Você sabe ler e escrever, percebe a facilidade que isso traz na sua vida? Por que na música a coisa seria diferente?
A grande diferença entre a música ocidental e a música oriental é que a música oriental não possui uma notação universal padronizada para todos os instrumentos e todos os músicos. Lá se aprende por tradição, e os conhecimentos são passados diretamente do mestre para o discípulo.
Já a civilização ocidental, com sua mentalidade científica, e também voltada para a abstração da natureza em linguagem matemática, conseguiu padronizar uma forma de notação musical para todos os instrumentos, e também todos os músicos, de forma que todos os que conhecem essa notação, independente de qual instrumento toquem, sendo músicos, falarão a mesma língua.
Há motivos para que essa notação seja como é, ela foi desenvolvida aos poucos, e com o acréscimo de detalhes, foi sendo padronizada da maneira mais fácil (acreditem, não veio para confundir e nem para dificultar, mas para facilitar) possível para que os músicos pudessem ter o máximo de expressão musical por meio do mínimo de símbolos e convenções.
Nos vídeos que passo, faço uso daquilo que chamo de “notação fácil”, a famosa “colinha” das notas, ou seja, explicitar, além pauta, o nome das notas para que os músicos iniciantes, e quando falo iniciantes, falo aqueles que estão começando mesmo, que nada ou quase nada sabem sobre o saxofone, possam acompanhar em algum sentido o que está sendo dito.
Porém, é evidente que todos nós, se queremos ter desenvolvimento no saxofone, e em qualquer instrumento musical, devemos abandonar esse recurso, pois ele vicia, e num futuro próximo certamente, se cultivado sem freios, causará sérias dificuldades de leitura para todos. Utilizar-se dele sim, para quem não tem recursos para acompanhar as músicas, mas logo que possível, forçar, e a palavra é forçar mesmo, o abandono desse recurso e começar a ler as notas na pauta mesmo, pois sem isso estaremos fadados a uma limitação muito intensa.
A notação musical correta, como definida pela música ocidental, é o que permite aos músicos se situarem numa música quando tocam com um playback ou ainda, e principalmente, em conjunto; é o que permite aos músicos tirarem uma música do nada, sem a conhecer, e ainda assim conseguir tocá-la sem embaraço; é o que permite os músicos tocarem arranjos de primeira vista e conseguirem dar conta dos desejos de um produtor num momento de gravação.
É o que permite ao músico registrar suas memórias musicais, de forma que só temos acesso às músicas dos grandes mestres por meio de notações que foram feitas, e posteriormente por meio de suas gravações (que são um recurso mais recente); é o que permite ao músico entender, racionalizar e controlar sua execução musical de forma a conseguir, depois disso, se soltar e alcançar grande capacidade de expressividade.
A notação musical correta sem dúvida nenhuma é o que permite aos músicos não dependerem uns dos outros, e nem da capacidade de sua memória, no sentido de poder falar uma linguagem universal, e estar em qualquer lugar, em qualquer grupo, e conseguir, ainda assim, entender os demais, independente de tudo, além de uma série infinita de outras facilidades.
Não seja um músico analfabeto, passe a forçar o entendimento da música através da pauta, e das figuras rítmicas, e demais convenções da notação correta da música ocidental, isso facilitará em muito sua conquista na música como um todo. Aos poucos abandone, de vez, a famosa “colinha”, que é para iniciantes próximos do zero, e não para músicos que já estão experimentados, precisamos aprender a ler e escrever na vida, isso nos dá uma facilidade incrível em todos os aspectos, na música não é diferente.
Acima de tudo, é preciso aprender a ler, todos devemos nos esforçar por isso. Fazendo assim conseguiremos evoluir em todos os sentidos na música, pois esta é uma chave (não a única) fundamental para nosso desenvolvimento.
Daniel Vissotto