A Criatividade
Construir a embocadura do saxofone é como construir uma obra de arte.
É importante sim, tentar todas as possibilidades, para que se conheça todas as sonoridades passíveis de serem tocadas.
Muitos tentam adentrar regras intocáveis, as quais não podem ser transgredidas sem o cúmulo de estar sob a condenação e a heresia. Eu porém, particularmente, acredito que a música não possui tais regras. Há sim recomendações, que facilitam sim o percurso de um saxofonista nas suas aventuras e desafios como instrumentista. Há também o caminho mais pisado e mais definido pela maioria dos saxofonistas, porém, não regras, é como penso.
As Possibilidades
Há algumas possibilidades na embocadura. A quantidade de lábios que se põe entre os dentes (e isso varia de pessoa para pessoa, pois o tamanho do lábio de cada um é diferente). A força de pressão que se impõe sobre a boquilha pelo lábio inferior (por conta da presença da mandíbula, que é móvel, ao contrário do dente superior que é fixo). O quantum de boquilha que se introduz dentro da boca, ou fora dela. A lateralidade dos músculos da face, se mais concentrados no centro ou nas laterais entre outros etc. E há também fatores extra embocadura como por exemplo o ar, o formato da cavidade bucal etc.
É importante de se notar que não há por que proibir determinadas práticas, pois o saxofone é um laboratório e nesse laboratório tudo é possível, uma vez que a música soa, uma vez que as notas se produzem de forma clara e distinta, uma vez de que a sonoridade agrada a quem produz e a quem ouve, uma vez que ninguém está se sacrificando ou se machucando, tudo é possível, e reduzir esse mundo de sons por proibições é algo que não leva ao mesmo porto que conduz a criatividade humana, no qual a liberdade é mãe de todas as obras.
Dois Tipos de Embocadura mais Utilizados
Falando em grosso modo há dois tipos de embocadura mais utilizados para saxofone e fora deles há os exageros dos mesmos, que também são passíveis de conhecimento para pesquisa sonora. Um deles seria mais utilizado para música erudita, outro mais para a música popular, e os demais seriam experimentos levados a cabo para quem quer conhecer as sonoridades possíveis do sax, e por que não, utilizá-las?
O apoio de toda embocadura sempre será os dentes frontais de cima, é como recomendo. Como a parte fixa de nossa boca, eles são a âncora de toda produção sonora neste instrumento. A mandíbula é apoio sim, mas não na mesma natureza dos dentes superiores, e sim para as variedades de efeitos sonoros possíveis.
Há duas formas básicas de se posicionar o lábio inferior sobre a embocadura, uma delas é dobrando-o levemente para trás, e cobrindo os dentes inferiores (que evitam encostar na palheta diretamente), numa leve pressão, que não pode ser totalmente relaxada, a ponto de desafinar a nota, e nem apertada a ponto de impedir a vibração da palheta. Esta seria uma forma mais utilizada na música erudita, o que de forma alguma impede que seja utilizada na música popular.
A segunda forma é dobrar levemente o lábio para fora ainda assim manter parte dele sobre o dente inferior, impedindo que os dentes inferiores encostem diretamente na palheta, e produzindo assim um maior controle sobre as sonoridades possíveis do saxofone. Tudo isso com os dentes superiores apoiados diretamente na boquilha. Esta já seria uma forma mais utilizada na música popular.
Ninguém cobre os dentes de cima com seus lábios, e ninguém descobre os dentes de baixo. E há um motivo pra isso, não é uma regra cega, mas sim, pelo fato de que, agindo dessa forma facilita-se a produção sonora.
Outras recomendações que dou é que não se exagere na quantidade de lábios entre os dentes e a boquilha, pois isso produz um som mais tímido, pois impede a vibração da palheta, também não leve a cabo nenhuma presença de lábio inferior, pois isso produzirá um som muito estridente. Quanto à força de pressão do lábio inferior, deve ser suficiente para manter a afinação e ao mesmo tempo permitir a vibração plena da palheta, a ponto de produzir tranquilamente o som.
Outras Práticas Importantes da Embocadura
Já em relação à porção de boquilha dentro da boca ou fora dela, é importante de se notar que quanto mais para dentro, mais estridente, quanto mais pra fora, mais fosco o som. De forma que, para conseguirmos um som mais equilibrado, é importante encontrar um ponto, um pouco antes do centro da boquilha, no ponto em que a palheta encosta na mesma, no qual consigamos produzir um som agradável, isso varia com o experimento de cada um.
É importante que se saiba também que o saxofone não costuma buscar uma lateralidade dos músculos da face muito grande, no mais das vezes se posiciona os músculos com certo relaxamento mas não tanto que permita escapar ar, concentrando-os para o centro da boquilha.
Fundamental é que estudemos diante de um espelho para conhecermos nossos hábitos como instrumentistas, principalmente no que toca à embocadura. O músico inicia com recomendações, e conhece de seu tutor, as práticas mais utilizadas, o que lhe permitem adentrar a esse mundo de forma mais segura, mas nesse laboratório, em que, repito, não há regras, o que podemos fazer é experimentar, brincar, explorar, até encontrar um ponto no qual encontremos a sonoridade que buscamos, e a facilidade para produção da mesma.
Machucar-se e ter Dor não é Normal
Lembrem-se tudo o que machuca e causa dor é algo que não é recomendado, ninguém está no saxofone para se torturar, pelo contrário, o conforto deve ser prioridade, principalmente quando falamos de embocadura. Se você está se machucando ou sentindo dores, pare, reveja o que está fazendo, faça de forma diferente, até encontrar uma sonoridade satisfatória que lhe permita conforto, facilidade, timbre e projeção.
Devemos nos divertir com esse instrumento, devemos explora-lo, experimentá-lo, para tanto devemos também seguir diretrizes básicas que nos permitam adentrar a esse mundo de forma mais segura. Independente disso, é importante saber que o saxofone é nosso amigo, e que como tal, merece nossa dedicação.
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Daniel Vissotto