Muitos alunos têm feito perguntas a respeito de palhetas, qual numeração usar, como combiná-las com as boquilhas, como escolher a palheta ideal, como usar o meu setup nesse sentido nas diferentes situações do dia a dia.
Podemos dividir as palhetas em dois grandes ramos, que seriam as palhetas de cana e as palhetas sintéticas. As palhetas de cana são as tradicionais palhetas de bambu, as sintéticas, são palhetas feitas com combinação de alguma liga plástica com bambu, ou uma liga plástica pura e simplesmente.
As palhetas, antes de mais nada, têm uma variabilidade grande, ainda que na mesma numeração modelo e marca, o que faz com que, em algum sentido, corramos o risco de gastar dinheiro à toa na compra de uma palheta. Todas as palhetas, independente de serem sintéticas ou de cana, sofrem essa contingência que não podemos prever. Algumas vêm surdas, outras vêm mais leves, outras mais duras, outras mais estridentes etc.
Qual a vantagem de se utilizar uma palheta de cana? Bem, primeiro de tudo, a palheta de cana é mais barata, embora tenha uma durabilidade muito menor, caso venha surda, ou não seja a palheta mais ideal para você, você não corre o risco de perder muito dinheiro. Já as palhetas sintéticas, têm uma durabilidade muito maior, um som mais estável, porém, nunca se sabe se vamos acertar em termos da palheta e corremos o risco de gastar muito dinheiro com algo que não vai ter retorno.
Num geral a palheta de cana tem a tendência de ter uma sonoridade mais orgânica, mais estável, com um agudo extremamente equilibrado. Porém, como disse, elas têm menor durabilidade, começam resistentes, atingem um clímax que não dura muito, e depois entram para a degradação.
Na outra mão temos a palheta sintética, que tem uma sonoridade mais artificial, em certo sentido (na minha opinião), com um agudo mais estridente, e graves mais fáceis. Ela é muitíssimo mais estável, e poder durar, dependendo do uso, muitos e muitos meses.
A numeração é mais ou menos a mesma de marca para marca, para que se saiba qual a numeração equivalente entre as marcas, existem as inúmeras listas na internet, basta fazer uma pequena pesquisa sobre tabelas comparativas de marcas de palhetas para saxofone, então teremos uma comparação média entre as marcas e suas numerações equivalentes.
Aconselho sempre a meus alunos que comecem com uma palheta número 1,5 ou 2, para começar, mas que não deixem de testar pelo menos três numerações diferentes, de uma mesma marca, ao mesmo tempo, para que possam encontrar a numeração mais cabível para o seu momento musical. Aquela na qual você sentir mais facilidade, e um timbre mais agradável, deve ser a numeração escolhida.
Sim, a numeração das palhetas altera o timbre da sonoridade do sax. Há instrumentistas que optam por palhetas extremamente duras, não por conta do peso, mas por conta do timbre, assim encontram uma sonoridade mais própria para si mesmos, dentro do gosto de cada um. Porém, isso é para quem já tem embocadura formada, um profissional, por exemplo, um iniciante, deve pensar em primeiro passo na numeração e na facilidade de extrair som em todas as regiões do sax.
Vendo bem de perto, todo este assunto requer um toque de gosto, de personalidade, de escolha pessoal, o que de fato, é diferente para cada um, e também em cada momento da trajetória musical do músico, de forma que é impossível que eu chegue aqui e diga, use esta palheta, esta numeração, com esta boquilha específica e vai dar certo. Isso é mito, se alguém falar assim, está falando o que desconhece.
De forma geral as boquilhas mais fechadas, exigem palhetas mais leves, e as boquilhas mais abertas, palhetas mais pesadas. Para saber se sua boquilha é fechada ou aberta, também há listas de comparação pela internet das diferentes marcas, basta uma pequena pesquisa e encontrará em abundância.
Uma coisa que é mito, é que o músico deve ir aumentando a numeração da palheta e da boquilha conforme vai ficando “mais profissional” o seu som, isso é um engano monstruoso, que faz com que as pessoas encontrem uma obrigação inexistente de tocar com palhetas mais pesadas e boquilhas mais abertas sem nenhum motivo aparente para tanto.
A melhor boquilha e a melhor palheta, sempre será aquela que lhe agrada, tanto em termos de peso, resposta, facilidade em todos as regiões do sax, e principalmente, para os mais avançados, o timbre, coisa que os mais iniciantes ainda não têm condições de perceber.
O que importa é que façamos a coisa com critério, e não fiquemos pulando de galho em galho sem motivo nenhum. Testemos uma marca específica, diferentes numerações, por um determinado tempo suficiente para termos uma opinião concreta sobre o que estamos fazendo. Não devemos procurar mudar de palheta assim que a novidade surge, pois isso faz com que não consigamos desenvolver nossa sonoridade em momento algum.
Para que tenham uma idéia eu, Daniel Vissotto, uso a mesma boquilha, e a mesma palheta (numeração, marca e modelo) há mais de dez anos, e ainda acho que não tenho porque mudar. Pois só terei condições de encontrar meu som, minha voz, no sax dessa forma, e desenvolvê-lo ao nível que desejo, dessa maneira.
Creio que este texto pode ajudar a muitos em relação às questões que me têm sido levantadas.
Daniel Vissotto