A intuição e o sax sempre andarão juntos, embora muitos não entendam o porquê disso, e nem cultivem a sua presença no mundo musical. O papel da intuição no saxofone e na música é tudo, e acima de tudo é algo a ser pensado.
Hoje em dia está em voga dizer que tudo é técnica, que tudo é entender, praticar e pronto, está feito, o serviço foi feito. Ora, de fato as coisas não são assim, é preciso que alguém se levante para afirmar a verdade.
O que temos é que, às vezes, nesse contexto, as pessoas começam a se tornar extremamente racionais, e começam a querer compreender o incompreensível, abarcar o inatingível, e explicar o inexplicável.
A Característica Investigativa do Ocidente
A civilização ocidental, com sua característica investigativa e científica quer achar causas eficientes para tudo, porém, nem sempre foi assim. É uma tolice pensar que há explicação pra tudo.
Antes do berço da ciência estar entre nós, a saber, o raciocínio grego do século V antes de Cristo, a humanidade era extremamente intuitiva, e continua sendo, embora muitos reprimam esse sentimento humano.
Talvez uma das coisas que nos deixa atrás em certo sentido da civilização oriental é a capacidade de intuir que essa civilização tem e que, muitas das vezes, nós abortamos por falta de consciência da importância desse fator.
Sim, são inegáveis as conquistas da ciência, na busca de causas eficientes para explicar a natureza pela natureza, o que sempre foi e será importante para a humanidade, o obscurantismo deu lugar à luz em muitos aspectos.
Não obstante a própria ciência explique as mesmas coisas de formas diferentes, e não seja conclusiva em si mesma, houve avanços e podemos lidar com o mundo de uma maneira melhor, em algum sentido.
Embora a humanidade continue sendo a mesma de sempre, e independente do contexto em que se enquadre, continue se expressando com os mesmos limites, o que é polêmico, mas minha opinião.
O que Havia Antes do Espírito Científico
Antes desse espírito científico, o que tínhamos é uma intuição em meio à humanidade, e nem por isso as coisas eram deixadas de serem feitas, o homem vivia em normalidade.
A questão das causas eficientes, o porquê disto vir daquilo, e o porquê daquilo vir daquele outro, isso foi construído em meio a nós, de forma que não é algo dado, é algo que nos acostumamos a pensar.
Porém, quando o homem se depara com uma coisa tão impalpável como a música, uma arte que não pode ser concebida senão em meio a mundos paralelos e internos a intuição não pode ser abortada.
É notório como dizem por toda a parte: não é dom, é técnica, não é talento é aprendizado. Pois bem, o que defendo aqui é que é talento sim, é dom sim, é intuição mesmo.
E mais, defendo que isso deve ser cultivado e desenvolvido pelo saxofonista, e pelo artista de uma forma geral em todos os sentidos, e não abortado.
O meu pensamento é que talento se desenvolve, se aprende, e talento é fruto exclusivo de intuição, e isso é sim a música, e não um raciocínio lógico e explícito que podemos compreender e reproduzir pura e simplesmente como uma máquina de fazer pão.
O Papel da Racionalidade no Musical
A música não é um raciocínio matemático, é nisso que eu quero chegar, a matemática, a teoria, a racionalidade na música é um detalhe que vem para ajudar a todos nós a conseguir conquistar a intuição.
A verdade é que música é intuição e não raciocínio, o objetivo final de um músico é intuir, e intuição aqui entendida sim como aquilo que fazemos como correto sem saber exatamente o porquê de estarmos fazendo assim.
Tenho alunos que são extremamente racionais, e querem razão para tudo na música, querem saber até mesmo o porquê exato de tal nota ser dissonante em relação a outra e consonante em relação a outra ainda.
Sim, há algumas explicações para tudo isso, porém, no fundo, no fundo, o que temos na música é de intuir, não é a quantidade de Hertz que vai explicar o porquê de uma nota nos tocar musicalmente, mas o sentimento intuitivo de um insight em meio a uma execução musical.
