Há a escala mágica?
Muitos cogitam a existência de uma escala mágica que toca tudo, que, se tocada pode abarcar toda a harmonia das músicas e perambular em meio aos acordes de forma a expressá-los sem dificuldade, sem sequer pensamento, podendo assim encontrar por meio dela um grande improviso.
A escala mágica
Vamos direto ao ponto, sem rodeios, sem delongas, a escala mágica não existe. Embora esteja na moda falar de magia, feitiço, mistério e coisas do tipo, a escala mágica é um delírio de quem não conhece música e está querendo aprender pelo lado mais fácil que de fato não conduz a nada.
A escala mágica também pode ser uma mentira de quem está querendo vender cursos ou infoprodutos e sair lucrando sobre a ignorância das pessoas, pois de fato não há como conceber tal coisa, e muito menos como aplicar tal loucura.
Como Improvisa quem Improvisa?
Primeiro de tudo não se improvisa somente por escala, se improvisa também por acordes, arpejando as notas dos mesmos expressando assim sua presença e vigorosidade. De forma que se você improvisar o tempo todo por escalas, seu improviso será sem graça e cansativo.
Chama-se improviso por graus conjuntos o improviso que se faz por escala, ou ainda, improviso horizontal, aquele que não leva em consideração os acordes, e não os expressa por arpejos. No momento que o fazemos não estamos expressando toda a riqueza musical.
Existem alguma coisas que são assentes na música, um improviso tem de ter um início mais simples, e ir trazendo novidades aos poucos, para não se tornar cansativo, agora imagine: um improviso de três minutos com uma só escala o tempo todo, quão cansativo ele seria.
Daí o fato de que precisamos mesclar nossas armas, nosso arcabouço de recursos expressivos e não nos prender somente numa escala para improvisar, primeiro porque para que isso fosse possível a música teria de ser extremamente simples, talvez até mesmo simplória em termos harmônicos; segundo porque uma só escala torna o improviso cansativo para quem ouve.
É Preciso Enriquecer Nossa Música
Sim, quando temos uma música que se concentra somente no campo harmônico, teríamos de fato uma escala (a escala desse campo) que poderia ser aplicada a todos os acordes. Porém, esta música seria uma música simples demais, e o improviso que dela provém, se feito dessa forma por demais simplório.
É preciso enriquecer, a harmonia das músicas em geral não se concentra somente no campo harmônico, há uma série de acordes que entram nas músicas em geral que não pertencem a esse espectro. A exceção é todos os acordes pertencerem ao campo harmônico e não a regra.
Quanto queremos expressar a harmonia de uma música que extravasa o campo harmônico, uma música mais rica em termos de harmonia, precisamos sim saber utilizar várias escalas, e vários arpejos. Sem isso não conseguimos nos expressar bem.
Enriquecer a nossa música
Outra coisa que precisamos é que, baseados na harmonia vigente, consigamos preencher as escalas mais simples com a escala cromática, por exemplo, preencher os arpejos com escalas, e disfarçar as estruturas mais simples com frases musicais propriamente ditas.
Quem não sabre aplicar esse disfarce, certamente terá dificuldades de improvisar musicalmente, e passará a tocar como num exercício, coisa que não empolga a ninguém. Uma constatação que faço aqui é que, nunca, nunca, e nunca numa situação como essa uma só escala “mágica” daria conta do recado.
A musicalidade se faz da permuta, da junção e da mistura de escalas, acordes, e frases já realizadas. Basta pegar o padrão das frases, e ir replicando em outras frases, modificando finalizações, inícios, e acrescentando coisas, ou simplificando.
É Necessário Ouvir
Quem não consegue formar frases precisa urgentemente ouvir o vocabulário do estilo que está tocando, verificar quais são as frases comuns, elas existem, e começar a replicar as mesmas com pequenas variações, permutas, junções e misturas.
Não há como criar frases para um estilo do zero, pura e simplesmente, é preciso entender o vocabulário, assim como não há como aprender japonês sem ouvir muito quem fala de fato o japonês.
Ouvir música é fundamental
Partindo disso temos que a lenda da escala mágica é uma falácia, muitos a identificam com a escala pentatônica, pois a escala pentatônica abarca, em certa medida o campo harmônico de uma música (se ela se concentra somente nele).
Mas como dissemos, se assim for feito, será muito pouco interessante ouvir esse improviso, e mais, ele terá cara de exercícios, além de ser um improviso que se dará em situações muito raras, em músicas muito pouco sofisticadas harmonicamente, o que tornará este músico extremamente limitado em todos os sentidos.
A junção de pentatônicas, tríades, tétrades, escalas fará com certeza com que você consiga se expressar com maior riqueza em meio às músicas, aplicando cada qual no lugar de cada uma, de forma a enriquecer cada vez mais o improviso, criando um interesse cada vez maior de quem ouve.
Dito isto, a idéia de uma escala mágica soa aos ouvidos de quem entende de música como algo tão ingênuo que sequer merece atenção, pois não passa de uma falácia infantil de quem não conhece nada de música.
O Papel das Estruturas Básicas
O que é importante para termos frases musicais num improviso? O conhecimento das estruturas básicas, e o conhecimento do vocabulário de cada estilo. As estruturas básicas se consegue aprender por meio da coleção de sete ebooks VIVAOSAX. Nos quais você faz um tour sobre todas as principais estruturas mais usadas, e se desenvolve em meio a elas de forma a torná-las cada vez mais musicais.
Ebooks VIVAOSAX
Outra fonte é o conhecimento do vocabulário mesmo das músicas e do estilo em questão, que precisa ser feito por transcrições e também por ouvir atentamente, estudando o que se ouve e entendendo aos poucos como as frases são criadas, replicadas, e produzidas com cada vez maior variedade, riqueza e interesse.
Daniel Vissotto
