Para sabermos como saber a tonalidade de uma música precisamos saber para que serve essa informação.
Para que Serve?
Quando vamos tirar uma música de ouvido no saxofone, cada nota que virá pode estar dentro de um leque de doze notas (as doze notas da escala cromática).
De forma que, matematicamente, cada nota que adentra terá doze opções para ser identificada, o que tornará essa tarefa extremamente difícil.
Embora seja possível, a dificuldade de se tirar uma música sem saber sua tonalidade é muito grande, além de não ser um trabalho inteligente.
Imagine adivinhar uma frase que tem doze opções para cada nota, ou seja, a dificuldade é constantemente multiplicada por doze de forma que o resultado de possibilidades finais é muito violento.
Daí a admiração de muitos que entendem tirar música de ouvido como uma arte para iluminados, uma habilidade impossível.
Porém, em hipótese nenhuma é assim que as pessoas pensam quando estão tirando uma música de ouvido.
O que de Fato Acontece
O que de fato acontece é que essas pessoas têm diante de si a informação da tonalidade, o que facilita em muito a identificação do que acontece numa música.
Com a informação da tonalidade, se reduz em muito a possibilidade de identificação de cada nota de uma melodia.
Todas as notas, e não só uma delas, ficam reduzidas a sete notas, e não infinitas. De forma que o grau de facilidade aumenta e muito.
O mesmo ocorre com a parte harmônica que é reduzida de uma infinidade de acordes possíveis em todos os doze tons, a apenas sete acordes do campo harmônico.
Muitos poderão argumentar que uma música pode ter notas fora da escala da tonalidade, e também acordes fora do campo harmônico.
Sim, pode, porém, serão exceções, isso se a música se comporta tradicionalmente dentro do sistema tonal, como é o caso de noventa por cento das músicas.
Reduzindo de infinitas possibilidades de notas para sete notas possíveis, e de infinitos acordes para apenas sete acordes, as coisas se tornam muito mais fáceis para quem está tirando a música em questão.
Essa é, sem dúvida nenhuma a mais importante função de se saber a tonalidade de uma música, embora hajam outras.
Outras Funções
Ler Partitura
Por exemplo, saber em qual tonalidade a música se assenta, é importante para que possamos ler a partitura, tanto harmônica quanto melodicamente, saberemos dos acidentes que estarão dispostos nessa música.
Interpretar Melodias
Por detrás de toda música tem uma tonalidade, quando vamos interpretar uma música e a enriquecemos com floreios e variações melódicas estamos obedecendo essa tonalidade.
Improvisar
Quando vamos improvisar numa música estaremos em noventa por cento do tempo, dependendo da música em questão obedecendo a uma tonalidade.
Estas são apenas algumas das funções para as quais saber a tonalidade de uma música nos ajuda a cumprir com as demais tarefas musicais que temos pela frente.
Porém, a pergunta que se faz é como saber a tonalidade de uma música?
Pela Própria Partitura
A tonalidade de uma música pode ser em primeiro plano identificada pela partitura, caso você esteja tocando uma música com uma partitura diante de si.
Toda partitura possui uma armadura de clave. São os acidentes dispostos entre a clave e a fórmula de compasso, logo no início da escrita musical.
Se você conhece as escalas a partir dos acidentes você terá condições de identificar as tonalidades, há um fator a ser considerado, cada armadura de clave possui duas escalas principais no sistema tonal.
A escala chamada de maior (jônico) e a escala menor (eólio). A primeiro começa pela nota raiz da tonalidade, e a segunda, a relativa da primeira, vai começar pelo sexto grau dessa escala maior.
Por exemplo, no caso de C maior, teremos como sexto grau A. Isso nos diz que a armadura de clave de C maior carrega consigo a possibilidade de se ter uma tonalidade de C maior ou A menor.
Como saber se estamos em C maior ou A menor, sua relativa. É preciso identificar as notas de repouso das frases, notas finais de períodos.
Geralmente elas serão C no caso de C maior, ou ainda notas pertencentes ao acorde de C maior, como por exemplo E, e G.
Ou ainda estas notas poderão ser A no caso de A menor, ou notas pertencentes ao acorde de A menor, como por exemplo C e E.
Temos aqui indícios muito fortes, quase decisivos de como definir uma tonalidade, na música dentro do sistema tonal.
