Muitos saxofonistas têm dificuldades relacionadas à articulação no saxofone, ou em relação a articular pura e simplesmente, ou em relação a diferenciar os tipos de articulação, ou ainda a articular com velocidade.
Antes de mais nada é preciso saber o que é articular no saxofone, pois até mesmo isso é oculto para muitos saxofonistas que estão começando, e para outros ainda que já tocam há algum tempo.
Articular vem do latim articulare que significa separar pelas partes. Ou seja, estaria no sentido de separar as partes de algo por alguma via, por algum recurso.
Temos a articulação das palavras, por meio das consoantes, usamos a língua, os lábios, ou qualquer outro som auxiliar às vogais das palavras para articular o que falamos, porém, em suma, esse trabalho é principalmente da língua.
Uma pessoa que não articulasse as palavras que fala seria como um fanho a falar, alguém que não pode ser plenamente compreendido, a articulação tem como objetivo tornar mais claro e mais explícito, mais distinto aquilo que falamos.
O Som Acontece mais no Saxofonista do que no Saxofone
Quando iniciamos no saxofone temos uma vaga idéia de como é produzido o som desse instrumento, e uma das ilusões que temos ao começar é que o saxofone é um instrumento que funciona de forma automática.
Por automático quero dizer, um instrumento que faz todo o trabalho para nós, o que de fato não é verdadeiro no saxofone, o saxofone precisa de um auxílio tremendo do saxofonista em vários sentidos para produzir o som.
Chego a dizer que o saxofone e o saxofonista são de fato o instrumento, e não o saxofone sozinho, pois um sax sozinho nada produz, e o som do sax está muito distante de começar pela boquilha quando o ar vibra a palheta.
O som do sax acontece muito mais no saxofonista do que no saxofone, de forma que pouco adianta ter o melhor saxofone do mundo, se o saxofonista não o ajudar em nenhum sentido.
A Participação do Saxofonista no Som
A idéia que temos inicialmente é exatamente aquela, que basta colocar a boca, assoprar de qualquer jeito, e mexer os dedos que, pronto, o som sai e é perfeitamente adequado ao que estamos esperando.
Ledo engano, o buraco é muito mais embaixo nessa jogada, ou seja, as coisas não são tão simples quanto parecem, principalmente quando o assunto é saxofone, um instrumento enigmático e melindroso, porém, mágico e enfeitiçante.
O som do sax é produzido pelo saxofonista, construído por ele, é muito diferente do som de um teclado, de um piano, que já vem pronto, o saxofonista tem de construí-lo e nesse processo de construção o som vai muito além de assoprar e mexer os dedos.
A Importância da Articulação no Saxofone
Um dos fatores que engloba essa construção do som do sax, que é um processo amplo e abrangente, é a articulação, precisamos articular os sons do sax, as notas musicais não se produzem por si mesmas, precisam ser articuladas para uma maior clareza musical.
Tocar saxofone sem articulação nenhuma reduz o saxofone a um instrumento que se manifesta num cansativo e inexpressivo legato constante. Imagine querer produzir uma música num estilo qualquer como o baião num constante legato, será tudo menos baião.
Logo é preciso separar as notas musicais, e para tanto há diversas formas de separação que nos são oferecidas. Precisamos compreendê-las, pelo menos neste momento, as suas principais, para poder nos expressar minimamente bem neste instrumento.
Não há nada mais incômodo do que um saxofone sem articulação, sem estilo, sem expressão, sem clareza do que faz, um saxofone fanho, tocando constantemente como um violino com arco, como se tudo na música se expressasse unicamente dessa maneira.
Os Principais Tipos de Articulação
A riqueza do que pode ser expresso numa articulação é algo de inimaginável, há estilos musicais como o Jazz por exemplo, entre inúmeros outros, que sequer podem ser pensados sem uma articulação específica que lhes é característica, é preciso aprender a articular.
Em suma, articular é separar, e no saxofone o trabalho de separação das notas é, não unicamente, mas primordialmente feito com a língua, é preciso saber usar a língua e trabalhar a língua no saxofone.
Falemos primordialmente neste artigo de alguns tipos de articulação muitíssimo usados no saxofone, que precisam ser elucidados aqui para que possamos, por meio deles, construir nosso fraseado de forma coerente no sax.
