A Harmonia para o Saxofonista

Muitos saxofonistas, mesmo depois de muito tempo de estudo não dominam o conceito de harmonia, por isso escrevo este artigo, que tenta explicar de maneira simples e clara a harmonia para o saxofonista, conceito de suma importância para a expertise musical.

A música é uma trama, e há elementos que formam essa trama, dentro desses elementos, temos os três grandes representantes do que é a trama musical, a saber, a melodia, o ritmo e a harmonia.

A Melodia

A melodia é o reino da sucessividade, um som depois do outro, uma horizontalidade de sons afinados que se sucedem um ao outro numa linha do tempo, uma nota após a outra, assim se dá o que é melódico, de forma que temos como exemplo de instrumentos melódicos o próprio sax, a flauta, o oboé entre inúmeros outros.

a flauta assim como o saxofone um instrumento melódico
Um Instrumento Melódico

O Ritmo

O ritmo é formado por batidas, notas não afinadas, que se dão simultaneamente ou sucessivamente. Simultâneas no sentido de acontecerem ao mesmo tempo, e sucessivas, como vimos, no sentido de se apresentarem uma depois da outra, o ritmo pode ser, sob este aspecto, dos dois jeitos.

Porém, no ritmo as notas não são afinadas, embora haja uma nota musical afinada num tom de uma bateria, não é a nota que interessa ao músico, mas a pulsação, a batida, o ritmo, de forma que essa preocupação com afinação não é de mesma natureza da afinação de um instrumento musical como o saxofone ou o piano.

São instrumentos rítmicos aqueles que não se preocupam diretamente com a afinação das notas, mas com a batida das mesmas, como por exemplo a bateria, a conga etc. Embora haja notas musicais nesses instrumentos, elas não são o fundamento do que eles estão fazendo, e sim o ritmo em si mesmo.

O bongo é um instrumento rítmico
Instrumentos Rítmicos

Aqui vale ressaltar que o ritmo está presente na melodia, pois as notas que se dão sucessivamente no tempo se apresentam segundo um ritmo definido, sem o qual a melodia não faz sentido, há quem diga que o ritmo é mais importante do que a melodia em si, pois o lugar da nota seria mais importante do que sua afinação.

Embora a melodia dê sentido a quase tudo na trama musical, pois dela vem toda a concepção de uma música, ela não está sozinha, e há também a harmonia musical, um conceito mais abstrato e de mais difícil compreensão do que a melodia e o ritmo.

A Harmonia

O que seria essa harmonia? Harmonizar vem de sons que se harmonizam em conjunto, que tocam de forma harmoniosa juntos uns com os outros. De forma que a harmonia já seria o reino da simultaneidade, no sentido de tudo se dar conjuntamente ao mesmo tempo, como por exemplo as notas de um piano, de um violão, de um quarteto de sax etc.

O piano como o instrumento harmônico por excelência
O Piano é Harmônico

O saxofonista é um músico que geralmente não entende de cara o que é a harmonia, pois toca num instrumento melódico, de forma que este conceito para ele exige demais do trabalho de abstrair e entender em sua mente como se daria, daí muitos saxofonistas iniciantes sequer saberem que este conceito existe na música, e se aterem a aprender somente a melodia, o que é algo que nos limita demais em todos os sentidos.

A História da Humanidade

Há um motivo para isso também, se formos pesquisar a história, temos que o ritmo desde sempre esteve com a humanidade, nos rituais primitivos religiosos ou não, em todos os sentidos, a humanidade sempre fez uso das batidas, seja para alcançar um êxtase, seja para comemorar algo, seja lá para qual motivo social ou individual.

Isso se vê muito nas culturas primitivas como os sinais arqueológicos dos homens das cavernas, ou ainda, mais recentemente, em culturas muito preservadas historicamente, como a dos índios brasileiros, os aborígenes australianos, alguns povos africanos etc. O que de forma nenhuma os coloca de forma pejorativa diante daqueles que se entregam às tendências históricas mais recentes, mas sim num patamar de diferença própria de cada um.

De certa forma o que é difícil de entender para os saxofonistas e os músicos de instrumentos melódicos em geral é o fato de que há uma regra interna dos sons simultâneos tocados em conjunto, aquilo que chamamos de verticalidade dos sons, não é um algo aleatório que os comanda.

Desde sessenta mil anos antes de Cristo, segundo a arqueologia, já há desenhos de homens tocando flautas de osso nas cavernas, há também um espécime dessas flautas encontrado na Alemanha, em Hohle Fels, que data de trinta e cinco mil anos atrás, um dos primeiros instrumentos melódicos datados pela humanidade.