O que quero dizer é que a explicação racional não abarca esse insight musical, esse sentimento do sublime que excede a todo entendimento. E mais, quero dizer que esse sentimento na música é muitíssimo maior do que qualquer momento qua a racionalidade possa abarcar.
Uma partitura jamais expressará em sua matemática o sublime de uma peça musical, há momentos e não são poucos, sendo até mesmo os momentos mais comuns da música, em que o racional falha e a música continua.
Onde Está de Fato a Intuição na Música
O que há para lá dessa linha divisória não é técnica, não é teorização, não é racionalidade, é pura, mas pura intuição, e esse universo além desse limite é muitíssimo maior do que há antes dele.
A racionalidade não dá conta da música, é um erro pensar que a música se aprende por teoria pura e simples, aperte aqui, faça isso e aquilo e pronto, a música acontecerá.
Não, a música é pura intuição, a racionalidade entra nesse universo não para substituí-lo, mas para ajudar a executá-lo como ele é de fato, a saber, intuitivo.
Seria como na história budista na qual temos de atravessar um rio, e encontramos à suas margens uma canoa. Ora, não devemos atravessar com a canoa e continuar levando a mesma para a outra margem em diante.
Atravessamos e abandonamos a canoa do outro lado do rio, não há porque levá-la nas costas. Essa canoa é a racionalidade musical, precisa sim ser usada, pensada, raciocinada, porém, é um instrumento que nos leva a um ponto tal a partir do qual não há mais nada senão intuição.
Há alunos que se assustam quando falo: intua, use a intuição para tocar, toque pela intuição, e crie uma frase musical. Estão tão acostumados à racionalização que querem motivo pra tudo.
Não, não há motivo pra tudo na música, por mais que criemos teorias, termos, conceitos, e sistemas lógicos, a verdade sempre será que a música é intuitiva e deve ser aprendida como tal.
O Papel de Um Professor de Sax
Sim, o papel de um professor é explicar, e de preferência, explicar de maneira que se possa compreender o que é o musical, e para que essa explicação faça sentido ela deve sim ser racional.
No entanto, isso é um impulso, uma ignição, para que o aluno possa, por si mesmo encontrar o próprio caminho e venha assim a desenvolver a própria intuição por meio da qual, sim, ele se norteará.
A verdade é que a intuição se desenvolve. Não percorremos um caminho pelo caminho, percorremos o caminho pelo fim ao qual ele se destina, se a racionalidade é o caminho na música, a intuição é o fim.
É necessário para o músico saxofonista ou de qualquer instrumento que seja, desenvolver a intuição a capacidade de afirmar coisas sem saber porque está afirmando.
Há três grandes fontes do conhecimento no ocidente. A dedução, ou seja, “todos os homens são mortais, Sócrates é homem, e portanto Sócrates é mortal”. A indução, saio de casa, e está molhado, logo, choveu (um raciocínio sem intermediário, direto). E também a revelação.
Um Paralelo Entre a Música e a Revelação Divina
O que seria a revelação, aquilo que se dá por inspiração divina, sem que o inspirado saiba exatamente o porquê de que faz o que faz.
O músico, antes de um teórico, a música, antes de uma racionalidade, é feita de intuição, e precisa ser encarada como tal, é preciso desenvolver esse lado intuitivo abortado ou ainda reprimido em nós.
A intuição, o talento, o dom, se desenvolve, é certo que nem tudo o que é feito por intuição surtirá o efeito desejado, porém, aos poucos, vamos aprendendo a intuir, a afirmar, a profetizar na música por revelação.
Se não temos esse lado intuitivo na música, a música se resume a uma técnica, aperte aqui, solte ali, friccione acolá e pronto, com tantos e tantos Hertz a coisa de certo acontece. De fato, não é assim.
É preciso ensinar que o músico deve intuir, é preciso cultivar a intuição, é preciso desenvolver o ato de intuir na música, de fazer sem saber por que fazemos, porém, fazer ainda assim.
Conheça o meu trabalho musical, meus ebooks, minhas aulas, meus cursos, certamente você terá espaço para intuir e raciocinar, de maneira que tudo possa, no mundo da música e do sax, ser aproveitado.
Daniel Vissotto