São as principais articulações a ligadura, a ausência de articulação, o tenuto, o staccato (três tipos), o símbolo de acentuação curta, o martelato e o marcato. Vamos assim aos símbolos por meio dos quais estas formas de articular se manifestam na música e como devem ser executadas.
A Ligadura
Significa exatamente isso que o seu nome diz, ou seja, que ligamos todas as notas, tocamos as mesmas sem nenhuma espécie de mediação, interrupção, com a mesma embocadura do começo ao fim da frase e a mesma coluna de ar, apenas movimentando a digitação.
Notas Sem Articulação Nenhuma (Du suave)
Toca-se o tempo pleno da nota, porém, no caso de notas consecutivas (sejam iguais ou diferentes), separa-se as mesmas com uma articulação bem leve e sutil, embora presente, um toque de língua na palheta apenas para separar uma nota da outra.
Neste tipo de articulação mantemos também a mesma embocadura, sem alterá-la entre a passagem das notas, e também mantemos a coluna de ar, vindo somente a separar as notas por um levíssimo e sutil toque de língua.
O Tenuto (Du suave e longo, com realce)
O valor exato da nota ou ainda um pouco mais prolongado, a palavra tenuto vem de manter, sustentar, segurar. Alguns acreditam que é necessário pesar um pouco mais nesta nota, trazer-lhe um realce, outros não acreditam ser isso necessário.
O Staccato Simples (Dot suave e curto)
É também chamado de ponto de diminuição, porque diminuí o valor da nota. Assim como há o ponto de aumento que resta do lado da nota em questão, há o ponto de diminuição que permanece acima ou abaixo da nota mesma.
A palavra staccato vem de separado, ou ainda em francês, détaché, o que se destaca, se separa, ou ainda, não está colado às notas, nem anterior nem posterior, ou seja, destacado das mesmas, isolado.
O staccato simples é tocado com mais ou menos metade do valor da nota à qual ele pertence, ou seja, soamos a nota normalmente, sem acento, e cortamos o seu valor temporal, a sua duração pela metade, sendo o resto de sua duração expresso pelo silêncio.
O Staccato Secco (Dot suave e bem curto)
É também chamado de staccato grande, porque é uma grande diminuição da nota, ou seja, a nota, temporalmente, é dividida em quatro quartos, e sua duração é dada a apenas o primeiro deles, quanto aos demais três quartos finais, resta o silêncio.
O Staccato Misto (Dot suave)
Este staccato é uma mistura de tenuto e staccato, ou seja, a nota é dividida em quatro quartos, o som da nota perdura por três quartos, e o último quarto da nota é dado a um silêncio que as separa umas das outras.
O Marcato (Tam como um sino)
É uma acentuação da nota, coisa que não acontece no staccato, que perde a força em seguida, a nota começa bem acentuada, e depois esse acento é tirado de maneira sutil. Esta articulação é feita pelo golpe de língua em conjunto com a ênfase na coluna de ar.
É um sinal de intensidade, indica que a nota deve ser produzida de maneira mais intensa do que as outras, ou seja, audivelmente deverá ser destacada das outras notas não acentuadas, por consequência poderá ser chamada de acento.
Símbolo de Acentuação Curta (Ta curtíssimo)
É um símbolo que indica uma mistura entre o staccato e o martelato, ou seja, é um staccato que possui uma acentuação, apesar de ser curto, coisa que não acontecia no staccato simples, e nem em nenhum dos tipos de staccato.
O Martelato (Tah firme)
Um acento muito forte, como a batida de um martelo.
É interessante de se notar que o conceito de cada um dessas articulações possui um certo grau de subjetividade. É preciso ouvir vários instrumentistas fazerem essas articulações para que possamos tirar nossa conclusão a respeito de como elas são feitas.
As sílabas usadas para exemplificar também são um tanto quanto subjetivas, vêm mais para ilustrar de uma forma um pouco mais clara a respeito do que estamos falando quando nos referimos a cada uma das articulações acima.
Em tudo na música é preciso ouvir, imitar, absorver, processar e produzir a nosso modo, fazendo assim conseguiremos, certamente, alcançar uma execução de excelência.
Um bom exercício será associar os estudos dos Ebooks 2 e 3 com algumas das articulações acima, certamente isso nos trará uma expertise em articulação sobremaneira, associados a um metrônomo, com pulsação cada vez mais rápida, nos trará grande agilidade.
Daniel Vissotto