Já o conceito de harmonia, por ser mais abstrato e exigir mais imaginação do homem, é um conceito que foi codificado recentemente, tardio em relação ao ritmo e à melodia, foi estruturado por volta do século XVII depois de Cristo, de forma que é muito recente entre nós, e por isso menos conhecido da humanidade.

O que é a Harmonia?

A harmonia indica o que pode e o que não pode ser feito em termos de melodia em meio a uma música, o que é consonante ou não, o que “combina”, harmoniza, em meio a esse contexto ou não, sem a compreensão da harmonia estamos no meio de um vazio e de um escuro musical, a harmonia é a luz que nos permite saber o que fazer quando tocamos nosso instrumento musical.

O ritmo define a organização das coisas numa música, um arranjo sem ritmo é um arranjo que não possui racionalidade organizada, de forma que as coisas numa música só tem um lugar próprio para elas porque há o ritmo, no qual podemos nos basear para nos situar temporalmente em meio a uma música.

A harmonia é o mais intelectivo de todos os três elementos da trama musical. Não é fácil pensar coisas simultâneas, pensar bem numa só coisa já é difícil, imagine pensar em várias coisas simultâneas, isso nos confunde em certo sentido, os desenhos verticais de uma música são para nós coisas muito abstratas, daí a dificuldade de muitos de entender e dominar o conceito de harmonia.

Por isso é tão importante para um saxofonista que ele toque um instrumento complementar harmônico como o piano ou o vilão por exemplo, pois isso lhe trará a possibilidade de visualizar a harmonia na prática, e não apenas num conceito mental abstrato ao qual não teríamos acesso senão por meio de um instrumento complementar.

Frases Musicais não são Gratuitas

Temos que as frases musicais não são gratuitas, não é à toa que as notas estão lá ou não estão, pois o que aparece sempre tem de se harmonizar com a harmonia vigente na música em questão. A interpretação só se dá em sua completude quando conhecemos e trabalhamos a harmonia de uma música, já a improvisação nem se fala, é quase toda ela baseada num conhecimento harmônico.

É preciso conhecer e dominar as regras da harmonia para poder tocar o saxofone em sua plenitude, seja que você esteja tocando sozinho, ou em grupo, a harmonia vai ser importante pra você em todos os sentidos para que você possa soar bem.

O conhecimento harmônico começa com as notas, as escalas, os intervalos, os acordes, o campo harmônico, a função dos acordes, as cadências mais comuns, o conceito de tonalidade, a modulação em meio a isso, notas alheias à harmonia, consonância e dissonância e seus graus de presença, bem como a cifragem musical em todos os sentidos etc.

A importância da harmonia se dá em diversos aspectos da música como um todo, é possível entender o raciocínio do próprio autor de uma música ao produzir a melodia da mesma, quando temos esse conhecimento interpretamos melhor, conseguimos improvisar com destreza, a afinação se dá com maior poder, memorizamos as músicas com maior facilidade e rapidez, criamos frases, improvisos e até músicas, e conseguimos também tocar de ouvido.

O estudo da harmonia tem de ter três aspectos obrigatórios, senão não produzirá o seu efeito na prática musical em si mesma. Tem de ser um estudo teórico, perceptivo e prático. Teórico para que conheçamos como e por quê se dão os motivos da harmonia, perceptivo para que possamos identificar sons com o ouvido e poder confessá-los sem maiores dificuldades ao os ouvir, e prático quando aplicamos todo esse conhecimento ao dia a dia de nossas músicas, enriquecendo-as sobremaneira com o estudo harmônico.

Resumindo, temos que a melodia é a superficialidade da música, a harmonia é a profundidade da mesma, e o ritmo é o que traz a ordem para a musicalidade.

Para os que querem um aprofundamento no que diz respeito ao conhecimento da harmonia e as consequências que isso tem para a interpretação e a improvisação em geral, aconselho aulas diretas com o professor, isso certamente favorecerá a economia de tempo na compreensão deste conceito e de sua importância para a plena execução e expressão musical.

O saxofonista que não conhece harmonia é muito limitado, é preciso, e falo com propriedade de quem tocou por muitos anos o piano, aprender o que é, como funciona, como se identifica e como se aplica a harmonia na música em si mesma, fazendo assim, seremos músicos de primeira qualidade, expressando no estrito senso o que chamamos de magia do sax.

Daniel Vissotto

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