafiam a controlar o ar de maneira estável.
O ideal é que nas notas longas, mantenhamos a homogeneidade do som em todos os sentidos do princípio ao fim das notas, o mesmo timbre, a mesma afinação, a mesma qualidade sonora, e assim estaremos desenvolvendo os músculos da respiração e o controle do ar.
Acrescentar aos poucos a dinâmica nas notas longas, fará com que consigamos um ainda maior controle da coluna de ar, tanto para sons mais pianos quanto para sons mais fortes, o que nos trará grande domínio de todas essas técnicas.
No começo não sentiremos muita diferença e nem os efeitos desses exercícios, eles virão a longo prazo, de acordo com a conscientização e o desenvolvimento da maneira correta de respirar, inspirar e expirar o ar, no saxofone.
Sem dúvida alguma este processo todo contribuirá para o controle do ar no saxofone, e também para o que mais desejamos, a saber, o som mágico do sax.
Daniel Vissotto