Nota por Nota
Outra possibilidade é você ir identificando nota por nota de uma melodia com o sax. Fazendo isso você terá uma somatória de notas predominantemente pertencentes a uma escala específica.
Novamente é preciso frisar que é preciso conhecer todos os tons maiores e menores para poder identificar qual é essa escala em questão.
Sobreposição de Escala
Ainda de uma outra forma, podemos, enquanto a música estiver soando, tocar aleatoriamente as escalas dos doze tons, procurando aproximar as notas das notas que escutamos.
Quando a escala começar a soar consonante com a música, independente de quais sejam as notas tocadas, teremos uma possibilidade muito clara de ter identificado a tonalidade.
Identificar Pontos de Repouso
Toda música tem notas de repouso, e acordes que preenchem essas notas. A tom de uma música funciona como um sistema gravitacional em torno do qual a música gira.
Sendo assim, temos que tudo na música é atraído por essa nota do tom, ou pelo acorde da qual ela é formada.
No nosso caso acima citado, se a música está em C maior, tudo será atraído pela nota C, ou ainda E, ou ainda G, que são as principais notas do acorde de C maior (a tríade).
Dessa maneira, não importando como a música caminhe, certamente ela será atraída em algum momento para resolver nesse acorde, o acorde raiz da tonalidade, a nota raiz do tom.
Basta que consigamos aos poucos, acompanhando a música que está sendo executada, identifiquemos pontos de repouso da melodia, ou ainda de resolução.
Estes pontos de repouso ou resolução certamente serão acusatórios do tom em que a música em questão habita.
Acordes e Notas de Fim de Frase
Geralmente são notas e acordes de fim de frase, fim de período, fim de música, quando a música se resolve trazendo uma sensação de resolução.
É importante de se notar que no sistema tonal todas as músicas obedecem mais ou menos a jornada do herói.
A música como uma história, que parte de uma origem e, depois de uma aventura, retorna a essa origem, como que confirmando quem é e de onde veio.
Essa origem, é a tonalidade da música em questão, daí o fato de que sempre que a música se resolve, sempre que ela conclui uma etapa, ela faz menção dessa origem.
Pelo Campo Harmônico
Sem dúvida alguma a maneira mais decisiva de se identificar a tonalidade de uma música é por meio do conhecimento do campo harmônico predominante dentro dela.
Se você tiver conhecimento harmônico e souber também qual o campo harmônico das escalas maiores e menores, o trabalho estará muito fácil pra você.
Basta saber quais são os acordes da música e qual o campo harmônico predominante ao qual ela está obedecendo, dessa forma você terá não uma pista, mas uma resposta definitiva de qual a tonalidade da música em questão.
Tonalidade versus Tom
É importante diferenciar a tonalidade do tom. O tom é composto pela nota raiz em torno da qual gira a tonalidade, a tonalidade já é composta pela escala mãe e também os acordes e campo harmônico dessa escala.
Há pessoas que desenvolvem rapidamente a capacidade de identificar o tom de uma música, uma vez identificada a tonalidade, fica infinitamente mais fácil tirar uma música de ouvido.
Daí a facilidade desses que possuem essa aptidão. A música não é aleatória, não é um bando de notas jogadas a esmo, mas um conglomerado de estruturas previamente estabelecidas.
E adentrar numa tonalidade, nos permite abandonar inúmeras possibilidades que não seriam compatíveis com ela, de forma que possamos soar em conformidade com essa raiz.
É importante enriquecer uma música com escalas e alterações que possam transcender uma tonalidade, sim, porém, noventa por cento das músicas como as conhecemos estão dentro desse parâmetro.
O e-book Escalas Maiores e Menores para Sax – A base para você soar bem possui todas as vinte e quatro tonalidades, sejam elas maiores ou menores.
Mais do que isso, expressa por escrito todos os principais tipos de escalas menores (natural, melódica e harmônica), com exercícios e frases para o pleno domínio das mesmas.
É preciso ter uma base musical satisfatória para podermos abarcar as demais escalas, ninguém consegue tocar no sistema tonal sem conhecer antes as escalas maiores e menores.
Vale a pena conferir o trabalho realizado nesta peça, o e-book foi construído sob a experiência de trinta anos de saxofone e mais de dez anos dando aulas de sax.
Daniel Vissotto